Quando dizia na TV "vote Tiririca, porque pior que tá não fica", muitos acharam graça, mas ele virou o jogo e ganhou respeito de seus pares
Nascido no Dia do Trabalho em 1969, o artista agora trabalha em prol da cultura, e luta pelos artistas itinerantes, como os de circo FOTO: AGÊNCIA LAR/ LUIZ ANTÔNIO
O sucesso na propaganda eleitoral irritou os políticos. Os bordões do candidato eram repetidos por milhões de brasileiros, mas ninguém o levou a sério. Então veio a primeira vitória do artista popular sobre os "doutores" da política.
Com mais de um milhão e trezentos mil votos Tiririca (PR) teve a maior votação do País para a Câmara Federal. No final destes dois primeiros anos de mandato, jornalistas se curvaram e reconheceram a atuação do cearense no Congresso Nacional, apontando-o como um dos melhores deputados do Brasil em 2012 e indicando-o ao Prêmio Congresso em Foco, considerado um dos mais importantes da categoria.
Saído da cidade de Itapipoca, no interior do Ceará, Francisco Everardo de Oliveira Silva enfrentou provocações diárias durante os dois últimos anos. Antes de ser empossado foram muitas as tentativas de impedir que ele fosse diplomado. Foi constrangido publicamente a provar que sabia ler.
As provocações não pararam, e seus gastos foram fiscalizados de perto por parlamentares que se sentiram ofendidos com sua presença ali no Congresso. Alguns desses parlamentares fizeram tudo para achincalhar publicamente o ex-palhaço que agora eram obrigados a chamar de "colega". Além disso, membros da imprensa insistiam em dizer que a votação obtida pelo cearense era fruto apenas dos votos de protesto e desconsideravam a decisão soberana do povo.
Nascido no dia do trabalho em 1969, o artista agora atua em prol da cultura e luta para que artistas itinerantes, como os de circo, tenham mais facilidade para matricular seus filhos em escolas, visto que muitas vezes passam apenas 15 ou 20 dias em cada município e assim a educação dessas crianças acaba sendo prejudicada. "Minha mãe resolveu esse problema contratando uma professora que nos acompanhava, mas nem todos podem fazer isso", explicou o deputado que cresceu como artista de circo.
Qual a importância de ser indicado para o prêmio Congresso em Foco?
Acho que tem como o parlamentar fazer alguma coisa. Basta você ter vontade e fazer. Se você quiser, você faz.
O que faz um parlamentar?
Ele deve apresentar projetos, distribuir suas emendas de acordo com sua região, não faltar às comissões e votações e eu estou fazendo isso, tô fazendo a obrigação do parlamentar.
Um dos bordões da sua campanha foi o "pior que tá não fica", acha que foi uma escolha acertada?
Acho que a minha entrada deu uma balançada na política. Ficou claro que, mesmo sendo uma pessoa humilde, a pessoa pode fazer alguma coisa e dar certo. Eu fui muito criticado no inicio, mas cada um tem seu jeito de fazer as coisas. E o meu jeito é ser o Tiririca, porque o Brasil me conhece assim. Se eu tivesse feito uma campanha séria, como Francisco Everardo, prometendo coisas que não ia fazer mesmo, porque não depende só de uma pessoa, não teria dado certo e eu não teria essa votação linda.
Como foi a decisão de entrar na política, fizeram muitas pesquisas antes?
Fizeram pesquisas quatro anos antes e dava meu nome disparado. O presidente do partido (PR) dizia que eu teria um milhão de votos, mas eu ria e acreditava que teria uns cinco mil. Pensava que não seria eleito, mas iria brincar muito com essa situação, porque seria um ótimo marketing para minha carreira e via isso como uma mídia fantástica. Mas mamãe acreditava que eu seria eleito e poderia fazer coisas pelo povo.
O que o senhor acha a respeito do Processo Legislativo? O que deveria mudar?
Como brasileiro, eu acho que deveria ser mais rápido. Mas tem uma mecânica muito complicada. É interesse do governo, do partido, da oposição.
Como fica a sua relação com o partido e com o governo quando vota diferente da orientação deles?
Quando eu votei diferente do partido na questão do salário mínimo, vieram me chamar a atenção, e eu disse a eles que eu não vou votar contra o povo, porque foi ele quem me colocou aqui. Vou de acordo com o que eu achar certo. Por isso tenho tranquilidade de viajar, porque sei que ninguém vai vir e me dizer que traí o povo.
E a cobrança de que o senhor deve falar na tribuna? É apenas uma provocação?
Vou falar o quê? Quando eu tiver um projeto aprovado eu vou lá falar, mas por enquanto eu vou fazer isso só pra tentar aparecer como alguns fazem?
Nesses dois anos a sua imagem mudou. Como isso afeta sua relação com os outros parlamentares?
Hoje o empresário, o deputado e o senador reconhecem que acompanhavam minha carreira artística antes de eu entrar aqui. Se eu estivesse fazendo merda, eles não assumiriam.
Como é ser um parlamentar? Sua visão mudou a respeito dos políticos?
Estou feliz porque posso ajudar as pessoas. Como artista eu nunca poderia desembolsar R$ 15 milhões para ajudar as pessoas, como eu consigo através das emendas parlamentares. Mas eu não pretendo seguir carreira política. Mas acho que seja lá o que você fizer, você tem que tentar ser bom nisso. Eu estou político. Nem me passa pela cabeça nesse momento continuar ou tentar me reeleger, primeiro vou tentar fazer o melhor possível e concluir corretamente esse mandato.
O julgamento do mensalão está acontecendo agora e a mídia tem falado muito sobre isso. Qual a sua opinião sobre esse assunto?
Eu acho fantástico que esse julgamento esteja sendo realizado. Essa coisa (corrupção) existe em todos os meios, no artístico e no político. Eu estou feliz porque isso veio à tona e eu espero que dê cadeia pra neguinho ver como é, mas cadeia mesmo. Perder os poderes, porque tem neguinho que se tirar o status, o lance da carteirinha, vai morrer, porque é muito mais importante para eles esse poder do que o dinheiro.
Por que o senhor não quis se envolver na política no Ceará?
Porque apesar de ser de lá, eu atualmente não vivo no Estado e não quis me envolver. Mas mandei meus parabéns ao prefeito eleito de Fortaleza, apesar de não ter nada contra o PT.
E pretende voltar a morar no Estado?
Pretendo sim. Estou até construindo uma casa. É lá que eu vou relaxar e vou levar minha família comigo.
Como foi a sua chegada à região Sudeste e a relação com a mídia e outros artistas?
Eu já tinha uma estrutura montada. Quando fui pra o eixo Rio de Janeiro-São Paulo eu já tinha toda a minha carreira montada. Eu já tinha meu carro importado, minha casa de praia, meu dinheiro no banco. Existe um preconceito enorme. Isso aconteceu comigo no meio artístico.
E as exigências para mudar seu jeito, seu visual?
Quando os produtores de uma grande gravadora vieram negociar, disseram que tinham que mudar, eu não aceitei. Já era o Tiririca. Se eu tivesse que mudar, voltaria para o Ceará e continuaria minha carreira lá.
Ane furtado
Repórter
Diário do Nordeste