segunda-feira, 6 de abril de 2015

Contador de empresas não existe, segundo investigação

O contador de cinco empresas investigadas pela Polícia Federal (PF) na 'Operação Fidúcia', que apura uma fraude milionária contra à Caixa Econômica Federal (CEF), não possui registro nos órgãos regionais da classe e constam, pelo menos, dois números do Cadastro Nacional de Pessoa Física (CPF) em nome dele, mas nenhum é válido. A informação que a reportagem teve acesso chamou a atenção dos investigadores que, por meio de autorização judicial, quebraram os sigilos telefônicos, bancário e fiscal dos suspeitos de envolvimento no golpe. A Polícia acredita que o suposto contador não existe e que, desta forma, documentos assinados em nome dessa pessoa e apresentados pelas empresas quando da obtenção dos empréstimos são falsos.

Conforme a investigação, as empresas BNC, Bulgari, Conde, Rede e HTech têm o mesmo contador. Ao checar a informação sobre os dados do profissional junto ao Conselho Regional do Ceará (CRC-CE), os agentes descobriram que o número do registro que pertenceria a ele, na verdade, pertence a outro contador. Em outro documento entregue à CEF quando da solicitação de empréstimos, a empresa Rede informou o número do registro do suposto profissional como sendo do Estado do Pará, mas a inscrição também não consta no nome dele, mas no de outro profissional liberal.

As empresas investigadas têm como sócios os irmãos Fernando Hélio Alves Carneiro, Diego Pinheiro Carneiro e Ricardo Alves Carneiro, apontados pela PF, como os "cabeças" do esquema criminoso. Diego e Ricardo permanecem presos em Fortaleza, por força de mandados de prisão preventiva expedidos pelo Juízo da 32ª Vara Federal no Ceará. Além deles, permanecem recolhidos o ex-gerente pessoa jurídica da CEF, Israel Batista Ribeiro Júnior; e o empresário José Hybernon Cysne Neto, preso no Rio de Janeiro e recolhido na carceragem da PF fluminense.

Fraudes

Verificando as informações coletadas durante as investigações sobre somente uma empresa, é possível perceber os indícios de fraude, aos quais os investigadores se debruçaram.

Segundo documentos obtidos durante as investigações, em 10 de agosto de 2009, a empresa BNC Engenharia de Construções Ltda foi constituída.

Em agosto de 2012, um alteração no contrato alterou o objeto social das empresas e substituiu os sócios. No entanto, apenas dezesseis dias após a alteração contratual, um dos sócios nomeou Fernando Hélio Alves Carneiro, sócio proprietário das empresas Bulgari e Rede, como procurador. Por sua vez, Fernando Hélio Alves nomeou como procurador dele o irmão Diego Pinheiro Carneiro, que é sócio da empresa RC Construções.

Apesar de ter o capital social de apenas R$ 10 mil, a empresa conseguiu empréstimos no valor de aproximadamente R$ 4 milhões, todos autorizados pelos gerentes e supervisores da CEF.

A PF concluiu, também que o balanço patrimonial apresentado pela empresa BNC junto à Caixa Econômica é falso, "já que o contador que assina tal documento não existe".

Outra descoberta dos investigadores é que a sede da empresa informada no contrato de locação apresentado à CEF também não existe. Irregularidades semelhantes foram ainda encontradas nas outras empresas, como o uso de "laranjas" como sócios, ausência de empregados e falsificação de documentos, pois teriam sido assinados por contador que não existe.

A PF obteve dados de auditoria interna da CEF, que já confirmou uma fraude de R$ 20 milhões e iniciou as apurações que resultaram, no último dia 24 de março, em 14 pessoas presas, preventiva e temporariamente, além do cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão. Na ocasião, os agentes confiscaram entre outros bens, 14 veículos, como uma Maserati, com valor estimado em torno de R$ 1,2 milhão; um Porsche, de aproximadamente R$ 600 mil; além de BMWs e Mercedes.

Um avião de pequeno porte, avaliado em torno de R$ 350 mil, também foi apreendido. Duas contas bancárias, com mais de US$ 800 mil, também foram descobertas nos Estados Unidos, no nome de um dos investigados. A Polícia ainda apreendeu as quantias de R$ 192 mil, US$ 10 mil, além de diversas joias e relógios.


Diário do Nordeste - Emerson Rodrigues Editor de polícia

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