Pais de alunos de uma escola em
Caucaia, na Grande Fortaleza, divulgaram em redes sociais imagens dos próprios
filhos sendo agredidos por professores. Os vídeos foram compartilhados após a
polícia arquivar a denúncia contra os educadores.
"O delegado falou assim: que o
meu filho era danado, buliçoso, que era inquieto, que o colégio era um colégio
zeloso. Ele disse que não tinha nada demais. Nas imagens não tinha nada",
afirma a mãe de um aluno agredido e que não quer se identificar. As agressões
ocorreram fevereiro e ganharam repercussão após os vídeos serem publicados na
internet. Para os pais, o caso virou um "pesadelo".
"Até então quando eu visitei a
escola parecia ser um ambiente bem agradável. Mas aí o sonho virou
pesadelo".
A denúncia veio à tona quando a mãe
de um aluno recebia queixas de agressão do filho e pediu para ver as imagens
das câmeras de segurança da escola. Em uma das imagens, a professora pega o
filho dela, de quatro anos, por um dos braços e o arrasta pela sala até uma
mesa. A criança não quer mais ir à escola e explica o motivo: "Porque a
professora me bate. Ela segura no meu braço e me bota no chão".
Em outro momento, um menino se
desentende com um colega e cospe nele. A professora empurra o outro aluno e
manda ele revidar. O menino se irrita, limpa o rosto e começa a chorar.
"Ele começou a dizer que não queria ir para o colégio, dizendo que a
professora batia nele, que o colégio era feio, que a professora era feia.
Quando ele via as professoras, ele falava 'mamãe, por favor, mamãe, me tira
daqui, me leva pra outra sala'".
'Chorava quando vi o que faziam com
meu filho'
O medo que o filho passou a
demonstrar das professoras e as mudanças de comportamento levaram a mãe a
desconfiar que alguma coisa errada acontecia na escola. Ela pediu para o
diretor mostrar as gravações das câmeras de segurança e, depois de ver, decidiu
levar o caso à polícia, que recolheu as imagens dos últimos três dias de aula.
"Tirei o dia todo para
assistir essas filmagens. Eu chorava, quando eu vi o que a professora fazia com
o meu filho. Veio um filme na minha cabeça de tudo que meu filho me falava,
hoje faz todo sentido o que meu filho me falava e eu não acreditava. Eu achava
que era birra, eu achava que era coisa de criança, que a criança estava
inventando".
Ela descreve o que vê nas imagens
feitas pelas câmeras da escola: "Meu filho não tá fazendo nada. Ela pega
meu filho pelo braço, olha. E bota meu filho sentado. Um jeito totalmente bruto
de pegar uma criança".
Em outro caso, a mãe relata que o
filho foi impedido de ir ao banheiro. "Olha, meu filho já está querendo
fazer xixi. Está muito apertado. Ele sai e ela vai atrás. E ela não deixa ele
ir ao banheiro, ó. Tá vendo? Ele chora porque ele quer fazer xixi. Ele já tá
fazendo gestinho de quem tá querendo fazer xixi. Ele vê o cesto de lixo e vai
querer fazer xixi no cesto de lixo", relata.
A mãe afirma ainda que um dos
vídeos mostra o momento em que professora obriga um dos alunos a cuspir no
outro: "Olha o jeito que ela pega a criança. E pede pra criança cuspir no
meu filho. Cuspiu na cara dele. Ele tenta limpar, e ela segura a mão dele. E
ele tentando a todo momento limpar".
O dono da escola Sonho Meu, que
funciona há 20 anos em Caucaia, afastou as duas funcionárias que aparecem nas
imagens agredindo as crianças.
"Até eu mesmo me choquei, como
a minha esposa, na cena da cuspida. E não vou dizer que a professora é
inocente. Se a professora tiver errada, que ela pague perante a lei o que tem
que pagar. E, se o colégio tiver que pagar qualquer coisa, se for constatado
que houve omissão e o colégio tiver que pagar alguma coisa, será pago com
prazer", diz o proprietário da escola, Agademir Caetano.
'Extorsão'
Agademir também contou que foi
chantageado pelos pais. Conforme o dono da escola, os pais pediram dinheiro
para não divulgar as imagens. O caso foi parar na delegacia de Caucaia. O
inquérito já foi concluído e aponta que houve denunciação caluniosa e extorsão
por parte dos pais.
Foi então que uma mãe decidiu
divulgar os vídeos nas redes sociais. A partir daí, a mãe de outro menino da
mesma turma, que aparece sendo chacoalhado pela professora, também prestou
queixa na polícia. Uma terceira mãe viu as postagens e relembrou a agressão que
o filho sofreu de uma professora seis anos atrás, quando não havia câmeras na
escola.
"Na época o meu filho tinha
três anos. Quando ele viu o pula-pula, ele correu pra querer subir no brinquedo
e eu vim logo atrás. A professora não sabia que eu vinha atrás, pegou ele pelo
braço e simplesmente jogou ele pra trás, para ele descer do pula-pula. Ela
desceu ele pelo braço e ele caiu sentado".
'Absurdo'
As imagens foram mostradas ao
Ministério Público. A promotora Elizabeth Almeida classifica a agressão como
absurda. "Um absurdo. Olha, tá vendo. Pra ele cuspir no outro. Você vê
como ele se limpa. Eu vi! Ela praticamente... Arremessou o outro, né?".
A promotora diz ainda que há um
"despreparo" por parte dos professores. "As imagens denotam um
despreparo dos professores a lidar com crianças. Quando você deixa o seu filho
na escola, é como se você estivesse delegando à escola a guarda do seu filho
naquele período que ele está ali".
Para Acássio Souza, assessor
jurídico do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), as imagens
caracterizam crime. "As imagens são muito nítidas, são muito fortes em
demostrar uma situação flagrantemente caracterizada como constrangimento ilegal
em face de uma criança de quatro anos", sustenta.
"O artigo 232 do ECA, que é a
lei que garante e protege os direitos de crianças e adolescentes, estipula que
as condutas de submeter da forma como está expressa no vídeo, aquela criança,
não só ela, mas outras também, que presenciam que estão no ambiente que é de
violência, seja ela física, seja ela simbólica, seja ela moral, seja ela
psicológica. Todas essas formas de violência que ali estão. O estatuto é muito
contundente em criminalizar essa conduta", argumenta Souza.
"Se existe uma mudança de
comportamento do seu filho, a criança chora pra ir pra escola, não gosta da
escola, então chegue junto, verifique, investigue e apure porque isso pode ser
irreversível", recomenda a promotora do Ministério Público do Ceará,
Camila Leitão.
Por G1 CE
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