O prazo para a propaganda
eleitoral gratuita e também para debates veiculados em rádios e TVs findam
hoje; as checagens de notícias falsas correm contra um tempo curto; e denunciar
judicialmente para tentar obter algum recurso esbarra numa janela pequena de
horas. Ao fim desta quinta-feira, o que se segue é um período de três dias em
que se abre um terreno fértil para disseminação de fake news.
Num cenário em que ainda há entre
5% e 6% de indecisos (segundo as últimas pesquisas Datafolha e Ibope) e índices
altos de eleitores que ainda admitem trocar de candidato até as urnas, o risco
é que as notícias falsas influenciem na tomada de decisões.
"Esse vazio cria uma
oportunidade para quem quer semear desinformação. Provavelmente, as pessoas vão
se esforçar pra isso, porque já estavam fazendo isso durante a campanha em que
havia tempo para o desmentido, imagina no momento em que não há mais
tempo", pondera Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, que nas últimas
dez semanas tem feito verificações de notícias duvidosas.
Campanha polarizada e as últimas
tentativas de convencimento do voto útil são, para Lüdtke, alguns dos motivos
que levam a crer que pode haver fake news sendo repassadas nas últimas horas
antes do voto. "Por exemplo, muitas coisas podem ser criadas no sábado a
noite, com dificuldade de se fazer uma boa verificação, e há risco de isso
ganhar as redes, as pessoas mandarem muito por Whatsapp, disseminar e haver
dano à eleição", diz.
Relembrando quando, às vésperas
das eleições, chegavam dossiês às redações dos jornais com informações nem
sempre baseadas em fatos, que prejudicariam adversários políticos, a jornalista
presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e
coordenadora do Projeto Credibilidade, Angela Pimenta, alerta para a tendência
que "temos em acreditar e querer confirmar aquilo que nós desejamos, para
nos mantermos em uma realidade confortável". Definindo isso como
"viés de confirmação", Pimenta acredita que, ao se estar preso a ele,
a pessoa se torna alvo potencial para as notícias falsas.
Recentemente, uma pesquisa do
Instituto Ipsos apontou que 62% dos brasileiros admitem já ter acreditado em
alguma fake news o índice é o mais alto entre os 27 países em que o estudo foi
feito. Pimenta destaca outros dois índices do mesmo levantamento: 60% das
pessoas acreditam que os brasileiros vivem em bolhas, mas somente 38% dos
brasileiros acham que estão em bolha.
"Não teríamos todas essas
mentiras viajando nessa velocidade se as pessoas ao pegarem seu celular não
estivessem se comportando como torcidas organizadas que querem empurrar seus
times e combater o time adversário.
Isso significa que tudo que vem
dos meus amigos eu curto e compartilho e não checo, mas se são coisas que vem
de pessoas que entendo como adversárias, vou tentar descredibilizar",
explica.
Para Pimenta, é preciso sair da
bolha. "Viver em uma bolha é complicado para convivência democrática. As
bolhas são como condomínios de opiniões e a democracia supõe diálogo e
tolerância às diferenças. E o terreno comum da democracia são os fatos",
assevera.
O POVO DOMITILA ANDRADE
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