terça-feira, 14 de julho de 2020

No Ceará, 84% dos pais acreditam em disciplina punitiva para educar crianças



Uma pesquisa realizada pelo projeto Primeira Infância para Adultos Saudáveis, realizada no Ceará, revelou que 84% dos cuidadores de crianças acreditam na utilização de medidas punitivas durante o processo de educação.

O estudo analisou o comportamento em 7.038 responsáveis por crianças de 0 a 5 anos em 16 municípios cearenses, em outubro de 2019. No entanto, especialistas explicam que o comportamento pode se intensificar durante o isolamento social recomendado como forma de barrar o avanço do novo coronavírus.

Nesta segunda-feira (13), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 30 anos de existência com a proposta de garantir os direitos dos grupos mais jovens da população.

Pesquisa
O Ceará foi selecionado para a pesquisa em uma parceria entre a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e o Governo do Estado. Foram entrevistados residentes dos municípios de Cruz, Barroquinha, Meruoca, Pentecoste, Paramoti, Quixadá, Catarina, Cedro, Macaranaú, Itaitinga, Itaiçaba, Caridade, Tabuleiro do Norte, Jaguaribe e Orós, além da Capital.

Dos entrevistados, 73% consideram o castigo como uma forma de disciplina, 49% usam a palmada como correção e 25% recorrem ao grito como medida punitiva. “É uma possibilidade concreta em função do momento de estresse que os pais estão vivenciando, com os riscos da pandemia e seu impacto na economia”, avalia a pediatra Sonia Venâncio, diretora-assistente do Instituto de Saúde de São Paulo e responsável pela pesquisa.

Praticar atividades conjuntas com a criança são uma saída para evitar os desgastes. “Por isso, é um momento oportuno para esse alerta, da importância da não utilização de disciplinas punitivas. Embora seja um momento difícil, os pais podem dedicar mais tempo às brincadeiras, leitura e contação de histórias, fortalecendo assim os vínculos e propiciando estímulos adequados ao desenvolvimento da criança”, aconselha a médica.

A pesquisa também mostrou que 63% das crianças entrevistadas foram engajadas em quatro ou mais atividades de estímulo três dias antes da conversa com os pesquisadores. Entre os estímulos, estavam atividades como ler, cantar, brincar, contar histórias e levar para passear.

Longo prazo
Os impactos da punição podem ser sentidos a longo prazo, como avalia a psicóloga infanto-juvenil Camila dos Santos. De acordo com a especialista, adolescentes que sofreram educação corretiva na infância podem apresentar comportamentos autolesivos, inseguros, com baixas habilidades sociais, pensamentos depressivos e, em alguns casos, comportamentos delinquentes.

Na vida adulta, o problema pode evoluir para outros transtornos mentais. “É um mito muito antigo que, para educar, seja necessário bater ou agredir a criança de alguma forma (física ou verbal). A partir dos estudos voltado para esse período da vida, foi sendo confirmado, cientificamente, que a criança possui peculiaridades que precisam ser respeitadas e compreendidas”, explica Camila.

Boa comunicação e respeito à individualidade de cada criança devem ser adotadas pelos cuidadores. “Existem muitas estratégias para que não seja necessário nem uma leve palmadinha. Entretanto, é necessário que os pais estejam dispostos a estudar sobre elas e aplicar. Fortaleça seu vínculo com sua criança, crianças cooperam muito mais com quem possui vínculos fortes. Tenham uma boa comunicação, façam acordos e, caso a criança não “respeite” o acordo, relembre-a das consequências e a execute. Consequência é diferente de castigo”, pontua a psicóloga.


Por Lívia Carvalho e Cindy Damasceno

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