"As aulas foram paralisadas por conta de facções. Acho que isso não deveria acontecer justamente por ser uma escola, porque as pessoas estão lá para estudar". O relato de uma adolescente de 14 anos, que terá a identidade preservada, moradora do Bairro Bom Jardim, em Fortaleza é emblemático da realidade vivenciada por ela e muitos outros. Uma pesquisa feita na região do Grande Bom Jardim, com um público de 14 a 24 anos, mostrou as relações entre os problemas de segurança pública e a vida estudantil.
O Grande Bom Jardim é um território da periferia sudoeste de Fortaleza, formado por cinco bairros oficiais (Bom Jardim, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Siqueira) e uma população estimada de 220 mil habitantes. Em termos populacionais, esse território representa 8,33% da população da capital.
A pesquisa apontou que praticamente oito a cada dez participantes consideram o bairro como inseguro ou totalmente inseguro (78,67%), semelhante aos dados sobre a insegurança no percurso para a escola (68,61%) e na rua (63,17%). Os dados foram retirados de questionários aplicados a estudantes das 12 escolas de ensino médio da região; os alunos têm entre 14 e 24 anos.
A insegurança que viola as ruas, as casas, as escolas, retira até direitos básicos — como o de ir e vir. “A gente não podia sair de casa porque estava muito perigoso na rua. [O medo] era tanto de tiros da polícia, quanto tiros dos…”, declarou a estudante ouvida pelo g1, se referindo aos criminosos, incapaz de finalizar a frase.
A jovem pensa em seguir estudando no Grande Bom Jardim. Ela mora perto da escola onde estuda, e faz o caminho todos os dias de carro, levada por familiares. A pouca idade, no entanto, não a impede de entender a realidade social em que está inserida.
“Muitas pessoas entram nessa vida [crime] não por querer, mais por necessidade mesmo, mas é muito errado porque pessoas que não têm nada a ver acabam sendo afetadas por isso”, lamentou a adolescente.
Por Samuel Pinusa, g1 CE
Nenhum comentário:
Postar um comentário