segunda-feira, 6 de abril de 2020

Faltam médicos e insumos para combate ao Covid-19 no interior do Ceará



Em apenas onze dias (26 de março a 5 de abril), o número de pacientes confirmados com o novo coronavírus (Covid-19) subiu de oito para 28 no interior do Estado. Para atender a esta demanda crescente, a soma de dois fatores se mostra vital. O primeiro deles é o quantitativo de leitos.

Atualmente, há 384 leitos clínicos nas unidades hospitalares do Interior, com capacidade de expansão para mais de 430. Deste total, 150 são de UTIs.

No entanto, quando o olhar se volta para o segundo fator, surge a preocupação. Conforme avaliação de especialistas, o número de profissionais da saúde ainda é considerado baixo. "A situação é precária", alerta o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Edmar Fernandes.

A presidente do Conselho Municipal das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), Sayonara Moura de Oliveira Cidade, revela que atualmente há uma carência de cerca de 600 médicos na atenção básica de saúde. "Aguardamos um novo edital do Ministério da Saúde para contratação de médicos para o Programa Saúde da Família",informa.

Esses profissionais são importantes para realizar diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos, ainda na fase inicial da doença. Conforme o Ministério da Saúde, 90% dos casos de Covid-19 podem ser atendidos nos postos de saúde. Portanto, cabe aos profissionais da atenção básica atender a população com os sintomas iniciais como febre baixa, tosse, dor de garganta e coriza.

A médica Luana Costa Barbosa explica que o hospital não é porta de entrada para sintomas mais brandos. "A grande maioria pode e deve ser manejada nos Postos de Saúde com os médicos de atenção básica". Ela complementa que aos "pacientes sintomáticos respiratórios ou com síndrome gripal, sem gravidade, é recomendado que procurem o PSF.

"O médico atua e só encaminha o paciente para o hospital em casos mais graves". É justamente esta sobrecarga nos hospitais que preocupa o presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz.

"Precisamos evitar um elevado número de casos, do contrário, os leitos não vão suportar e será um caos", observa, ao pontuar que a alternativa seria suprir a atual carência de médicos no Interior. Para ele, somente disponibilizar leitos não terá efetividade caso não haja "profissionais suficientes e capacitados" nas cidades cearenses.

Dificuldade

No último levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, em 2018, havia 12.470 profissionais atuando pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Ceará. Deste total, 41% se concentravam em Fortaleza.

Questionado quanto ao efetivo total de profissionais atualmente no interior do Estado, o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Edmar Fernandes, disse não dispor com exatidão por se tratar de números cuja gerência é do Estado e das prefeituras, mas reconheceu que o quantitativo está aquém do ideal. Ele ainda elencou alguns "problemas recorrentes" que justificam essa lacuna de profissionais, como a falta de estrutura de trabalho, reduzido valor salarial e atrasos no pagamento. "Os médicos começam a trabalhar, mas falta estrutura e muitos municípios não cumprem os valores acordados e ainda atrasam o pagamento. Isso acaba afugentando os profissionais".

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) foi demandada, por e-mail e telefonema, sobre o número de médicos atuando no interior cearense. No entanto, as respostas não foram enviadas até o fechamento desta matéria. A Sesa também foi indagado se o atual efetivo é considerado suficiente para suprir a demanda atual da pandemia do novo coronavírus. Igualmente não houve retorno.

Na atenção primária, a que Sayonara aponta déficit de 600 médicos, o Ministério da Saúde informou, por nota, que atualmente existem 992 profissionais atuando em 164 municípios do Ceará pelo Programa Mais Médicos. A Pasta informou que o início das atividades dos candidatos submetidos ao edital depende do cumprimento "das etapas do processo seletivo" que ainda está em aberto. Ainda conforme a nota, "somente com o cumprimento das etapas do cronograma e com as publicações oficiais no site do Mais Médicos será possível acompanhar o número de médicos que atuarão e em quais municípios".

Insumos

Outro grave problema apresentado pelo Cosems é a precariedade de equipamento e materiais de insumos dispostos aos médicos que lidam com pacientes do novo coronavírus. "A ampla maioria já não dispõe de luvas, máscaras, óculos e de avental", criticou. Segundo o Sindicato dos Médicos, "em muitos casos, os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) estão sendo comprados pelos próprios profissionais ou são doados pela população".

Em Itapiúna, médicos que pediram para não ser identificados, denunciam que "profissionais estão atendendo suspeitos de Covid-19 sem EPIs".

O presidente da Aprece, Nilson Diniz, destaca ser necessário "equipamentos de qualidade superior" por se tratar de um vírus com alto poder de contágio. "Se os médicos forem contaminados, quem vai atender a população?", questiona.

Ainda conforme o Sindicato dos Médicos, por dia, são recebidas 20 denúncias de profissionais que atuam na linha de frente no combate à pandemia. "Assim como em Fortaleza, os profissionais de saúde que atuam em unidades localizadas no interior do Estado enfrentam inúmeras dificuldades, principalmente, quanto à ausência ou escassez dos equipamentos de proteção individual: luvas, aventais de mangas longas-impermeável, óculos de proteção, gorros, máscaras N95 e álcool em gel 70%. Também tem a questão da falta de treinamentos para os profissionais da saúde".

O secretário de Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins, o Dr. Cabeto, disse haver uma ordem de compra na tentativa de melhorar a situação quanto ao abastecimento desse tipo de material.

"Nós temos toda a preocupação com o profissional de saúde e, por esse motivo ou por essa pressa, tem essa compra da ordem de R$ 179 milhões para esses equipamentos", informou.

Treinamento

Nilson Diniz recorda ainda que a capacitação adequada dos profissionais para o enfrentamento o coronavírus é tão necessário quanto a construção de leitos e aquisição de equipamentos. "Não adianta ter bons equipamentos, como ventilador mecânico e não ter um profissional capacitado para usá-lo", alerta o presidente da Aprece.

Deste modo, está sendo ofertado um treinamento básico a pelo menos 140 profissionais. O foco do curso, que formou a primeira turma de 20 médicos, no último dia 28, é atualizar os profissionais sobre processos de reanimação, intubação, cricotomia, ventilação mecânica e protocolos de tratamento da Covid-19.

Fonte: Diário do Nordeste

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