quinta-feira, 23 de abril de 2020

Estudantes com deficiência auditiva enfrentam desafios para acompanhar aulas remotas no Ceará durante pandemia



Em meio ao cenário de pandemia, o ambiente escolar transformou-se por meio de atividades remotas, para conter a disseminação do novo coronavírus. Porém, a acessibilidade para estudantes com deficiência auditiva é um dos desafios no Dia Nacional da Educação de Surdos, data comemorada nesta quinta-feira (23).

Segundo a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) são 448 estudantes com deficiência auditiva matriculados na rede de ensino pública do estado, sendo 84 alunos do 3º ano do ensino médio, em meio a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

As escolas estaduais contam com 215 intérpretes, destes, 43 são direcionados para alunos concludentes, que estão em preparação para o exame nacional.

Para a estudante do 3ª ano do ensino médio, Ana Kelly Soares, ter que aprender em casa e sem o auxílio presencial do professor, lhe assusta, mas ela não pretende desanimar. “Sei do perigo que atualmente estamos enfrentando, então estou buscando estudar, pesquisar, tentando de várias outras formas me preparar, mas é difícil. Mas sei que não posso desanimar e vou continuar estudando”, declara.

Plano de ensino
Nesse momento de isolamento social, previsto por decreto estadual, cada unidade escolar criou um plano de ensino, com atividades domiciliares para cumprir a carga horária obrigatória de 800 horas. Para isso, a Seduc tem disponibilizado aparatos tecnológicos para facilitar a conexão nas plataformas digitais, tanto para educadores quanto para estudantes.

Apesar dos esforços das instituições para oferecer suporte, Ana Kelly afirma que, ainda assim, é complicado. “Em casa estou sozinha, as vezes me sinto perdida em aprender algumas atividades, falta comunicação e interação. Bastante difícil”, pontua.

Para o professor de libras, Hermeson Rocha, às escolas ainda precisam ajustar melhor suas estruturas para atender as demandas de cada estudante. Também surdo, ele pontua a necessidade de acessibilidade em todas as formas de comunicação. “Somos estrangeiros no nosso próprio lugar de origem. As pessoas precisam entender a importância da comunicação acessível e, digo isso, para todas as formas de comunicação, não só a libras, como braile e espaços de acessibilidade”, reforça.

Airton Oliveira, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), reforça que as escolas particulares mantém o calendário com aulas remotas e atividades à distância. Ele explica que, com mediação das famílias, os alunos com surdez são melhores atendidos. “O importante é que os alunos estão sendo assistidos de forma remota, há recursos tecnológicos de contato, e assim nós temos alcançado essa interação com os alunos com algum tipo de deficiência auditiva”, acrescenta.

Comunicação
A comunicação em geral também é apontada como o maior desafio pela estudante do 3ª ano do ensino médio, Leila Camila de Sousa. Para compreender esse momento de pandemia da Covid-19, sua mãe lhe auxilia na tradução das notícias. “Todos somos iguais, precisamos dessa comunicação e dessas informações também. Mas todo mundo sabe que essa comunicação é falha, pois não temos os nossos direitos respeitados”, protesta.

A comunicação escrita também acontece de forma diferente entre pessoas surdas e ouvintes. “Com os surdos, nossa língua é a libras e, a língua dois, o português. É muito difícil fazer leituras sem tradução dos textos pois a construção é diferente em libras e no português. Falta essa acessibilidade para que os surdos se sintam potentes e capazes de estar no mundo”, conta.

O professor propõe que os educadores devem receber formação para se comunicar com segurança na língua falada e por meio dos gestos. “As tecnologias podem ajudar muito nesse ensino, com vídeos aprofundando o ensino da sala de aula, além de pesquisas na web para que o que está sendo ensinado possa ser visualizado”, pondera.

O cenário onde professores ouvintes sinalizam libras com segurança e passam a mensagem completa, de suas aulas, tanto para alunos surdos quanto ouvintes é o jeito ideal para a estudante Leila Camila. “Esse é um sonho que tenho, mas sei que todos são capazes de conseguir aprender e dar as suas aulas sinalizando em libras, pois acredito em vocês professores”, declara.


Por Isabella Campos e Lucas Falconery, G1CE

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