sexta-feira, 17 de abril de 2020

Homicídios quase dobram no Ceará nos três primeiros meses de 2020



O número de homicídios quase dobrou no Ceará, nos três primeiros meses de 2020, em comparação com o ano passado, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). Nem o período de pandemia reduziu a violência no Estado. O número de roubos também é crescente.

A Pasta contabiliza 1.083 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) - índice que engloba homicídios dolosos, feminicídios, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios (roubos seguidos de morte) - entre janeiro e março, deste ano. Em igual período do ano passado, foram 545 casos. O aumento é de 98,7%.

Todos os meses deste ano tiveram aumento do índice, em comparação com o mês de 2019. Em janeiro, o crescimento foi de 38% (ao passar de 192 para 265 casos). Fevereiro de 2020 ficou marcado como o mais violento dos últimos oito anos, com 459 homicídios e alta de 179,8% no índice (em 2019, foram 164). E em março, o aumento foi de 89,9% (ao passar de 189 para 359).

Causas do aumento
A SSPDS informou que durante o motim dos PMs, no mês de fevereiro deste ano, foram registrados conflitos entre células de organizações criminosas no Estado, o que refletiu nos períodos seguintes e seguiu a tendência das disputas desses grupos em âmbito nacional. A Pasta disse ainda que, atualmente, as forças de segurança do Estado trabalham para reorganizarem suas atuações e traçar novas estratégias.

De forma inédita, a Secretaria da Segurança fez comparações entre dois meses do mesmo ano, diferentemente do que fazia quando os números estavam em queda. A SSPDS afirmou que os Crimes Violentos Letais Intencionais em março registraram uma redução de 22% em comparação a fevereiro. Indo de 459 para 359 crimes. O mesmo ocorreu com os Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVP), com uma redução de 23,4%, indo de 7.787 para 5.960 de um mês para o outro.

Para o representante da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE) no Conselho Estadual de Segurança Pública do Estado (Consesp), advogado Laécio Noronha Xavier, falta uma política de segurança pública a longo prazo para o Ceará manter a redução de crimes apresentada nos últimos dois anos.

"Em 2015 e 2016, cai (o número de mortes). Em 2017, vai para o pico. Em 2018 e 2019, cai. E em 2020, sobe de novo. Para resultado permanente, tem que ter uma política permanente. Tem que fazer um trabalho onde a criminalidade nasce. São duas coisas: tem que ter uma boa repressão, com investigação, polícia técnica. Mas eu não conheço nenhum país seguro que não tenha resolvido seus problemas sociais", opina.

Já o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), sociólogo Luis Fábio Paiva, aponta uma reorganização do crime organizado como uma das causas para o aumento de homicídios no Estado.

"Isto (também) pode estar relacionado a falta de motivação ou mesmo de coordenação de um trabalho voltado para diminuição de homicídios. É importante destacar que a greve (dos militares, registrada em fevereiro deste ano) produziu traumas e, talvez, isso esteja repercutindo no trabalho cotidiano das forças policiais", acrescenta o sociólogo.

Época de pandemia
As medidas de isolamento social para combater a pandemia do novo coronavírus, determinadas por decretos do Governo do Ceará desde o dia 19 de março último, não impediram o aumento do número de homicídios.

Entre 19 de março e 13 de abril deste ano (último registro divulgado pela SSPDS), foram contabilizados 316 assassinatos no Estado. Em igual período do ano passado, foram 166 crimes, o que significa um aumento de 90,3%.

Luiz Fábio analisa que "apesar das medidas de isolamento social, as atividades criminais seguem roteiros independentes do ordenamento social geral". "Será preciso algum tempo para analisar os efeitos sociais desse processo na dinâmica criminal".

Roubos
O número de roubos também apresenta aumento em 2020. A SSPDS distingue as ações criminosas em Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP 1), que são aquelas abordagens diretas contra uma pessoa, como o roubo de pertences pessoais na rua; e CVP 2, que é um crime de maior proporção, como roubos a residências, de cargas e de veículos ou com restrição à liberdade da pessoa.

Entre janeiro e março deste ano, foram 15.627 registros de CVP 1, contra 10.185 ocorridos em igual período do ano passado - o que representa um aumento de 53,4%.

Nos três meses do ano corrente, também foram registrados 3.060 CVP 2; enquanto, em igual período de 2019, aconteceram 1.516 casos - ou seja, a estatística mais que dobrou, com crescimento de 101,8%.


Por Messias Borges, G1CE

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