Há um mês,
ruíam-se os pilares do Edifício Andrea, no bairro Dionísio Torres, em
Fortaleza. O desastre matou nove pessoas, entre elas, o pai e a irmã do
policial rodoviário federal Felipe Pinho Silveira, 32 anos. Nayara Pinho
Silveira, 31, e Antônio Gildásio Holanda, 60, haviam se mudado para o prédio 15
dias antes do desastre e, naquele 15 de outubro, chegaram ao edifício minutos
antes do desabamento. Felipe hoje procura entre os bens objetos afetivos que
possam guardar a memória da sua família e espera respostas sobre a tragédia que
lhe arrancou pedaços. "Meu pai e minha irmã foram assassinados",
desabafa inconformado.
O Edifício
Andrea tinha 7 andares e desabou às 10h28 do dia 15 de outubro de 2019. Na
ocorrência, 7 vítimas foram resgatadas com vida. Na tarde de quinta-feira (14),
a Polícia Civil do Ceará informou que 36 pessoas foram ouvidas durante as
investigações, porém precisa de mais tempo para concluir as análises, então
pedirá à Justiça uma extensão do prazo. Portanto, ainda não há como apontar
causas e culpados. Já a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), por meio
do Núcleo de Perícia e Engenharia Legal e Meio Ambiente (Nupelm), revelou que
“ainda não é possível estabelecer um prazo para a conclusão do laudo”, que deve
apontar as causas da queda.
Os trabalhos de
resgate duraram 5 dias, envolvendo centenas de bombeiros e voluntários - que
tentavam amparar familiares. O prédio, onde residiam 11 famílias, tinha iniciado
uma reforma um dia antes da queda, segundo moradores. Nayara Pinho Silveira e
Antônio Gildásio Holanda viviam no apartamento 301 e, conforme Felipe Pinho, no
dia do desabamento, os dois tinham saído de casa e retornaram pouco antes do
desastre.
Felipe, que há
três meses mora em Brasília, no dia da tragédia, falou com Nayara de manhã cedo
pelo telefone quando a irmã o procurou para saber onde encontrar um livro. “Eu
fui ver se eles estavam no caminho. Mas infelizmente, eles haviam chegado
poucos minutos antes do desabamento. Pedindo muito a Deus para que eles
estivessem no caminho”, relatou ao falar do desespero ao receber pelo whats app
o vídeo da queda do Edifício Andrea.
O policial
rodoviário contou ainda que ele, Nayara e um terceiro irmão, Gildásio Filho,
29, que mora em São Paulo, perderam a mãe há quase 2 anos e, em setembro de
2019, haviam se reunido numa viagem em família. “Minha irmã teve um sonho que
minha mãe pedia pros três irmãos viajarem para sentir a presença dela... por
incrível que pareça, essa viagem foi dia 15 de setembro e acabou sendo a nossa
despedida da nossa irmã”, relembrou ao falar da dor insuportável das perdas.
Para se reerguer
Assim como
Felipe, que agora tenta buscar forças para “continuar o legado da família Pinho
Silveira”, alguns sobreviventes do desabamento do Edifício lutam para
recomeçar, em meio à dor de perder amigos, entes queridos, e também os bens
materiais. É o caso de Paulo Rômulo Bezerra. Ele viu o filho Davi Sampaio ficar
cerca de 5 horas sob os escombros após a queda e hoje lamenta a perda dos
vizinhos com quem convivia e da morada da família. Davi chegou a fazer uma
selfie para tentar acalmar a família que aguardava notícias.
“Aqui era um
cartão-postal da nossa família, gosto nem de passar em frente, porque mexe com
a gente. Era meu lar, minha casa, meus amigos, minha família, meus filhos.
Deixa muitas lembranças, isso ainda corta o coração da gente”, revela. Hoje,
Paulo e a família vivem na casa cedida pela cunhada, “enquanto se ergue
novamente”, ressalta Rômulo.
O recepcionista
Gilson Moreira, 58, não morava no Edifício, mas também ficou embaixo dos
escombros quando fazia compras em um mercadinho, localizado na Rua Tomás
Acioly, próximo ao prédio, que ruiu no acidente. Ele quebrou as pernas e hoje
se recupera em uma cadeira de rodas. “Não queria aquilo pra ninguém. O impacto
foi tão forte, arrastando tudo, a gente sendo pressionado pelos escombros, tudo
caindo por cima da gente… Os olhos, o nariz, o ouvido cheio de areia, eu
tentando respirar e não conseguia. Fiquei quase sete horas em pé. Se não fosse
os bombeiros chegarem, eu não estaria aqui”, contou.
G1
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