segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Metade dos jovens internos em centros socioeducativos do Ceará usa medicamento controlado



Quando o juiz Manuel Clístenes, titular da 5ª Vara da Infância e Juventude de Fortaleza se aproxima das trancas onde estão os jovens do sistema socioeducativo, o que mais se houve por parte dos internos é: “doutor, quando eu saio daqui?”. A expectativa deles em voltar às ruas é gatilho para crises de ansiedade. Acrescido ao fato de muitos estarem em abstinência das drogas é formado um índice expressivo de internos que precisam fazer uso de medicamento controlado.

Na semana passada, dos 91 adolescentes internados no Centro Socioeducativo do Canindezinho, em Fortaleza, 45 utilizavam medicamentos controlados. Conforme uma equipe do Poder Judiciário que inspeciona os centros, esta média de 50% dos adolescentes medicados se repete nos demais equipamentos.

“Às vezes, a medicação é usada de forma indevida. Eles quebram o comprimido para poder cheirar o pó”, disse uma fonte ao G1. Os socioeducadores fazem a medicação assistida: entregam medicamento e observam o uso. Mesmo assim, no Canindezinho, parte dos internos finge que engoliu e comercializa o medicamento.

Sete mil detenções

Conforme a Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas), em três anos, mais de sete mil adolescentes deram entrada nos centros socioeducativos do Ceará. Foram 2.613 em 2017; 2.596 no ano passado e 1.815 neste ano de 2019 (até o fim do mês de novembro). Os índices mostram que ano após ano menos adolescentes infratores são privados de liberdade.

O número de menores apreendidos também vem diminuindo. Dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) apontam que em 2017 foram apreendidos 7.532 jovens; em 2018, 6.940; e 4.789 neste ano (até o fim de outubro). Conforme a SSPDS, os atos infracionais mais cometidos pelos adolescentes são tráfico de drogas e roubos.

Aloísio Lira, superintendente de pesquisa e estratégia de Segurança Pública do Estado do Ceará, afirma que o perfil do jovem adolescente infrator é similar aos dos presos adultos: “Sempre temos mais participações de homens. Existe muito ainda o aspecto de chegar aonde estes jovens são cooptados a cometer estas ações. A Segurança Pública é muito complexa e maior parte deste trabalho é o da proteção social”, disse.

Para o juiz Manuel Clístenes, a redução dos números de capturados e internamentos é reflexo do isolamento das lideranças das facções criminosas nos presídios: “Era do presídio que saía a maior parte dos comandos para cometer crimes, e muitos destes comandos eram direcionados aos adolescentes.”


Por Emanoela Campelo de Melo, G1 CE

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