terça-feira, 30 de janeiro de 2018

CADEIA PÚBLICA DE ITAPAJÉ VIRA PALCO DA 2ª CHACINA NO CE EM APENAS 3 DIAS

Itapajé. O medo e tensão ficaram estampados nos rostos de boa parte dos moradores deste Município, distante 130Km de Fortaleza, por conta de uma briga entre facções que causou a morte de dez internos da Cadeia Pública da cidade. A unidade prisional foi palco de uma chacina, pouco mais de 48 horas depois da maior matança já registrada no Estado quando, pelo menos, 14 pessoas foram executadas, no 'Forró do Gago', no bairro Cajazeiras, em Fortaleza.

Ontem, dez mortes foram confirmadas dentro da unidade prisional. Apenas um agente penitenciário atuava no momento dos assassinatos. Segundo a Polícia Civil, o espaço contava com 84 presos. Membros do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC) iniciaram o confronto, mas a Polícia não revelou de qual facção pertenciam os detentos Diário do Noros que foram mortos.

Por volta de 8h30, moradores escutaram vozes com pedidos de socorro e, em seguida, mais de 15 disparos foram ouvidos de dentro da Cadeia Pública. Os gritos eram de "não atire, por favor". Uma moradora (identidade preservada) contou que era possível escutar os detentos rindo e recarregando as armas. "Escutamos pessoas chorando, desesperadas",


As ruas que são movimentadas toda manhã  ficaram desertas. Comércios e residências não abriram as portas. Às 9 horas, os primeirosveículos da Delegacia da Polícia Civil de Itapajé chegaram no prédio público.

Horas depois, mais de 20 veículos das polícias Civil e Militar e civil cercavam a cidade. Conforme o titular da Delegacia de Polícia Civil de Itapajé, delegado André Firmino, os membros de facções eram separados em celas, sendo duas para o Comando Vermelho (CV) e duas para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Porém, durante o banho de sol na manhã de ontem, que costuma iniciar às 8h, os detentos entraram em conflito.

"É o momento mais delicado, porque ficam todos juntos no pátio e é difícil segurar", comenta Firmino.

O delegado afirmou ainda que a ação da Polícia para tentar conter a matança foi crucial para que o número de mortos não fosse maior. No fim da tarde de ontem, 44 detentos foram transferidos para unidades penitenciárias da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Firmino ressaltou que os internos foram transferidos no intuito de evitar um "novo banho de sangue".

 Os presos mortos foram identificados como Alex Alan de Sousa Silva; Caio Mendes Mesquita; William Aguiar da Silva; Francisco Davi de Sousa Mesquita; Francisco Emanuel de Sousa Araújo; Francisco Helder Mendes Miranda; Francisco Mateus da Costa Mendes; Manuel da Silva Viana; Carlos Bruno Lopes Silva; e Francisco Elenilson de Sousa Braga.

Alguns internos ficaram feridos, tiveram atendimento no hospital local e voltaram à unidade. Outros três presos tiveram ferimentos mais graves e precisaram ser transferidos para Fortaleza. O confronto foi controlado por agentes penitenciários e policiais do Município.

Do lado de fora, pais, filhos e esposas lotaram as ruas vizinhas a Cadeia Pública. "Eu estava em casa quando eu descobri, no WhatsApp, essa guerra dentro da Cadeia. Não consegui falar com ninguém da Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) para saber do meu marido", disse uma mulher com uma criança de colo.

Durante a transferência dos internos, a Polícia dobrou o número de equipes no entorno do ônibus do Sistema Penitenciário que levou os presos para unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza. Das janelas gradeadas, detentos acenavam e até faziam as iniciais das facções com as mãos aos familiares que acompanhavam tudo da rua defronte à Cadeia. Alguns policiais chegaram a utilizar gás de pimenta dentro do veículo para conter os ânimos de alguns dos detentos.

Uma vistoria foi realizada na unidade prisional e os agentes encontraram dois revólveres calibre 38, munições, duas facas, drogas e aparelhos celulares. As armas foram levadas para realização de exames periciais na sede da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce).

"Cenas de guerra quando a gente chegou. O sangue estava sendo lavado no chão", declarou o supervisor do Núcleo de Assistência aos Presos Provisórios e às Vítimas de Violência (Nuapp) da Defensoria Pública Geral do Estado, defensor público Emerson Castelo Branco. Ele avaliou a situação da Cadeia Pública de Itapajé como precária e de domínio das facções.

"É humanamente impossível uma cadeia com mais de 80 presos ter só um agente. É muito triste. Conversamos com a juíza da cidade. Ela me disse que essa cadeia já havia sido anteriormente interditada". Segundo o defensor, a maioria dos internos vivos e mortos são presos provisórios. "Será pedido uma avaliação geral das cadeias públicas do Estado e solicitada ao Ministério Público do Estado e a cada comarca uma avaliação das unidades prisionais. Iremos ingressar com uma ação para interditar as cadeias públicas que não tenham condição de funcionar. Quando falamos de funcionar, não apenas a questão física, mas a questão humana", informou Emerson Castelo Branco.

A supervisora do Núcleo de Execução Penal (Nudep) da Defensoria Pública Geral do Estado, Marilene Venâncio, afirmou que foi muito duro avisar para todas as famílias que estavam do lado de fora se os familiares estavam vivos ou mortos. "A gente veio acompanhar a situação dos sobreviventes e os familiares dos que vieram a óbito. Com relação aos presos condenados, nós vamos acompanhar o Nuapp. Vamos também acompanhar os processos de cada interno, ainda que continuem na comarca. Infelizmente, em Itapajé, nós não temos defensor público titular, mas por esse caso, apesar das transferências, vamos vir dois dias para acompanhar. Conversamos com a juíza local para agilizar a documentação deles e na quinta-feira (1º) vamos ter as informações processuais de todos os internos.

Investigações

Ainda na manhã de ontem, seis detentos foram ouvidos na Delegacia do Município. Segundo eles, a chacina ocorrida na Cadeia Pública de Itapajé não teve relação com as mortes que aconteceram em Fortaleza e Região Metropolitana. "Eles disseram que não têm ligação, inclusive disseram que não havia nenhum 'salve' dos líderes deles, não havia determinação neste sentido", disse o delegado da Polícia Civil André Firmino.

A Polícia Civil indiciou seis internos acusados da chacina por homicídio qualicado. Os detentos apontados como autores dos crimes foram identificados como Alex Pinto Oliveira Rodrigues,24, que já responde por contravenção penal, roubo, dano, direção perigosa, crimes de trânsito e porte ilegal de arma de fogo; Antônio Jonatan de Sousa Rodrigues, com passagem por roubo e corrupção de menores; Artur Vaz

Ferreira, com antecedentes criminais de furto e porte ilegal de arma de fogo; Francisco das Chagas de Sousa, preso por lesão corporal dolosa, porte e posse ilegal de arma de fogo; Francisco Idson Lima de Sales, acusado de tentativa de homicídio e roubo; e William Alves do Nascimento (20), que já responder por crime de trânsito e homicídio doloso.




Fonte: Diário do Nordeste

Nenhum comentário:

Postar um comentário