quarta-feira, 3 de abril de 2019

PMs cobravam até R$ 20 mil e ameaçavam empresários em esquema de extorsão


Um grupo de policiais militares extorquia empresários em até R$ 20 mil e os ameaçava de apreender material, fechar estabelecimentos e ainda em prender ou matá-los caso não fornecessem o valor, segundo investigação do Ministério Público do Ceará à qual o G1 teve acesso. Nove policiais foram presos e afastados das funções no Batalhão da Polícia do Meio Ambiente (BPMA) de Sobral, na região Norte do Ceará, na quinta-feira (28).

Após quatro meses de apuração, o Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc) do Ministério Público realizou a Operação Espanta Raposa para desarticular a organização criminosa. Os promotores, com apoio do Coordenadoria de Inteligência Policial da Polícia Militar, descobriram o modo como o grupo atuava e fez vítimas do esquema criminoso na Região Norte do Ceará.

Uma das formas utilizadas pela quadrilha era verificar os pedidos de regularização das atividades de trabalho ou da compra de material na Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Antes de o órgão fiscalizar o empreendimento, a composição policial se dirigia ao local, fotografava possíveis irregularidades e extorquia os empresários, sob pena de serem presos.

Em outra atuação criminosa, os militares abordavam caminhões com mercadorias pesadas, como madeiras, lenhas, carvão, areia e pedras, e ameaçavam os condutores de apreender os bens, com a aplicação de multa, caso os mesmos não pagassem valores de R$ 2 mil a R$ 20 mil.

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), órgão que fiscaliza atuação de policiais no Ceará, informou que a Delegacia de Assuntos Internos (DAI) apoiou a operação. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Polícia Militar e o Ministério Público não se posicionaram sobre o caso.

Ameaça de morte

Ainda conforme o Ministério Público, os policiais ameaçavam matar empresários ou fechar os empreendimentos; eles requisitavam o número do telefone das vítimas para manter contato, agradecer pelo pagamento e pedir "contribuições" mensais para evitar uma nova fiscalização. O grupo criminoso também agia internamente, dentro do Batalhão, favorecendo alguns servidores públicos a não cumprirem com expedientes.

A investigação identificou pelo menos 12 vítimas do esquema criminoso. As empresas extorquidas atuam na extração mineral de areia e barro; extração de madeira; produção e comércio de carvão; produção de camarão; produção de pães; pesca de lagosta; extração mineral de pedras; terraplanagens; e transporte de entulhos. Os empreendimentos ficam nos municípios de Chaval, Camocim, Granja, Martinópole, Itarema, Cruz e Senador Sá.

Chefes de alta patente
A Operação Espanta Raposa cumpriu mandados de prisão preventiva e de afastamento das funções de nove policiais, em Sobral e Tianguá. Conforme documentos aos quais o G1 teve acesso, sargentos, major e tenente-coronel estavam os membros da facção.

Conforme a investigação, os militares de patente mais alta comandavam o esquema criminoso. Um tenente-coronel se utilizaria da posição para autorizar que as equipes policiais se deslocassem para a prática de ilícitos; já o major Francisco Marcelo era o principal líder da quadrilha. Os demais servidores públicos colocavam o esquema de extorsão em prática.

O advogado Oseas de Souza Filho, representante do major preso, afirmou ao G1 que a defesa ainda analisa a operação que resultou na prisão do cliente, mas negou que o policial tenha cometido crimes.

"Pelo que eu conheço da pessoa dele, essa liderança de associação criminosa não existe. Na investigação, não existe elemento de prova que identifica essa versão", contesta. A defesa do tenente-coronel detido preferiu não se posicionar sobre o caso. Já os advogados dos demais policiais não foram localizados.


Por G1 CE

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