domingo, 29 de abril de 2012

´Um ano de irregularidade ímpar nas chuvas´


Os pesquisadores que monitoram chuvas e açudes no Ceará concordam que este é um ano difícil

O cearense tem sentido, neste 2012, o que é uma quadra chuvosa irregular, tanto do ponto de vista temporal quanto espacial, o que, de certa forma, surpreendeu os pesquisadores da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) que já esperavam um período com chuvas variando da média histórica para baixo.

O meteorologista Namir Melo explica que 2012 chegou com uma perspectiva de normal a seco, tendendo ao limite inferior. "Tivemos um fevereiro bom, sobretudo na segunda quinzena; mas em março houve uma redução de 50% nas chuvas e abril está pior que março até agora. A expectativa é de melhora, mas, ainda assim, não dá para ficar muito otimista", afirma.

Mas a irregularidade espacial e temporal, já esperada, como sempre, atingiu níveis surpreendentes. Segundo Namir, o sertão, região mais carente do recurso água, vem sendo mais afetado pela estiagem, mas as diferenças espaciais da distribuição das chuvas é gritante. Ele cita como exemplo o Município onde menos choveu, Milhã, no Sertão Central, onde de 1º de janeiro até o dia 25 de abril choveu apenas 141mm, queda de 70,8% em relação à média histórica. A aproximadamente 60Km em linha reta dali está Iguatu, no Centro-Sul do Estado, onde choveu mais, com um total de 906mm.

O número de Municípios onde choveu muito pouco (abaixo de 400mm), representado no mapa pelas cores quentes, no período, é de 96. Os que estão melhores são 88 (cores mais frias).

"Conforto razoável"

"O Ceará está passando por uma das piores secas da sua história, talvez pior do que 1958, o que num período daquele seria uma catástrofe para o abastecimento humano e animal e para o setor produtivo. Mas o Estado fez grandes investimentos e hoje tem uma estrutura hídrica que garante a sua segurança e podemos dizer que estamos em uma situação razoavelmente confortável", afirma o diretor de Operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Ricardo Adeodato.

Segundo ele, o sistema acumula 70% da capacidade, o que equivale a 12,6 bilhões de m³. "É claro que isso não está distribuído de uma forma regular", explica. O Alto Jaguaribe soma 95% e o Orós também está com 95% das sua capacidade, o que corresponde a 1,8 bilhão de m³.

Em pior situação está a Bacia do Curu, com 45% da capacidade, sendo os dois principais reservatórios o Pentecoste, que acumula 390 milhões de m³ e que está com 48%; e o General Sampaio, que pode armazenar 320 milhões de m³ e está com 41%.

Adeodato enfatiza que, em termos de abastecimento humano, não há perigo. "Não vejo problema até o fim do ano, mesmo assim, estamos monitorando. Quando há calamidade, o abastecimento humano é prioridade, seguido pelo animal", diz.

Metropolitana

"A região mais importante, a Metropolitana, que reúne 3,5 milhões de habitantes, 90% das indústrias e ainda o Complexo Portuário do Pecém, tem o sistema Pacajus / Pacoti / Riachão / Gavião com 500 milhões de m³, o que equivale a 58% da sua capacidade, numa vazão de 9 m³/s", esclarece.

Além dessa garantia, ele lembrou que o sistema conta, desde 1992, com o Canal do Trabalhador, que só tem funcionado para demandas regionais, mas pode adicionar mais 5 m³/s ao sistema. Destacou, também, a finalização do Eixão das Águas, prevista para junho, que garantirá uma adução complementar de até 11 m³/s, o que representa, segundo suas informações, segurança hídrica para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Adeodato explica que o Estado conta com aproximadamente duas mil localidades: "Situações localizadas são resolvidas com a utilização de caminhão-pipa ou poços artesianos e essas situações são analisadas conjuntamente pela Cogerh, Cagece, Sohidra e Saes (Sistemas de Água e Esgotos)".

Diário do Nordeste
Maristela Crispim 
Editora de Reportagem
FOTO: KID JÚNIOR

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