A suspeita de relação entre facções criminosas e o mundo da
política aumentou, para a Polícia cearense, com a descoberta de conversas em um
aplicativo de mensagens. O aparelho celular apreendido com Marcos da Silva
Pereira, o 'Marquim Chinês', apontado como um dos fundadores do grupo criminoso
Guardiões do Estado (GDE), continha diálogos com um prefeito do Interior do
Ceará, um ex-secretário estadual e um candidato a vereador em Fortaleza,
conforme documentos obtidos com exclusividade pelo Sistema Verdes Mares.
'Marquim Chinês' foi preso em uma investigação da Delegacia
de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil, em 19
de setembro do ano passado. Ele foi perseguido por uma composição policial até
parar o veículo que dirigia, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza
(RMF). Com o suspeito, a Polícia apreendeu R$ 18,5 mil em espécie e um celular
quebrado. Durante a perseguição, 'Marquim' se desfez de um objeto pela janela.
Os policiais responsáveis pela prisão identificaram que o
celular tinha sido danificado há pouco tempo. Ao ser questionado se havia
quebrado o aparelho, o líder da GDE respondeu, em depoimento, que "deu uma
doida em mim, aí eu quebrei o celular". Depois, alegou que tinha conteúdo
íntimo nas mídias. Sobre a tentativa de fugir da Polícia, ele disse pensar que
o grupo que o perseguia em um automóvel "era inimigo, CV" (em
referência à facção rival Comando Vermelho).
Para dar continuidade à investigação, a Draco solicitou à
Justiça o acesso ao telefone. Após a ordem judicial, equipes da Perícia Forense
do Ceará (Pefoce) e do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (DIP)
recuperaram e extraíram os dados do aparelho celular do preso. A análise
revelou a proximidade do suposto líder da facção com políticos do Ceará,
conforme apurado pela reportagem.
Segundo a investigação policial, um dos números de telefone
com o qual 'Marquim' mantinha contato, pelo aplicativo WhatsApp, era do atual
prefeito de um município localizado na Região Jaguaribana. A Polícia não conseguiu
recuperar mensagens trocadas entre os dois, mas confirmou "não restar
dúvidas de que o prefeito estava mantendo contato pelo WhatsApp com um dos
líderes da GDE".
'Marquim' também conversava com um ex-secretário adjunto do
Governo do Estado, que utilizava o celular institucional para tal. A
investigação encontrou mensagens em que o secretário dizia: "Bom dia, meu
amigo. Sdds (saudades) de vc (você). Agora q (que) terminou a eleição. Vamos
resolver viu (sic)". A Draco concluiu que a conversa "demonstra uma
relação de intimidade e confiança entre os dois".
Depoimento
O ex-secretário estadual prestou depoimento à Delegacia, no
fim do ano passado, e negou qualquer relação criminosa com a facção. Ele contou
que foi procurado por 'Marquim Chinês' durante visita a um projeto social numa
comunidade no bairro Papicu, quando o criminoso pediu recursos para a
comunidade. Segundo o depoente, a palavra "resolver" utilizada na
mensagem se referia justamente à solução dessa demanda, que não podia ser dada
durante o período eleitoral.
Os investigadores também encontraram conversas entre
'Marquim' e um candidato a vereador por Fortaleza em 2012 - e não eleito. Em um
dos diálogos, o político chama o homem que viria a ser preso de
"patrão".
Outro registro descoberto através dos dados do chip foi a
comunicação de 'Marquim Chinês' com um homem que está preso no Instituto Penal
Professor Olavo Oliveira (IPPOO) II desde junho de 2017. Segundo a
investigação, o detento é um criminoso perigoso, com histórico de resgates
dentro de unidades penitenciárias. Para a Polícia Civil, a análise e o acompanhamento
de pessoas ligadas a diversos segmentos demonstram as conexões políticas e
criminosas do líder da GDE.
Distribuidor
De acordo com a Polícia, 'Marquim' é um dos fundadores da
facção local GDE e responsável pelo tráfico de drogas, principalmente na região
do Papicu, Meireles e Praia do Futuro, em Fortaleza. A Polícia acredita que ele
era um importante distribuidor de entorpecentes da organização criminosa e
estaria ligado ainda a homicídios ocorridos na região que atuaria.
Em depoimento, o preso confessou que tinha sido batizado pela
GDE, mas negou a liderança e alegou que é morador de uma comunidade no Papicu -
dominada pela facção - e o ato de recusar a filiação poderia resultar em sua
morte. A defesa de 'Marquim Chinês' não foi localizada pela reportagem.
Fonte: Diário do Nordeste
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