A evasão e a repetência escolar
são fenômenos interligados e a combinação deles aparece como uma das principais
falhas do sistema educacional brasileiro. É o aponta pesquisa da Coordenação do
Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará
(Caen/UFC). Segundo o estudo, quatro entre dez jovens, entre 15 e 17 anos, não
concluem o ensino médio no Ceará. Além disso, sete entre 100 alunos repetem a
série mais de uma vez em três anos.
O estudo foi apresentado no
auditório do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) e
traz uma análise das causas determinantes para esses dois gargalos do setor. A
pesquisa teve como fontes o Sistema Permanente de Avaliação da Educação no
Ceará (Spaece) 2008 e o Censo Escolar do mesmo ano. O recorte leva em
consideração os três anos do Ensino Médio ou seja, de 2008 a 2011.
Entre as causas da evasão, estão
a repetência escolar, o atraso (distorção entre idade e série), o nível escolar
dos pais e a falta de motivação e integração (como deixar de fazer as tarefas
de casa), o desejo de alcançar a independência financeira (principalmente entre
os homens) e a dificuldade de deslocamentos.
A repetência está associada
principalmente à falta de motivação, à má qualidade do ensino e,
consequentemente, à formação do aluno. Sem falar na violência urbana, tráfico
de drogas e gravidez precoce. O estudo também observou que os homens, por serem
mais propensos que as mulheres a ingressarem no mercado de trabalho mais
jovens, têm maior chance de repetir alguma série durante o ensino médio.
Com respeito à raça, os
pesquisadores constataram que ela não é importante para explicar a
probabilidade de evasão. No entanto, ao tratar da repetência, aqueles que se declararam
brancos tiveram uma redução de 13% nas chances de serem retidos ao longo do
período analisado.
Para os estudantes cujas famílias
são beneficiárias do Programa Bolsa Família, as chances de evadir ou repetir
são aproximadamente 12% menores.
Conforme os autores Maitê Rimekká
Shirasu e Ronaldo de Albuquerque e Arraes, a motivação do estudo está
associada, por um lado, aos altos custos e à ineficiência econômica que a
evasão e a repetência representam e, por outro, a obstruções para melhorias de
indicadores educacionais que se refletem diretamente no crescimento econômico e
mercado de trabalho.
A repetência, ressaltam, é um
indicador de ineficiência grave no fluxo escolar, embora a verdadeira dimensão
desse problema só transpareça quando se consideram os custos financeiros para a
sociedade. Recente estimativa do Banco Mundial indica que o Brasil gasta mais
de R$ 11 bilhões por ano com estudantes que repetem um ano.
Gastos
Para esses níveis de gastos por
aluno, indica a pesquisa, cada aumento de 1% na taxa de repetência corresponde
a um aumento do custo para o Governo de mais de R$ 500 milhões. O Ceará,
analisam os dois pesquisadores, apesar de ser um Estado pobre, tem adotado
estratégias para melhorar a qualidade das escolas e na redução das taxas de
evasão e repetência, através das seguintes políticas: aumento de escolas em
tempo integral, parceria com indústrias locais para o fornecer estágio
remunerado aos alunos, campanhas para melhorar a estrutura das escolas,
qualificação de professores e programas de incentivos a gestores, professores e
alunos.
Por meio de nota, a Secretaria da
Educação do Ceará (Seduc) informou que desenvolve, desde 2008, uma série de
projetos que buscam melhorar a experiência dos estudantes na escola, como por
exemplo o Projeto Professor Diretor de Turma (PPDT), que se caracteriza pela
indicação de um dos professores para assumir a função de diretor de turma.
Além disso, em 2011, a Seduc
firmou parceria com o MEC e o Instituto Unibanco para o desenvolvimento do
Programa Ensino Médio Inovador/Jovem de Futuro (ProEMI/JF), visando consolidar
a autonomia das escolas, contando com apoio financeiro diferenciado para
alcançar metas pactuadas, nas quais está inclusa a redução de 50% das taxa de
abandono.
A Seduc ainda destaca as melhorias
alcançadas nos últimos anos. Em comparação a 2008, no Ensino Médio da rede
estadual, a taxa de abandono saiu de 15,7% para 9,6%, em 2013. Com relação à
reprovação, esse número caiu de 7,8% em 2008, para 7,3%, em 2013. Já a taxa de
aprovação de alunos do Ensino Médio subiu de 76,6% para 83,2%, nesse mesmo
período.
Índices melhoram, mas estão aquém
Pouco mais de 54,3% dos jovens
cearenses, até os 19 anos de idade, concluem o ensino médio na idade certa.
Apesar de ainda apresentar uma melhora acentuada dos índices em relação à 2007,
quando a taxa de aprovação para a mesma faixa etária era de 40,4%, o Estado
ainda está abaixo da meta desejada, que é de 56,7%. Os dados revelam a grande
dificuldade que o Ceará, assim como o Brasil, tem de motivar o jovem a concluir
o Ensino Médio.
O estudo revela que o Ceará, com
54,3% de aprovação, apesar dos problemas, lidera o ranking entre os estados
nordestinos com relação a melhoria dos números do ensino médio. O segundo
colocado é Pernambuco, com 49,8%, seguido pelo Piauí, com 49%. Depois estão
Sergipe, com 48,9%; Paraíba, 48,3%; Rio Grande do Norte, 46,3%; Maranhão, com
40,3%; Bahia, 37,9% e Alagoas, com 35,2%.
A mesma situação é observada no
ensino fundamental, quando o índice de aprovação dos jovens até os 16 anos de
idade chegou a 71,8%, ficando aquém da meta ideal de 82%. Em 2007, o Estado
alcançou índice de 57,1% de aprovados, superando a meta de 54,5%.
Pouco mais da metade dos jovens
brasileiros, apenas 54,3%, conseguiram concluir o Ensino Médio na idade
considerada adequada. No Ensino Fundamental, a conclusão até os 16 anos foi
alcançada por 71,7% dos jovens. As metas definidas pelo movimento para 2013
eram de, respectivamente, 63,7% e 84%.
Os números ainda estão longe do
estipulado pelo Todos Pela Educação até 2022. O movimento espera que 95% ou
mais dos jovens brasileiros de 16 anos devem completar o Ensino Fundamental e
90% ou mais dos alunos de 19 anos devem concluir o Ensino Médio.
O estudo mostra ainda que 19,6%
dos jovens de 15 a 17 anos estão ainda no ensino fundamental, 15,7% não estudam
e não concluíram o ensino médio, e 5,9% não estudam mas já terminaram o ensino
médio.
Estado
O Secretário da Educação do
Ceará, Maurício Holanda, comentou que, apesar dos números não alcançarem os
índices esperados, o Estado tem conseguido conquistar resultados cada vez
melhores, destacando-se no Norte/Nordeste.
"Esses dados são muito
estáticos, não são índices possíveis de se reverter rapidamente. Tanto é que
nenhum outro Estado está cumprindo as metas. O que os dados têm nos mostrado
não é só o que está sendo feito nas escolas hoje, mas também o que não foi
feito nos anos anteriores. Não é possível, por exemplo, melhorar em apenas três
anos o Ensino Médio quando esses alunos não tiveram uma boa escolarização no
Ensino Fundamental", expõe.
Segundo ele, é necessário rever a
meta estabelecida ou imaginar que a educação nos estados vai melhorar devagar
nos primeiros anos e mais rápido depois.
DIÁRIO DO NORDESTE - Leda
Gonçalves Repórter
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