terça-feira, 7 de abril de 2020

'Só fariam exame se entrasse num quadro de falta de ar aguda', diz advogada que não consegue teste para Covid-19



"Eu estou numa indignação do tamanho do mundo, é uma situação desumana". O relato em tom de desabafo da advogada Maria Socorro de Lima, 54, expõe um drama particular, mas que repercute em todo o Ceará.

Ao voltar de viagem, depois de ter passado por quatro aeroportos, a advogada observou o aparecimento de sintomas da Covid-19, causada pelo novo coronavírus. Socorro buscou auxílio médico no dia 31 de março, mas até este domingo (5) não conseguiu fazer o teste para diagnosticar a doença.

Ela já havia, inicialmente, solicitado ajuda no TeleSaúde, canal de comunicação da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), quando foi orientada a ficar em isolamento social por 14 dias. No entanto, os sintomas se agravaram. Socorro relata que continua sentindo febre, tosse seca, olfato comprometido e falta de ar constantes.

A advogada foi a um hospital particular de Fortaleza, mas a tentativa foi frustrada. “Queriam me colocar em isolamento, mas só fariam o exame se entrasse num quadro de falta de ar aguda e que precisasse me entubar em UTI", lamenta.

A negativa a fez recorrer a laboratórios privados para agendar o exame mesmo custando R$ 330. Já foram inúmeras as ligações para tentar conseguir o teste, mas as clínicas não têm disponibilidade para novos pacientes. Uma chegou a marcar, mas cancelou por falta de insumos.

Clínicas particulares

O G1 entrou em contato com três clínicas de Fortaleza que ofertam o teste pago para detectar o Sars-CoV-2.

O primeiro estabelecimento informou que as amostras dos pacientes são coletadas em domicílio. Idosos não pagam e profissionais de saúde, apenas uma taxa de R$ 60. A realização do exame, porém, não é imediata. "Eu só tenho vaga para depois do 15 de abril, porque a demanda está muito grande", explicou o atendente.

Em outro laboratório, o teste só é feito se o paciente apresentar sintomas graves em um dos dois hospitais que concentram os exames. Ele passa por triagem na emergência e consulta com um médico plantonista, que avalia a necessidade de solicitar o teste.

A última unidade ponderou que "há fila por conta da demanda e uma demora razoável", sem detalhar o número de pessoas que aguardam na lista de espera. A prioridade, reforça a atendente, é para pacientes graves que estão internados e profissionais de saúde.

Dificuldade em entrega de exames
No caso da psicóloga Roberta Costa, a dificuldade não foi em fazer a testagem, mas está sendo na entrega do exame por parte do laboratório. A coleta foi feita no dia 31 de março depois que apresentou tosse seca, moleza no corpo, diarreia e gripe. O prazo para entrega era de cinco dias úteis.

“Quando chegou no período, eu liguei e o hospital disse que era o Lacen que ia falar comigo e o Lacen respondeu que era o próprio hospital. Resumindo, até hoje não recebi nada. Eles informaram na semana passada que ia demorar 10 dias úteis e na quinta-feira (2) já disseram que o novo prazo era de 15 dias úteis, aí você fica na angústia de saber se está com a doença”.

Casos no Ceará
A mais recente atualização do informe epidemiológico da Secretaria da Saúde (Sesa) aponta que o Ceará já chega a 26 mortes e 824 casos confirmados do novo coronavírus. Os dados foram divulgados às 17h deste domingo (5).

Do total de mortes, 20 aconteceram em Fortaleza. Eusébio, Farias Brito, Jaguaribe, Maracanaú, Santa Quitéria e Tianguá contabilizam as outras seis mortes, sendo uma em cada cidade.

Fortaleza já chega à marca de 744 infectados, segundo a plataforma IntegraSUS, utilizada pela Sesa para repassar os dados.


Por G1 CE

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