domingo, 1 de novembro de 2015

SECA: CASTANHÃO GARANTE ABASTECIMENTO DE FORTALEZA SÓ ATÉ SETEMBRO DE 2016

A declaração do secretário estadual dos Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, ao O POVO é a mais esclarecedora sobre o momento hídrico de Fortaleza: “Trabalhamos em simulações e levando em conta que pode haver o pior no próximo ano. Partindo desse princípio de um aporte mínimo (de chuvas), com a água que dispomos hoje do açude Castanhão e mais a ajuda do Orós, podemos garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza sem medidas drásticas até setembro de 2016”. Na sequência, outra ênfase: “A partir de setembro, aí sim, podem ser adotadas medidas como o racionamento”.


Nesse cenário raso projetado para a Capital, Teixeira também confirma que, a partir de abril, pela primeira vez o Orós deverá ser acionado para abastecer Fortaleza diretamente. Ele disse que os estudos estão feitos e a decisão da SRH e de outros órgãos estaduais do setor hídrico já está tomada. “Se chover entre fevereiro e março e o Castanhão pegar boa água, aí o cenário é outro”, admite. A proposta, no entanto, é retardar ao máximo a medida. A ideia é que seja lançada a vazão média de 20 metros cúbicos por segundo (m³/s), em ondas (grandes quantidades lançadas de uma única vez), para que a perda por evaporação seja a menor possível. Cada m³ equivale a mil litros de água.


Hoje com 36,59%, o Orós já despeja água até o Castanhão em vazão irrisória, apenas para manter perene o canal de 150 quilômetros que os interliga. Com capacidade de armazenar 6,9 bilhões de m³, o Castanhão está atualmente com 13,55%, o pior volume desde que foi inaugurado em 2002. Está perdendo cerca de dois centímetros por dia com a evaporação.


Em 2016, a seca cearense deverá se estender pelo quinto ano seguido, agravada pela baixa reserva hídrica e pela indicação de um El Niño forte. O fenômeno é o aquecimento das águas centrais do oceano Pacífico. Os vapores superaquecidos do mar se deslocam para o Nordeste brasileiro e barram a formação de nuvens na estação chuvosa do Ceará - entre fevereiro e maio (Leia em http://bit.ly/1OeluEz).


Parece uma guerra

O secretário explica que, além da chuva propriamente dita, a situação hídrica da Capital poderá melhorar “se houver colaboração maior da sociedade”. Cita o uso consciente da água, como adoção de medidas pessoais contra o desperdício, como potencializador das reservas disponíveis. Fortaleza representa o maior consumo no Estado (cerca de 3,5 milhões de habitantes, somada a Região Metropolitana). “A Capital tem que dar seu exemplo. Por isso estabelecemos a sobretaxa” (anunciada semana passada pela Cagece, que cobrará até 120% sobre o uso excedente se o usuário não reduzir seu consumo médio. Leia em http://bit.ly/1GCBY6O).


Ao longo da conversa, Francisco Teixeira se levantou várias vezes para indicar, num grande mapa do Cinturão das Águas do Ceará que adorna seu gabinete, as várias medidas adotadas para resolver a crise hídrica em diversas localidades do Estado. Água sendo transposta de um lugar a outro, de cidades que têm um pouco mais para as que já estão sem nada. Mananciais transferidos por adutoras de montagem rápida, restrições de irrigação ou a escavação acelerada de poços em jazidas de qualquer vazão. Teixeira descreveu vários casos em sequência pelo Interior. “E assim vai. É caso a caso. É parecido até com a guerra, em que você vai conquistando cidade por cidade, rua por rua”, comparou.


Mesmo comedidamente, Teixeira celebra a possibilidade da chegada de água pela transposição do rio São Francisco. A previsão dada pelo Governo Federal é que o Velho Chico comece a operar regularmente para o Ceará a partir de julho. “Mas eu dou um desconto e trabalho com mais dois meses e, digamos, que possa ser em setembro”, ressalta, com a experiência de já ter sido ministro da Integração Nacional (entre 2013 e 2014). Esse aporte, segundo ele, será animador também para as condições do Castanhão. O São Francisco chegará pelo sul do Ceará, num canal na cidade de Jati, e seguirá pelo Cinturão das Águas até o Orós.


O secretário admite, com parcimônia, que são simuladas medidas ainda mais drásticas dentro do cenário posto - como corte total no fornecimento para áreas de irrigação (hoje reduzida em 50% em regiões como o Jaguaribe) ou metas de redução para 15% do consumo na Capital (ao invés dos 10% atuais). “Tenho que esperar (a chuva) até maio do próximo ano, mas não posso esperar de braços cruzados, sem estabelecer algumas restrições (no uso)”. Teixeira reflete:“Não podemos esquecer de uma seca como essa. Não pode virar só literatura”.


MÁXIMO


Água remanescente

Inaugurado em 2002, o maior volume já armazenado no Castanhão foi registrado em 16/5/2009, quando atingiu 97,82%. Hoje está no pior volume. O secretário Francisco Teixeira diz que as águas que chegam a Fortaleza são remanescentes de chuvas dos anos 2004, 2008 e 2009. A seca atual começou em 2012


MAIO 2012


Eixão das Águas

“Se não fossem os grandes açudes, como o Castanhão, não estávamos nem nas condições de hoje. Fortaleza já estaria sem água, por exemplo, desde maio de 2012”, diz Francisco Teixeira. A água do Castanhão chega à Capital pelo Eixão das Águas, que se estende do Vale do Jaguaribe até o Porto do Pecém por 255 quilômetros


14,5%

é a reserva hídrica atual do Ceará. Entre 153 açudes, há 83 com volume abaixo de 9%


O socorro do Orós


Se a água baixar mais sete metros...

O Castanhão está hoje na cota 82,1 metros. Se baixar à cota 75, será socorrido pela água do açude Orós. Os dois reservatórios, distantes 150 km, são interligados. O Castanhão está perdendo até 2 cm/dia com a evaporação


Castanhão: 13,55%


O volume atual (última 6ª feira)

O maior açude do Ceará, principal fornecedor para Fortaleza, tinha 29,84% de água em 30/10/2014. Em um ano, seu volume caiu mais da metade (-54,59%)


Chuva da seca atual

Choveu 388,9 mm em 2012, 551,2 mm em 2013; 565,5 mm em 2014; e 525,3 mm em 2015. A chuva média deve ter 804,9 mm de fevereiro a maio. 


Torneira pingando


1.380 litros/mês

O simples gotejamento da torneira mal fechada equivale, num mês, a mais de uma caixa d’água padrão desperdiçada. Se o pinga-pinga for maior, passa de 62 mil litros/mês 

Os vilões de sua casa

O vaso sanitário com vazamento e a máquina de lavar mal utilizada são os problemas mais detectados em aumento de consumo

Litros/dia por habitante

Em tempos normais, o consumo aceitável é 150 litros/dia por habitante. Na Capital, o consumo hoje está em 113 litros/dia. Na atual escassez, a Cagece considera ideal 80 litros/dia


O POVO

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