quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

70% das rodovias estaduais no Ceará estão em boas condições



Buracos, sinalização inadequada e vegetação invadindo a pista. Esses são alguns dos problemas encontrados em rodovias cearenses por quem passa por elas todos os dias ou pelo menos uma vez na semana. Um estudo da consultora Engevias para a Superintendência de Obras Públicas (SOP) identificou, entre agosto e outubro de 2019, que 2.372 km das rodovias pavimentadas e sob jurisdição do Estado, as CEs, apresentam algum problema.

O número é a somatória das vias consideradas regulares, ruins e péssimas. Em contraposição, 5.785 km foram diagnosticados como em boas condições para o tráfego. Quintino Vieira, superintendente de Obras Públicas, explica que são consideradas boas aquelas rodovias "que a população possa usar com velocidade até o limite permitido pela lei", já as estradas consideradas regulares "também podem ser usadas com velocidade, mas não dão um conforto".

"Hoje acho que os números estão um pouco maiores, mas segundo o estudo nós temos 88,95% de estradas viáveis de se rodar no Ceará, somando as boas e regulares", enfatiza. Atualmente, todas as rodovias que cruzam o Ceará, sejam elas federais, estaduais ou municipais, totalizam 55.952 quilômetros. Destes, 11.942 km são responsabilidade do Governo estadual, 2.556 km da União e 38.573 km dos municípios.

O superintendente argumenta que "estrada não é só a construção". "Uma coisa que prejudica muito são caminhões que trafegam com peso acima do que deve ser colocado na estrada. E aí o pavimento que é para ter 7, 8 anos de vida passa a ter 2, 3 anos." A situação piora quando chega o período de chuvas mais intensas. Segundo Vieira, o trabalho de conservação tem sido desenvolvido em parceria com fiscalizações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Caminhões que circulam pelas estradas cearenses estão sendo pesados, e veículos com carga acima do permitido são notificados e podem ser apreendidos.

Quanto à qualidade dos pavimentos, o professor Jorge Soares, coordenador do Centro de Tecnologia em Asfalto Norte/Nordeste da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que ainda são utilizadas não só no Ceará, mas em todo o País — normas desatualizadas, o que tem impacto na durabilidade. Mesmo existindo atualizações feitas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), elas não são aplicadas.

Uma das normas atualizadas, a 180/2018 - ME, fala sobre a propriedade de adesão nas misturas asfálticas. "Chama-se dano por umidade induzida. Já existe normativa para isso, por que o Ceará não utiliza? Isso afeta diretamente a questão de quadra chuvosa, porque eu só aprovaria determinadas misturas asfálticas se elas tivessem a adesividade devida entre o asfalto e o agregado. Então, em época de chuva, não descolaria tão facilmente", exemplifica.

Desde setembro de 2019, o Centro realiza, em parceria com o Governo do Estado, um trabalho de acompanhamento de rodovias sob coordenação da Superintendência. Procurada, a SOP afirmou que analisa a adoção das normas, mas não informou prazos.

A Pasta afirma que, anualmente, realiza o Levantamento Visual Contínuo e cadastra os defeitos de superfície de acordo com a extensão e a severidade. O estudo é realizado por um engenheiro a bordo de veículo equipado com câmeras de alta resolução, apontadas para o horizonte (fotografia panorâmica) e para o pavimento, GPS e hodômetro. São levados em consideração trincas, desgastes, afundamentos, buracos e remendos.

Um dos problemas de rodovias deterioradas é o maior risco de acidentes. "Se tenho uma rodovia que tem um trincamento que eventualmente evolui para um buraco, para problemas maiores, passo a ter uma rodovia com menos segurança para trafegabilidade", afirma o professor. Dados da Polícia Rodoviária Federal contabilizam 1.516 acidentes nas BRs do Ceará em 2019; 72 deles causados explicitamente por defeitos na via, dos quais 59 resultaram em vítimas feridas.

Além disso, Soares aponta o impacto financeiro da deterioração prematura. "Você faz um projeto para durar dez anos e ele dura um ou dois anos — o que não é incomum, por conta de uma normativa inadequada. O risco é de o contribuinte ficar gastando esse recurso, enquanto ele poderia estar economizando", afirma. "Não necessariamente o projeto e a construção vão ser mais baratos (com a adoção de normas mais recentes), mas o ciclo de vida útil do pavimento será mais prolongado."


Fonte: O Povo

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