Pelo menos 175 menores de idade foram vítimas de assédios
sexuais cometidos por membros dos Legionários de Cristo entre 1941 e 2019, 60
deles por seu fundador Marcial Maciel, de acordo com um relatório interno da
poderosa congregação ligada à Igreja Católica divulgado no sábado. Os abusos
foram cometidos por 33 religiosos, sacerdotes ou diáconos, de acordo com o
relatório elaborado pela “Comissão de casos de abuso infantil do passado e
atenção às pessoas envolvidas” e que abrange desde a fundação da congregação,
em 1941, até 16 de dezembro deste ano. “A maioria das vítimas eram crianças
adolescentes com entre 11 e 16 anos”, detalha o relatório divulgado no site
zeroabusos.org.
A divisão eclesiástica, considerada uma das mais
conservadoras linhas dentro do Vaticano, passou a ser investigada após denúncia
de Jose barba, um ex-membro da congregação. Em depoimento de 2014, ele afirmou
que o Papa João Paulo II tentou encobrir o escândalo. Barba contou que enviou
“uma tonelada e meia” de documentos à Igreja para que a Cúria tomasse
conhecimento dos abusos e investigasse à congregação. No entanto, nada foi
feito até a morte do Papa, em 2005. As primeiras denúncias surgiram ainda em
2004. A canonização de João Paulo II, segundo Barba, seria a “epítome do
encobrimento”, pois refletiria “um enorme desejo de deixar a questão de lado e
esquecer Maciel”. O sucessor de João Paulo II, o Papa emérito Bento XVI,
determinou uma investigação por parte do Vaticano em 31 de março de 2009, cerca
de um ano após a morte de Maciel.
A publicação deste relatório, que
comprova a existência de estupros contra crianças e adolescentes, acontece após
o papa Francisco eliminar o segredo pontifício para as denúncias de abuso
sexual, um pedido das vítimas que garantirá maior transparência diante de uma
realidade escandalosa que desacreditou a Igreja Católica. A congregação,
fundada em 1941 pelo mexicano Maciel (1920-2008), argumenta que avançou junto a
45 das vítimas num processo de “reparação e reconciliação”, embora reconheça a
necessidade de facilitar esse processo para outras.
Dos 33 padres que cometeram
abusos, sem considerar Maciel, 18 ainda fazem parte da congregação, mas estão
afastados de obras públicas ou que envolvam contato com menores. O relatório
mostra também que, desses 33 padres acusados de abusarem de menores de idade,
14 deles foram vítimas na própria Congregação, o que evidencia a existência de
“cadeias de abuso” onde “a vítima de um legionário, com o passar dos anos, se
tornou agressor”.
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“Nesse sentido, é emblemático que
111 dos menores abusados na Congregação tenham sido vítimas de Maciel, ou de
uma de suas vítimas”, afirmou. A comissão, criada em 20 de junho pelo superior
geral dos Legionários de Cristo, padre Eduardo Robles-Gil, afirmou que “não
acredita que seu estudo tenha sido capaz de descobrir todos os casos”, uma vez
que ocorrem no ocultismo.
(Com AFP) - Veja
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