quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Descumprimento de protocolos sanitários projeta imagem negativa em Jericoacoara, avalia especialista



Após a Vila de Jericoacoara, no litoral oeste do Ceará, ficar lotada no fim de semana e no feriado de Independência, ligou-se um alerta sobre o descumprimento das medidas sanitárias. Além disso, a desobediência aos protocolos por grande parte dos visitantes, apontada por especialistas e autoridades do turismo locais, gera uma imagem negativa no destino cearense.

No feriadão, a rede hoteleira de Jericoacoara, que possui possui 7,5 mil leitos, ficou 100% ocupada, enquanto frequentadores e visitantes, em sua maioria, não utilizavam máscara de proteção. “Houve uma falta de autorresponsabilidade do turista. Se eu gosto do lugar, tenho que cuidar”, avalia Fernando Elpídio Araújo, professor de marketing e mestre em Turismo.

“O que aconteceu no último final de semana traz um prejuízo enorme. É um destino que inclui três estados, 14 municípios. Esse impacto de ocupação e as pessoas sem nenhum cuidado, gera uma imagem negativa”, aponta a articuladora do Escritório Regional Norte do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Suilany Teixeira, que diz ainda que a população precisa se sentir parte do plano para ter responsabilidades.

O decreto municipal de Jijoca de Jericoacoara permitiu, a partir do dia 8 de agosto, a liberação gradual das atividades turísticas na região, autorizando reservas em hotéis e pousadas, seguindo os protocolos sanitários. A regulamentação previa que sócios, administradores e responsáveis deveriam agir para manter o distanciamento mínimo e preservar a saúde de seus clientes e funcionários.

As barracas de praia e os restaurantes foram autorizados a funcionar das 7h às 18h, com público limitado a 50% de sua capacidade, dimensionada antes do retorno, o que não foi visto nesse feriadão. Além disso, os estabelecimentos devem dispor de equipamentos de proteção individual para colaboradores e álcool 70% para clientes e funcionários. O descumprimento do decreto acarreta em multa de R$ 10 mil na autuação e na renitência do infrator, pagamento diário de R$ 5 mil.

O G1 tentou contato com a Prefeitura de Jijoca de Jericoacoara, questionando as medidas adotadas para evitar as aglomerações e a falta de cuidados sanitários registrados no fim de semana, mas até a publicação desta matéria não houve resposta.

“O que se viu ali passa longe de qualquer plano seguro, responsável”, enfatiza Araújo. Na avaliação do especialista, houve falta de planejamento para a retomada do turismo em todo o Ceará. “Isso foi visto na Ibiapaba, no Maciço do Baturité, na Rota das Falésias”, acrescenta.

Ele também acredita que os maiores responsáveis são os próprios turistas. “É um acordo que tem que ser coletivo, comum. Para uma praia internacionalmente conhecida, as pessoas podem criar a imagem que os empreendedores do local não têm cuidado, mas não é isso. É o comportamento do próprio turista, que coloca em risco não só a população, mas os colaboradores. Não se encontrava um garçom, um dono de pousada, sem máscara, sem manter distanciamento, mas a grande parte dos visitantes não cumpriu”, pontua.

O presidente do Conselho Empresarial da Vila de Jericoacoara, Oswaldo Leal, diz que o temor causado pelo episódio se deu porque não se via tanta gente há muito tempo. “A ocupação dos hotéis ficou 100%? Que bom. O problema seria se ficasse 101%, porque teria gente sem ser atendida. Os turistas é que não respeitaram os protocolos. O atendimento das pousadas e restaurantes foi normal dentro das possibilidades. A exigência de uso de álcool em gel e máscara foi feita. O erro foi dos turistas”, completa.

O decreto municipal não impôs restrições à capacidade dos hotéis e pousadas, desde que cumprissem os protocolos. “O problema é que lida com público. A gente vê isso em Fortaleza, em Canoa Quebrada. Mas todos eles estavam com cuidados com colaboradores, mas pela própria cultura, sabiam da dificuldade. É um setor que foi afetado brutalmente. Eles dependem do fluxo de pessoas. A pessoa precisando vender, vai se desgastar com turista? Eles têm muito medo que venha uma segunda onda (de contaminação), que tenha que fechar de novo, porque eles vivem disso”, pondera Araújo.

Plano
Desde abril deste ano, o Sebrae elabora um plano de retomada do turismo para a Rota das Emoções, que inclui Ceará (Jericoacoara), Piauí (Delta do Parnaíba) e Maranhão (Lençóis Maranhenses). O processo está em construção, desde o fim de agosto, junto com a comunidade que trabalha a cultura sanitária e a promoção nacional do roteiro.

A articuladora do Sebrae, Suilany Teixeira, avalia ainda que o episódio serve de alerta para que o poder público tenha mais cuidado junto aos empreendedores.

“Eles passaram praticamente cinco meses parados, sem faturar nada. Houve uma pressão pela liberação e foi tudo de uma vez. Agora, precisa de avaliação, ponderação e restrições. Nem tudo tem que ser visto pela ótica negativa. Por isso, queremos implantar a cultura sanitária. A gente fala ‘cultura’, porque isso não deve ser uma coisa passageira”, completa.


Por Antonio Rodrigues, G1 CE

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