sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Alunos da rede pública no Ceará criam aplicativo para ensino da matemática e nível de proficiência chega a 70%



Para superar os desafios na aprendizagem na área das ciências exatas, ainda gargalo no Ceará, alunos do ensino médio e professores da Escola Estadual de Educação Profissional Marta Maria Giffoni de Sousa, localizada em Acaraú, interior do Ceará, desenvolveram o projeto “Be!Math: A Tecnologia como figura de mediação pedagógica”. O objetivo da ferramenta é identificar as dificuldades dos estudantes na área e desenvolver um processo de ensino-aprendizagem de forma mais interativa.

O projeto foi criado em 2018 e, no mesmo ano, o percentual de alunos do 1º ano do ensino médio com desempenho adequado em matemática passou de 16,6%, na primeira avaliação do ano, para 47,7% na última, realizada em dezembro. Já em 2019, os resultados foram ainda mais animadores, saindo de 17,7% de alunos em nível adequado para 74%.


Aulas e material didático online

Os professores colaboram com vídeos e aulas gravadas, que ficam disponibilizados na plataforma. “O projeto contribui significativamente para o processo de aprendizagem, visto que o uso das tecnologias em sala estimula e motiva os alunos a participarem de todo o processo de aprendizagem”, destaca Luana Rios, professora e orientadora do projeto.

“A plataforma Be!Math veio como ferramenta de mediação entre alunos e professores, proporcionando em um único espaço virtual diversos materiais, como vídeos, PDFs e listas de exercícios que foram construídos pelos professores e alunos da própria escola”, acrescenta.

A professora destaca, ainda, que “os alunos se tornaram protagonista do próprio aprendizado". "A tecnologia é uma aliada ao ensino da Matemática e das demais disciplinas. Nossos alunos têm uma facilidade enorme de lidar com essas ferramentas tecnológicas. Então, por que não usá-las ao nosso favor?”, aponta.


Dificuldade de acesso a computadores

A primeira versão do Be!Math surgiu em 2018, em um endereço virtual. Por conta disso, o acesso ainda era limitado. “Nos juntamos com dois alunos (do curso profissionalizante) de Redes de Computadores para iniciarmos o projeto para o celular, como um aplicativo. Todo aluno tem um celular, nem que seja do pai ou da mãe. Já o computador, é mais difícil. Muitos só teriam este acesso se estivem na escola”, ressalta Ana Michaela, aluna do 3º ano do ensino médio e uma das idealizadoras do projeto.

Em 2019, o Be!Math também se tornou aplicativo, mais acessível aos estudantes. “Comecei esse projeto no 1º ano do ensino médio porque vi as dificuldades da minha sala, que tinha o pior índice em matemática se comparado a todos os 1º anos (são quatro, na escola). Me juntei com minha professora de matemática e coordenadora, e começamos a ver o que poderia ser feito”, aponta.

“São realizadas três provas que a gente vai vendo os índices de todas as salas do ensino médio em português e matemática. Os alunos estavam nos procurando para saber com funcionava e depois voltavam dizendo que ajudou bastante”, ressalta Michaela.


Grande adesão

O projeto ganhou novos apoiadores e tem boa adesão dos alunos. Para ser formulado, foi desenvolvido um questionário, que levantou as principais dificuldades dos discentes e ajudou na elaboração das melhores estratégias de aprendizagem. Em pouco tempo, os resultados já são visíveis.

Por enquanto, o aplicativo está disponível apenas para os estudantes da instituição. Os professores enviam um link para que eles possam baixar a ferramenta. Em 2020, a intenção era expandir o projeto e poder disponibilizá-lo para mais alunos. "Devido à pandemia, tivemos que parar um pouco", lamenta a professora Luana Rios.

Em 2019, o Be!Math recebeu menção honrosa no Desafios Criativos da Escola, iniciativa que faz parte do Design for Change, movimento global surgido na Índia e presente em 65 países. Com o sucesso e premiações, também no Ceará, o projeto espera, agora, disponibilizar o aplicativo no Play Store, o que facilitará a adesão de mais estudantes.


Desempenho em matemática é 'crítico' no Ceará

Neste ano, o Ceará atingiu, pela primeira vez na história, um nível considerado adequado de alfabetização nos 184 municípios cearenses. O resultado aponta para 97% de efetividade na educação. As informações foram divulgadas pelo governo estadual, nesta semana, com base nos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) 2019.

Apesar da melhora nos indicadores, o estado ainda apresenta um gargalo: seis a cada dez alunos concluem o ensino fundamental com aprendizado crítico em matemática.


Resultados do Spaece no ensino da matemática, em 2019:

  • 40% dos alunos passam para o ensino médio com nível crítico de aprendizado em matemática;
  • Um a cada quatro estudantes do 5º ano tiveram aprendizado crítico ou muito crítico em matemática no último ano;
  • Uma média de 44% dos alunos atingiram o nível desejado;
  • Em 2008, apenas 4% havia desempenho adequado nas exatas.



Por Rodrigo Rodrigues, G1 CE


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