quinta-feira, 14 de maio de 2020

Ceará tem mais de 100 mortes em casa por Covid-19; 'Vi meu pai morto na minha cama', diz filha de vítima



Pelo menos 115 pessoas morreram dentro de casa em decorrência da Covid-19 no Ceará, até esta quarta-feira (13), segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Uma das vítimas foi o aposentado Eliton Banhos, de 74 anos, que morreu seis dias após sentir os primeiros sintomas do novo coronavírus. A designer Meg Banhos, 48 anos, que encontrou o pai sem vida na cama, diz que ir ao quarto dele "é como visitar um cemitério".

O Ceará registrou o recorde de mortes em um período de 24 horas, com outros 109 óbitos contabilizados desde esta quarta-feira. Agora, são mais de 1,3 mil pessoas que não resistiram à Covid-19, com mais 19 mil diagnósticos positivos para a doença.

Ao final de março, o estado registrava quatro óbitos domiciliares. Em abril, já eram 38, saltando para 45 no primeiro dia de maio. Até esta quarta, no entanto, a quantidade mais que dobrou, ultrapassando 100 óbitos em casa.

Para Keny Colares, infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), os fatores são múltiplos – mas evidenciam, principalmente, a sobrecarga dos sistemas de saúde público e privado.

“A doença tem sintomas muito variáveis, o que faz com que muitos não pensem que estão infectados, por não estarem com quadro gripal característico. Os idosos, principalmente, ficam indispostos, mais molinhos, mas a sintomatologia não fica clara. As pessoas também sabem que as unidades de saúde vão estar lotadas, têm medo de se contaminar no local, e acabam ficando em casa. Mas quando a doença piora, é rápida. Às vezes, não dá mais tempo socorrer”, pontua.

Para o pai de Meg, foi exatamente assim. Ao surgirem a tosse insistente e uma febre, os filhos e a esposa contataram médicos da família e o próprio TeleSaúde, da Sesa, para buscar orientações. Eliton era cardíaco e diabético.

“No terceiro dia (de sintomas), começou a diarreia. Ficamos mais preocupados ainda, mas, apesar disso, resolvemos esperar, porque ele não tinha falta de ar e os hospitais já estavam lotados. No quinto dia, ele teve uma boa melhora, só persistia a tosse. Já tava até brincando sobre o fim da quarentena. Mas no sexto, amanheceu morto”, relembra Meg.

“Ficou aquele silêncio dentro de casa, ninguém se falava. Até que chegou a funerária, voltei lá no corredor do quarto e disse ‘pai…?’, como quem pede ‘faz isso não, levanta!’. Eu, minha mãe, meu irmão, a gente não podia nem se abraçar pra se consolar”, relata a designer.


Por Theyse Viana, G1 CE

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