Da coluna Elio Gaspari, neste domingo (17):
Desde o ano passado o semiárido nordestino atravessa uma
grave seca. Na Bahia, Sergipe, Alagoas e Maranhão, 75% dos municípios estão em
estado de emergência. No Ceará, são 177 em 184. Lá, as chuvas do ano passado
ficaram em metade da média habitual e neste ano estão abaixo do terço (55,1
milímetros contra 161,8). Há 136 municípios dependendo de carros-pipa para
atender perto de um milhão de pessoas. Em algumas cidades as escolas dependem
do socorro de vizinhos.
Os investimentos feitos na região mostraram-se insuficientes
para enfrentar uma calamidade natural que, segundo os meteorologistas, tende a
se agravar. Estima-se que as chuvas deste ano serão poucas.
A mais vistosa ação do governo federal tem sido um filme de
um minuto que a Secom botou nas televisões da região. Nele, “Chambinho do
Acordeon”, feliz e sorridente, anda pela caatinga informando que “a seca sempre
vai existir, mas o sertanejo vai poder se defender cada vez mais dela”.
Cantando louvores aos investimentos feitos pelo governo, informa que “o
sertanejo é um cabra forte, só precisa de apoio, e vai ter cada vez mais”.
Os sertanejos que estão sem o abastecimento de carros-pipa
não precisam de propaganda. O que lhes falta é água. Esse tipo de marquetagem
no meio de uma seca chega a ser deboche. Para falar sério, o aparelho de
autoglorificação da doutora Dilma deveria anunciar, ao fim de cada clipe,
quanto gastou na marquetagem e quantos carros-pipa ela pagaria.
Durante a seca de 1998, Lula visitou o interior do Ceará
acompanhado de José Genoino, cuja família morava em Jaguaruana. Culpou a
desatenção dos tucanos e prometeu rios de mel. Nas palavras de Nosso Guia: “O
sofrimento do povo nordestino só vai acabar no dia que a gente tiver políticas
de investimento para tornar esta terra produtiva. E essas políticas o PT tem”.
Qual era? “O Fernando Henrique veio ao Ceará na campanha de 1994 e prometeu
transpor as águas do rio São Francisco. Mas até agora não trouxe sequer um copo
de água. Ele foi mentiroso e vai mentir de novo prometendo a obra para ganhar
voto”. Em 2003, eleito, Lula prometeu: “Nesses quatro anos, 24 horas por dia
serão dedicadas para fazer aquilo em que acredito: a transposição das águas do
rio São Francisco”. Ficou oito anos, a doutora Dilma juntou mais dois e depois
de dez anos o “copo de água” ainda não apareceu.
A opção preferencial dos governos pela propaganda e pelos
espetáculos criou um novo estilo de administração e nele o governador do Ceará,
Cid Gomes, tem se revelado um talento à altura de Steven Spielberg. No ano
passado, a Viúva entrou com boa parte do custo da festa de inauguração de um
centro de convenções abrilhantado pelo tenor espanhol Plácido Domingo. A
tertúlia custou R$ 3,1 milhões e alegrou 3.000 convidados.
Até aí tudo bem, pois de fato havia um centro de convenções.
Em janeiro passado ele pagou um cachê de R$ 650 mil à cantora Ivete Sangalo
para lustrar a inauguração do Hospital Regional Euclides Ferreira Gomes, em
Sobral, berço político de sua família desde a Proclamação da República. Cadê o
hospital? Houvera o show, o prédio estava pronto, mas não havia funcionários.
Até hoje ele funciona como posto de saúde, só com consultas e raios-x. Hospital
mesmo, só em maio.
Assim como a Secom poderia investir em carros-pipa o que
gasta em propaganda, Cid Gomes poderia ao menos fazer a caridade de só
patrocinar shows quanto tiver serviço para entregar.
Blog do Eliomar
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