sexta-feira, 6 de março de 2020

Acesso à internet cresce 6 vezes em uma década no interior do Ceará



No início deste século, o sonho de moradores de muitas localidades rurais era dispor de energia elétrica. Programas como o Luz no Campo e o Energia para Todos, do Governo Federal, universalizaram a rede elétrica rural, atendendo a comunidades isoladas e remotas. Vinte anos depois, o cenário é outro. O desejo agora é estar conectado ao mundo através da internet de forma mais rápida.

De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em uma década, houve um aumento de 260% ao acesso à internet banda larga fixa no Ceará. Em dezembro de 2010, o Estado contou com 268 mil acessos. O número representa 11,4 acessos a cada 100 domicílios. Já em 2019, a Anatel contabilizou 966 mil acessos e 33 acessos a cada 100 domicílios.

No interior, a realidade é de um crescimento ainda maior comparado ao do Estado como um todo. Em 10 anos, a expansão foi mais de 6 vezes maior. Em 2010, sem contar com Fortaleza e os municípios da Região Metropolitana, se registrou 58 mil acessos à internet por banda larga fixa. A densidade é de 5 acessos a cada 100 domicílios. Em dezembro de 2019, no entanto, os acessos subiram para 388 mil, representando 27,2 acessos por 100 domicílios.

Outro ponto que chama atenção, de acordo com os dados da Anatel, é que em 2010, dos cinco municípios que detinham o maior número de acessos por 100 domicílios, três estavam no interior. A maior densidade era em Iguatu (81,4 acessos por 100 domicílios), seguido por Fortaleza (28,57), Eusébio (10,63), Juazeiro (10,63) e Quixadá (10,26).

Em 2019, Poranga ficou no topo do ranking, com 79,81 a cada 100 domicílios. Em segundo lugar ficou Groaíras (76,57), seguida por Juazeiro (56,58), Aracati (56,35) e, em quinto lugar, a Capital (51,76). O sertão conectado é ainda maior se levarmos em conta os dados de internet móvel. Afinal, com um smartfone na mão, o mundo é ainda menor.

Cenário

Pequenos provedores passaram a suprir a demanda por internet rural no Ceará. As empresas menores compram espaços de grandes provedores, instalam equipamentos e redistribuem o sinal wireless (via rádio).

Na localidade de Juazeirinho, zona rural de Iguatu, a estudante Raíra Maria de Souza, 12 anos, navega pela internet usando notebook e smartphone. A avó dela, Antônia Cândido da Silva, professora aposentada, também acompanha vídeos e mensagens no celular. "É mais uma companhia que a gente tem", pontuou.

Na localidade vizinha, Verônica Maria da Silva, aposentada, e Sara Alves de Melo, dona de casa, também estão conectadas. "Meu sobrinho, estudante, foi quem pediu para eu instalar internet aqui em casa para os trabalhos de pesquisa da faculdade", contou Verônica. "Ele precisava ir para um bairro, na periferia de Iguatu, numa lan house, à noite, e era perigoso".Em casa, Sara Melo divide o tempo entre as tarefas domésticas e o celular, trocando mensagens com amigas e parentes. "Facilitou muito a nossa vida".

Superação

O acesso à internet também estimula histórias de superação. Na localidade de Malhada Limpa, distante 30 quilômetros do centro urbano de Iguatu, o acesso à rede mundial de computadores permite que os irmãos deficientes visuais Marcos e Edilândia Lavor estudem em casa, por meio de notebooks com sistema de leitura de texto. Os irmãos cursam Licenciatura em Letras na Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu. "A gente continua morando aqui no sítio graças à internet", frisou Marcos Lavor.

Na zona rural de Quixelô, na localidade de Riacho do Meio, na bacia do Açude Orós, o artista plástico Ruy Relbquy Silva, 30 anos, que pinta com a boca em decorrência de uma deficiência, cursou História e divulga sua arte graças à internet. "Temos de estar conectados porque já é o presente, uma realidade no campo", observou Ruy.

Cinturão

A instalação do cinturão digital no Ceará, a partir de 2011, por meio de uma rede de fibra ótica de 8.060Km possibilitou o atendimento a cerca de 90% da população urbana, facilitando a expansão e a velocidade da internet no Ceará. Em 2015, Iguatu tinha apenas 139 pontos de conexão. Cinco anos depois, são mais de 20 mil clientes, somente no centro urbano. Tanto na cidade quanto na área rural, a expansão da internet é contínua por meio de fibra ótica, sinal de rádio e telefonia móvel.

"Essa é uma tendência de todas as regiões cearenses", observa o técnico em informática Ícaro Alves, que trabalha em um dos três pequenos provedores que atendem ao campo. Os provedores menores sobreviveram oferecendo os serviços na zona rural, que tem população dispersa e, em algumas localidades, isolada.

"Atendemos a vinte localidades e a trezentos clientes na área rural de Iguatu e mais de mil em cinco municípios vizinhos", disse. "Se não fosse a internet, com oferta em banda larga, não teria como oferecer o serviço para os moradores das localidades mais distantes", complementou.

A partir da chegada da fibra ótica, houve expansão da oferta para o sertão e ampliação dos serviços urbanos.

Iguatu dispõe de duas empresas de grande porte, que trabalham com fibra ótica, e de três provedores de pequeno porte que vendem os serviços de internet aos clientes através do uso de antena, sistema wireless. Os pequenos empreendedores complementam o trabalho chegando a locais que não interessam às grandes empresas.

"A internet hoje é vista como indispensável, como o serviço de água e de luz elétrica", observou o técnico em informática de um pequeno provedor regional, Wydh Machado. "A gente chega aonde outros não querem entrar porque tem custo alto e poucos clientes em potencial". Ele estima crescimento anual em torno de 10% a 15% na contratação de novos clientes. "A crise econômica afetou um pouco, mas é um serviço em expansão".

Efeito em cadeia

A chegada da internet às casas, sítios e vilas rurais contribuiu para reduzir o número de lan houses. "Não tem mais praticamente. As pessoas pesquisam e estudam em casa porque têm computador, impressora e acesso à internet", observa Ícaro Alves.

Outros setores da economia foram fortemente beneficiados. "A expansão da internet traz um impacto enorme para a economia local, beneficiando o varejo que também se expande na zona rural", observou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Iguatu, Francisco José Mota Luciano. "As empresas nas vilas rurais estão conectadas, divulgam seus produtos, fazem pagamentos e outros serviços por meio de aplicativos on line". A presença da internet facilitou a vida de todos e o crescimento dos negócios".

Fonte: Diário do Nordeste

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