segunda-feira, 1 de junho de 2020

Quadra chuvosa no Ceará fica acima da média pela primeira vez nesta década



Os bons volumes desta quadra chuvosa (fevereiro a maio) foram suficientes para alterar o cenário de dois importantes eixos do Estado: o abastecimento hídrico e a produção agrícola. Com mais de 730 mm precipitados, segundo balanço parcial da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), este foi o primeiro quadrimestre desde 2009 a ficar acima da média histórica - de 695.8 mm. Desde 1973, quando a Funceme passou a disponibilizar os dados pluviométricos, isto só aconteceu em 12 ocasiões.

Consequência das boas chuvas, o Ceará deve alcançar uma safra de 637.787 toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2020, crescimento de 12,96% em relação a 2019 (564.615t) e de 34,7% em relação à expectativa de safra de janeiro deste ano (467.673t), segundo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, do IBGE.

O resultado da quadra acima da média traz alento para o agricultor familiar cearense, que depende das chuvas para o cultivo nas áreas de sequeiro. A Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) acrescenta ainda que a expectativa de safra também tem correlação com a distribuição de duas mil toneladas de sementes pelo Programa Hora de Plantar, adaptadas ao clima e solo do semiárido cearense e com alto potencial germinativo.

Já em relação ao abastecimento humano, as chuvas garantiram recarga à maioria dos reservatórios cearenses. Os três maiores açudes do Ceará, Castanhão, Banabuiú e Orós, ganharam 13,14%, 7,19% e 22,71% de volume, respectivamente, de janeiro até o último sábado (30). O Castanhão acumula agora 15,97% de seu volume de água, Banabuiú 13,58% e Orós 27,96%.

Distribuição

Além dos bons volumes pluviométricos, o ponto alto desta quadra foi a distribuição espacial das chuvas. "Embora algumas áreas isoladas possam não ter sido tão beneficiadas pelas chuvas, de um modo geral, diferentemente do observado nos últimos anos, as precipitações foram melhor distribuídas no Estado", avalia Meiry Sakamoto, gerente de Meteorologia da Funceme. "Em fevereiro, março e parte de abril, as condições do oceano Atlântico favoreceram o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Nordeste do Brasil, levando chuvas, inclusive, para o interior do Ceará".

As condições fizeram com que esta quadra chuvosa atingisse alguns parâmetros que não se repetia há anos. Ontem (31), o volume acumulado no Ceará, de fevereiro a maio, alcançou 732,8 mm, ficando 22% acima da normal climatológica. Segundo a Funceme, quando o acumulado nos quatro meses fica entre 505.6 mm e 695.8 mm, o período é considerado "em torno da média"; e abaixo de 505.6 mm, o órgão considera "abaixo da média". Neste século, somente as quadras chuvosas de 2009 (965.7 mm), 2008 (768.2 mm) e 2020 ficaram acima da média.

"Estes números, apesar de preliminares, confirmam os prognósticos climáticos divulgados em janeiro e fevereiro. É o melhor resultado desde 2009, quando as precipitações ficaram 60,8% acima da média do quadrimestre", ressalta Sakamoto. "A partir de maio, observou-se o afastamento da ZCIT, e as precipitações foram menos abundantes e ocorreram associadas a áreas de instabilidade formadas no oceano próximo à faixa litorânea, ou se deslocando em direção ao Estado, a partir do setor leste da região Nordeste. Essa tendência de redução ao longo da estação chuvosa havia sido indicada nos prognósticos da Funceme".

No quadrimestre (fevereiro-maio), a macrorregião do Cariri foi a que apresentou maior variação positiva. Com 864 mm, o índice ficou 40,1% acima do normal para a região. Na sequência está o Litoral de Fortaleza, com chuvas 27,6% acima da média, região que em termos absolutos acumulou a maior média (1.016 mm).

Nesta quadra, março foi o mês mais chuvoso, com 275.7 mm (35.5% acima do normal), seguido de fevereiro (192.2 mm) e abril (181.5 mm). Maio apresentou o menor índice, como 86.6 mm (-4,4%). Ainda assim, foi o maio mais chuvoso desde 2014, quando o Ceará registrou 85.1 mm (-6.1%).

Reservatórios

As boas chuvas tiveram impacto positivo no cenário hídrico geral do Ceará. Dos 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), 36 excederam a capacidade máxima e permanecem sangrando, conforme o Portal Hidrológico do órgão. Além disso, o Estado atingiu a marca de um terço da capacidade, situação que não ocorria desde outubro de 2013.

Região que concentrou os maiores volumes de chuva no Ceará, os reservatórios da bacia do Litoral estão em situação mais confortável, concentrando 99,86% do suporte total. Dos 10 açudes, sete estão sangrando. Situação semelhante ocorre na bacia do Coreaú, que acumula 98,81% da capacidade e possui sete dos 10 reservatórios sangrando atualmente.

Na bacia do Médio Jaguaribe, onde fica o Castanhão, o acúmulo é de 15,49%. Em 1º de janeiro, esta taxa era de apenas 2,85%. Já nas bacias do Alto Jaguaribe e do Banabuiú, onde ficam Orós e Banabuiú, a recuperação foi ainda maior. Na primeira, que iniciou o ano com 5,74% da capacidade, este índice chegou a 35,12%. Já na do Banabuiú, onde fica o reservatório homônimo, a capacidade saiu de 6,36%, em 1º de janeiro, para 14,6%, até este domingo.

Pandemia

O abastecimento chega em um momento de aumento da demanda com o isolamento social, consequência da pandemia de Covid-19. A Cagece, responsável pela distribuição no Ceará, chegou a ampliar o sistema integrado de Fortaleza. As estações de tratamento do Gavião e Oeste tiveram aumento de 3,6% na vazão de água produzida. O objetivo é aumentar a oferta de água que normalmente é distribuída para Fortaleza e outros Municípios da região.

Até 10 de junho, Quixeramobim e o Hospital Regional do Sertão Central devem seguir recebendo reforço hídrico durante o isolamento. O aumento acontece a partir da operação controlada de transferência de água do açude Fogareiro, do sistema Banabuiú, para o Açude Quixeramobim, iniciada no início de maio. "Com a crise provocada pela pandemia, a demanda por água se tornou mais urgente ainda", explicou o gerente regional em Quixeramobim, Paulo Ferreira. "A transferência não tem causado impacto no abastecimento das comunidades rurais situadas no entorno do Fogareiro", avaliou.


Fonte: Diário do Nordeste

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