quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Campanha dos laranjas – 16 candidatas no Ceará receberam R$ 2,6 milhões e só obtiveram 7,5 mil votos


Candidatas à Assembleia do Ceará pelo MDB, Professora Leila e Dra. Zuíla tiveram uma das piores relações custo/benefício da disputa na história: mesmo recebendo R$ 772,7 mil dos partidos, elas tiveram, juntas, só 653 votos. Junto com as emedebistas, outras 14 candidatas no Estado acumularam quase R$ 2,6 milhões em recursos públicos e tiraram apenas 7,5 mil votos – cerca de um quarto do quociente para eleger um vereador de Fortaleza.

A informação tem base em levantamento do O POVO em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a Justiça, 16 candidatas de dez partidos receberam mais de R$ 50 mil das siglas – sempre via fundo eleitoral ou partidário – e não tiveram sequer mil votos. Em sete desses casos, repasses foram superiores a R$ 100 mil.

As ocorrências surgem no momento em que o Ministério Público Federal (MPF) investiga a existência de candidatas “laranjas” por todo o Brasil. Como o fenômeno “alto custo/poucos votos” praticamente não existe entre homens, a suspeita é que candidaturas sejam criadas para burlar lei que obriga chapas eleitorais a terem composição no mínimo 30% feminina.

A mesma legislação também prevê cota feminina de 30% para investimentos dos fundos eleitoral e partidário. Nos casos de repercussão nacional, a suspeita da Justiça é de que parte das verbas enviadas para candidatas teria sido destinada para outros fins que não o financiamento das campanhas.

Procuradas pelo O POVO, Professora Leila e Dra. Zuíla não quiseram falar sobre a verba que receberam do MDB. As duas, no entanto, se mostraram bastante surpresas com o valor exibido no portal do TSE. “Eu recebi isso aí? Você tá.. (risos) você tá muito mal informado”, diz Zuíla. Já Leila afirma ter recebido R$ 250 mil, e não os R$ 397 mil que ela própria teria declarado à Justiça.

Secretário-geral do MDB do Ceará, João Melo disse que a escolha do partido em priorizar as duas ocorreu com base no “potencial” demonstrado por ambas em eleições anteriores. “Esses nomes (Leila e Zuíla) vêm aparecendo sempre, você pode fazer uma pesquisa regressiva, e esse pessoal tem demonstrado um potencial que a gente acreditaria que tinha tendência de melhorar”, diz.

A justificativa é meia-verdade: as duas já haviam disputado eleições antes, mas ambas tiveram desempenho bem distante da excelência. Professora Leila, por exemplo, só havia disputado cargo de vereadora de Eusébio em 2016, mas teve a candidatura indeferida na Justiça. Já Zuíla concorreu a deputada estadual em 2014, gastou R$ 700 e teve apenas 146 votos.

“Há também uma dificuldade nacional, que é algo que tem em todos os partidos, que é a de compor quadro de mulheres candidatas”, diz João Melo. Ele também atribui parte do fracasso das duas à “situação estranha” da política nacional. “Partidos como o PT, MDB, e outros mais que estavam no governo, todos foram olhados com muita reserva”, diz.

Os casos são semelhantes ao de Débora Ribeiro dos Santos, que teve investigação aberta pelo MPF após receber R$ 274 mil do fundo eleitoral e obter apenas 47 votos. Conforme série de reportagens do O POVO revelou, a candidata é cunhada do deputado federal Vaidon Oliveira (Pros) e teria contratado cerca de 140 pessoas para campanha com sinais de ser de fachada – algumas delas ex-funcionários de Vaidon.

Outra candidatura alvo do MPF é a de Gislani Maia, que concorreu a deputada estadual pelo PSL. Conforme reportagem do jornal O Globo revelou, ela recebeu R$ 150 mil do partido a dois dias do 1º turno e, no mesmo dia, declarou gastos de R$ 143 mil em três gráficas. Ela nega quaisquer irregularidades.


O POVO

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