Partiram de fuzis os tiros que mataram os reféns durante
operação policial em uma tentativa de roubo a dois bancos no município de
Milagres, no Ceará. A informação, obtida com exclusividade pelo G1, consta em
laudo de balística concluído pela Perícia Forense. O documento revela também
que os tiros que mataram 14 pessoas, incluindo seis reféns, foram disparados
por policiais. Os militares tentaram ainda apagar vestígios da ação, como
vídeos de câmeras de segurança no local.
O levantamento das apreensões de armas dos envolvidos na
tentativa de assalto aos bancos não registra fuzis, mas outras armas de menor
poder ofensivo. Em depoimento, reféns sobreviventes já haviam afirmado que os
tiros partiram dos policiais e que não houve tempo de reação por parte dos
assaltantes.
Na madrugada de 7 de dezembro de 2018, criminosos armados
fizeram nove pessoas reféns durante uma tentativa de assalto a dois bancos na
cidade de Milagres. Os policiais militares haviam sido informados sobre o planejamento
do crime e preparam uma emboscada; após a chegada dos criminosos houve um
tiroteio, e 14 pessoas morreram, sendo oito criminosos e seis reféns. Três
reféns sobreviveram à tragédia e quatro suspeitos foram presos.
Questionada pelo G1 sobre o resultado do laudo, a Secretaria
da Segurança do Ceará informou apenas que o caso é investigado pela Polícia
Civil de Milagres. "Mais informações serão repassadas em momento oportuno
para não comprometer o andamento dos trabalhos investigativos, que estão em
fase de conclusão."
Membros de duas famílias que haviam saído do aeroporto de
Juazeiro do Norte indo para Brejo Santo (CE) e Serra Talhada (PE) foram feitos
reféns pelos assaltantes, na madrugada de sete de dezembro. Morreram
Claudineide, Cícero Tenório, João Batista, Gustavo e Vinicius, todos da família
pernambucana. Do Ceará morreu Edneide Rodrigue.
Sobreviveram a mãe, Maria Lurilda, o pai Fernandes Laurentino
e o irmão Genário Laurentino. São eles as principais testemunhas oculares da
operação. Todos afirmam, em depoimento, que partiram da Polícia os tiros que
acertaram os demais reféns e os assaltantes.
Autoria dos disparos
Participaram da operação 12 policiais, incluindo dois snipers
(atirados de elite), do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Secretaria
de Segurança Pública do Ceará. Cada um deles portava fuzil, além de armas como
pistolas. Eles eram comandados pelo major Antônio Gonçalves Cavalcante. Em
depoimento, o major afirmou que os assaltantes iniciaram o tiroteio e haviam
matado os reféns antes da troca de tiro. A tese do militar contradiz a dos
reféns sobreviventes.
Os 12 policiais foram afastados do cargo três dias após o
crime. Em janeiro deste ano, oito deles retornaram às atividades.
O vice-prefeito de Milagres, Abraão Sampaio, chegou ainda ao
local ainda na madrugada do crime e atendeu ao pedido de retirar os corpos. As
cinco vítimas pernambucanas foram colocadas na caçamba de seu veículo, uma
pick-up Amarok, e levadas para o hospital. Em seguida, duas ambulâncias levaram
os corpos restantes dos suspeitos.
Por Melquíades Júnior, G1 CE
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