segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Ataques a instituições financeiras no Ceará caem 75% em 4 anos



O número de ataques a instituições financeiras (bancos ou empresas de valores), no Ceará, apresenta redução a cada ano. Em um intervalo de quatro anos, o índice caiu 75%, no comparativo dos dez primeiros meses. Enquanto 52 ocorrências foram registradas entre janeiro e outubro de 2015, apenas 13 crimes ocorreram em igual período de 2019, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

A diminuição das ocorrências começou em 2017. O titular da SSPDS, André Costa, destaca a importância do Sistema Policial Indicativo de Abordagem (Spia) - ferramenta que monitora veículos através de câmeras espalhadas pelo Estado - para a redução do índice nos últimos anos.

"O combate a roubos a bancos está muito ligado à política que a gente adotou desde 2017 de combate à mobilidade do crime. Sempre, nessas ocorrências de roubo a banco, são utilizados veículos para chegada e fuga. Hoje, a gente consegue exercer um forte controle sobre veículos usados por criminosos e isso tem facilitado bastante", afirma.

André Costa acrescenta, como outro fator, a troca de informações entre as polícias dos estados do Nordeste, o que foi impulsionado com o Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública do Nordeste, sediado em Fortaleza. Segundo o secretário, outros estados da Região também conseguiram reduzir os ataques a instituições financeiras, neste ano.

Na seara ostensiva, a Secretaria reuniu o Comando Tático Rural (Cotar) e o Batalhão de Divisas em uma Companhia do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), com foco em combater justamente esses crimes. "A gente tem um compartilhamento de informações com as instituições financeiras e, com base nos dados, consegue aperfeiçoar o posicionamento das equipes da Polícia Militar no Estado. O criminoso quer fazer a ação, mas se ele começa a ver a presença da Polícia, em especial uma Polícia especializada, acaba frustrando algumas ações", explica.

"Essas quadrilhas, sempre, são muito violentas. Fazem uso de armas de fogo pesadas e é comum, nas abordagens, haver troca de tiros. Em muitas situações, esses criminosos acabam sendo abatidos. É um conjunto de fatores que vem trazendo essa redução no Ceará e em outros estados vizinhos", completa.

A queda das ocorrências é benéfica para a população e para os funcionários das instituições financeiras, principalmente no interior do Estado, onde há menos opções para os moradores, segundo o presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra: "A redução dos ataques a banco representa um ganho da proposta de segurança, dá melhor condição para o trabalhador atender à população, com rapidez, segurança, privacidade, e que isso venha a possibilitar o crescimento econômico e a dignidade da nossa população".

Ocorrências

O ano de 2019 teve três meses sem ocorrências de ataques a instituições financeiras (junho, agosto e setembro), de acordo com os dados da SSPDS. Dentre os 13 registros de janeiro a outubro, a maioria foi explosões ou arrombamentos de caixas eletrônicos. A Secretaria não considera 'chegadinha' e 'saidinha' bancária para as estatísticas (entram como roubo a pessoa).

"Normalmente, o modus operandi, em todo o País, nos roubos a agências bancárias, é comum o uso de explosivos. Temos também o emprego de maçaricos. Agora, em outubro, tivemos uma ocorrência um pouco diferente, em Maracanaú, em que os criminosos entraram na agência durante o expediente bancário e anunciaram o assalto, algo mais próximo à moda antiga", relaciona André Costa.

O titular da Pasta se refere ao último crime cometido no Estado, um assalto a uma agência no bairro Pajuçara, na manhã do dia 17 de outubro deste ano. A quadrilha fugiu com cerca de R$ 600 mil, além do sistema de filmagem da agência, para dificultar a investigação. Poucos dias depois, a Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), da Polícia Civil, prendeu quatro suspeitos - dois no Ceará e dois em Pernambuco - e recuperou parte do dinheiro.

Já a última explosão a banco no Estado foi registrada em Salitre, no dia 29 de julho último. Os criminosos sitiaram o Município, atiraram contra o destacamento policial e atacaram a agência bancária. Depois, também fugiram em direção a Pernambuco.

Eduardo Bezerra afirma que, independentemente do tipo de ataque, clientes e funcionários correm risco de vida: "No caso de um assalto, o risco de perder vidas é altíssimo, dentro do espaço da instituição financeira. Em um arrombamento, o risco é decorrente da forma de organização dos criminosos, porque eles acabam atacando as cidades, colocam fogo em veículos e atiram a esmo em espaços públicos".

Lei estadual

O Estado do Ceará dispõe de uma lei que obriga os bancos a adotarem medidas de segurança. A Lei nº 16.451, de 14 de dezembro de 2017, prevê que as empresas instalem sistema de gravação de imagens interligado com a central de monitoramento da Polícia Militar, tecnologia para inutilização de cédulas em casos de explosão ou arrombamento de caixas eletrônicos e escudo de proteção blindado para vigilantes, entre outras melhorias.

Quase dois anos depois, o secretário André Costa garante que as instituições financeiras não cumprem com a Lei: "De todas (as medidas) que foram previstas, algumas foram implementadas, outras não. Mas a principal não foi implementada, que é exatamente inserir nos caixas eletrônicos dispositivos que inutilizem as cédulas. Triturar as cédulas ou lançar tinta. Se isso tivesse funcionando, certamente os roubos cairiam a zero, não teria mais interesse. Infelizmente, a gente não percebe esse empenho das instituições financeiras em cumprir com a lei".

O presidente do Sindicato dos Bancários corrobora com o secretário da Segurança: "É uma iniciativa positiva, mas que se não houver um esforço do poder público, e eu falo das esferas de cumprimento da lei, de fiscalização do legislativo e de aplicação das multas e sanções através do executivo e do judiciário, os bancos já demonstraram que não querem cumprir leis estaduais", conclui Eduardo Bezerra.

Sobre o assunto, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, em nota, que "os bancos seguem a Lei Federal 7.102/83, segundo a qual todas as agências e postos de atendimento são obrigados a submeter à Polícia Federal um plano de segurança para que possam funcionar.

Esse plano de segurança é elaborado por equipes técnicas e profissionais que analisam todas as características de cada ponto de atendimento - tais como localização, fluxo de pessoas, layout da agência, etc. Aprovado o plano, são instalados todos os equipamentos de segurança e mobiliário da agência, como os caixas, os caixas eletrônicos, o posicionamento das câmeras de segurança, dos vigilantes, as portas de segurança, a depender do caso, etc".

"A Febraban defende a federalização da competência para legislar sobre o sistema financeiro nacional, tema que é objeto da proposta de emenda à Constituição, número 08/18, de forma a garantir a uniformidade dos serviços prestados e maior eficiência operacional".



Por: Diário do Nordeste

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