quinta-feira, 21 de maio de 2020

Apenas quatro municípios cearenses não têm casos da Covid-19



Apesar do avanço da Covid-19 no interior cearense, quatro municípios resistem e estão conseguindo manter a ausência da doença: Altaneira e Granjeiro, no Cariri; Baixio e Umari, na Região Centro-Sul. Essas cidades estão entre as 12 menos populosas do Estado e, em todas elas, os gestores aplicaram ações preventivas antes mesmo da explosão dos casos. Especialistas avaliam que as medidas adotadas são importantes, mas ressaltam que "é questão de tempo que o vírus se espalhe por todo o Estado". Porém, eles ponderam que o mérito reside em frear a rápida propagação para que o sistema de saúde público, já fragilizado, possa resistir e garantir assistência adequada.

Cidade menos populosa do Ceará com 4.844 habitantes, segundo a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Granjeiro intensificou seu trabalho preventivo há mais de dois meses. Em 16 de março teve início a implementação de barreiras sanitárias nas duas principais entradas da cidade. "Nosso Município recebia muitas pessoas de fora, como Aurora, Várzea Alegre", recordou o secretário da Saúde Fábio Nascimento.

Com o controle de quem entra na cidade, a gestão iniciou a distribuição de máscaras à população e EPIs aos profissionais de saúde. O atendimento médico nas comunidades rurais, antes feito de porta em porta, agora está concentrado nas unidades básicas de saúde, diminuindo uma possível circulação do vírus. Mesmo sem ter casos, o hospital municipal foi reestruturado. Uma ala exclusiva evita o acesso de pessoas com sintomas gripais no mesmo setor que atende outras patologias.

"São triagens diferentes", explica Fábio. São dois leitos disponíveis para Covid-19. Atualmente, o Município tem dois casos suspeitos. Um já foi descartado. "Os outros dois entraram por ter sintomas gripal, mas podem não ser".

Até agora, a população, em sua maioria, tem adotado as medidas de prevenção, como uso de máscara, avalia Fábio. Por isso, não foi necessário formular um decreto com possíveis multas. "Estão entendendo a complexidade do problema", acredita. O comerciante Luiz Fagner Barbosa, apesar de preocupado, acredita que cada morador tem feito sua parte. "Lógico que a gente tem medo, porque têm muitos familiares em cidades vizinhas, como Lavras da Mangabeira, Caririaçu, Várzea Alegre e Aurora, onde já têm casos", admite.

Altaneira

Em Altaneira, que possui aproximadamente 7.600 habitantes, a Secretaria da Saúde do Município tem focado suas ações em prevenção, principalmente, através das equipes de saúde da família e das redes sociais. "Trabalhamos desde o surgimento dos primeiros casos no Ceará como se já tivéssemos", ressalta a secretária Jamilla Landim.

Ela explica que todo fluxo de atendimento aos pacientes com sintomas respiratórios foi redirecionado ao hospital municipal. "Lá, os profissionais foram treinados e estão devidamente paramentados para receber todo e qualquer paciente como um possível infectado. O prédio está sinalizado, mostrando os locais onde os pacientes devem se posicionar até passarem pela triagem". A atenção primária ficou a cargo de atender os pacientes sintomáticos de outras patologias e também acompanhar os pacientes dos grupos de risco.

As barreiras sanitárias foram implantadas e estão seguindo os decretos municipal e estadual em relação à entrada de cargas. "Além dos profissionais que ficam fixos em cada barreira, contamos também com volantes que têm a função de escoltar veículos de pessoas que apenas passarão pela cidade", detalha Jamila.

Visitantes que possuem algum parente em Altaneira assinam um termo de responsabilidade se comprometendo a ficarem isolados por 14 dias. Outra medida foi proibir a entrada de vendedores, os chamados "crediaristas", que viajam pelas cidades, ato comum no Interior. O estabelecimento que receber qualquer um deles está sujeito à multa entre R$ 200 a R$ 2 mil e ter seu alvará suspenso.

Vizinhas e localizadas na divisa com a Paraíba, Baixio e Umari possuem, respectivamente, 6.228 e 7.733 habitantes, segundo a última estimativa do IBGE. Elas também adotaram medidas de isolamento social, uso obrigatório de máscaras e determinaram a "proibição de feiras e fechamento do mercado", conforme pontuou a secretária de Saúde de Baixio, Sheila Ramalho. "Talvez a ausência de casos esteja relacionada com o fato de termos começado bem cedo com essas medidas", avalia.

A secretária da Saúde de Umari, Francisca Martins, acrescenta, como fator preponderante para frear o vírus, a conscientização da população. "Nada adianta ser feito um trabalho se a população não ajudar; por isso, antes de tudo, procuramos educar, conscientizar os moradores sobre a gravidade do problema que iríamos enfrentar".

Preocupação

O presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, se mostrou preocupado com a disseminação do vírus em quase 98% das cidades cearenses. "Faz tempo que a gente vem avisando que ia chegar e vai, infelizmente, atingir todas as cidades, é só uma questão de tempo", avaliou.

"Muitos não colaboram, não acreditam na gravidade, mas quando começar a morrer gente da sua família, eles vão sentir a seriedade". Diniz defende com rigor o fechamento do centro comercial. "Nas cidades do interior é onde estão os bancos, o comércio e atrai muita gente".

O médico sanitarista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Odorico Andrade, também se mostrou preocupado com o avanço da Covid-19 no interior. "Precisamos frear a velocidade de contágio porque as pequenas cidades não têm suporte de atendimento e nem profissionais em quantidade necessária", frisou. "Só há um jeito para reduzirmos o número de doentes é com a aplicação de medidas de fechamento do centro urbano e rígido isolamento social".

A presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), Sayonara Moura, reforça esse temor de estrangulamento das unidades de saúde e ressalta que as cidades "não têm como cuidar de muitos doentes de uma só vez". Ela lembra que "faltam estrutura e profissionais, e por isso deve-se investir em bloqueios, monitoramento de suspeitos, isolamento e testagem".


Fonte: Diário do Nordeste

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