domingo, 27 de julho de 2014

AÇUDE CASTANHÃO: NOVA MORTANDADE DE PEIXE PREOCUPA

Russas. Uma terceira grande mortandade de tilápia foi registrada no açude Castanhão em menos de dois anos. A primeira foi em abril do ano passado, quando apenas um criador perdeu uma tonelada de peixe. Em julho deste mesmo ano, foram 100 toneladas. Dessa vez, o caso aconteceu há duas semanas, um pequeno grupo de produtores perdeu 50 toneladas. O aumento do número de peixes mortos em tanques rede vem sendo acompanhado com preocupação pelos piscicultores.

Conforme explicou o engenheiro de pesca Djavan Ferreira, essa mortalidade de peixes dentro do açude ocorre devido à atuação de vários fatores, dentre eles a rápida diminuição do nível do reservatório e a grande quantidade de compostos orgânicos que se concentram no fundo, interferindo diretamente na qualidade da água.

"Por não haver chuva não há renovação das águas. Sem essa renovação, os compostos como amônia e nitrito aumentam. Eles resultam da grande concentração de compostos orgânicos na água, como ração e fezes dos peixes, e são muito tóxicos, podendo matar os peixes por asfixia", explica.

Ele conta ainda que em algumas áreas do Castanhão está havendo uma aglomeração de piscicultores, muitos oriundos de outras regiões do Estado que chegam ao Castanhão em busca de condições de continuar a pesca.

Vírus e bactérias

Ferreira ainda acrescenta que, durante um curso sobre sanidade de peixe, ministrado no início desta semana para os piscicultores do Castanhão, análises apontaram a presença de vírus e bactérias e alguns parasitas nos peixes coletados. "Essas enfermidades não contaminam o filé do peixe, mas podem causar a doenças e até a morte dele", acrescenta. Ele avalia que o momento é arriscado para quem quer investir em piscicultura no Castanhão.


De acordo com o piscicultor Bessa Júnior, do ano passado pra cá, houve um aumento de 30% na produção do açude e todos os que vieram de fora ficaram concentrados em uma área de 25% do espelho d'água. "Esses produtores de fora se concentraram próximos as áreas onde tem maior infraestrutura de estrada e energia. O Castanhão é muito grande e nem todos os locais tem essas condições, então eles acabam se aglomerando. É muita gente para pouca água em certo locais", afirma.

Ele defende que os produtores tomem uma atitude em buscar se deslocar para áreas mais adequadas, evitando inúmeros problemas, principalmente aqueles referentes à qualidade da água. Ela acrescenta que essa aglomeração de produtores é um dos fatores que tem ocasionado o aumento na mortalidade de peixes em algumas áreas. "Até agora não me afetou, porque o local onde estou é mais profundo, longe dessas aglomerações. Há o espaçamento correto entre as gaiolas e a quantidade de peixes, mas muitos não têm essa consciência", lamenta.

O produtor Emídio Chaves trabalha como piscicultor no açude há 11 anos, juntamente com um grupo de oito pessoas. Ele afirma que a mortalidade dos peixes na área do grupo vem aumentando nos últimos anos. "Em 2012 a mortalidade registrada foi de 12%, a gente considera muito pouca e é o que costumamos esperar na época do inverno. No inverno do ano passado, nossa perda subiu para 19% e, já neste ano, nós perdemos 53% da tilápia, um prejuízo para o grupo de mais de R$ 600 mil", lamenta.

Produtividade

Emídio afirma que não retirará os tanques do Castanhão, mas que segurará a produção muito abaixo do que estava acostumado a fazer. "Em um tanque rede grande, chegávamos a colocar 6 mil alevinos, agora estamos colocando só 1500, para não correr o risco de ter mais prejuízo", conta o piscicultor. Ele também afirma que esses problemas que afetam a produção do Castanhão está resultando na falta do pescado para os consumidores. "Estamos trabalhando com mais cautela devido à redução do nível de água do açude, mas se hoje tivéssemos mais produção toda ela era vendida, porque tem mercado", ressalta Emídio.

Assim como muitos estão chegando ao Castanhão, o piscicultor conta que outros estão saindo devido às dificuldades. Ele é um dos que já está em busca de outro local e já tem como certo colocar tanques-rede em um açude no Estado de Pernambuco.

Queda

A produção de tilápia no Ceará deverá cair 25% neste ano em comparação com 2013. A estimativa é da Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq), para quem essa redução é consequência do quadro de seca que afeta o Estado desde 2012. Dos 28 açudes que mantinham a criação do pescado em tanques rede em 2011, apenas 18 ainda mantém alguma produção. Os açudes de Orós, Casanhão, Cascavel, Ubladino , Olho Dágua, Aires de Souza e outros, são os que estão suprindo a demanda do Estado.

"Estamos acompanhando essa situação muito atentos vendo a problemática no Castanhão, de modo que possamos buscar ações junto aos órgãos competentes para que haja uma melhor gestão e uma fiscalização no trabalho dentro do açude", afirmou Antônio Albuquerque, secretário executivo da Aceaq.

Mais Informações:
Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq)
Rua Silva Paulet, 3279, sala 03, Fortaleza (85) 3272 9219


DIÁRIO DO NORDESTE - Ellen Freitas Colaboradora (Fotos: Ellen Freitas)

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