quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Estudo do Unicef aponta avanço de Fortaleza no combate às desigualdades sociais vividas por crianças e adolescentes

 


Redução da mortalidade neonatal, da gravidez precoce e a continuidade escolar de 3.500 estudantes estão entre os avanços apontados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no combate às desigualdades sociais vividas por crianças e adolescentes de Fortaleza, principalmente aqueles que moram em locais mais vulneráveis da capital. Os números foram extraídos da Plataforma dos Centros Urbanos 2017-2020 (PCU), iniciativa da Unicef, nessa quarta-feira (16).

Conforme os dados, no geral, em 2019, a capital cearense apresentou dados positivos quanto à redução do abandono escolar, na promoção de direitos sexuais e de direitos reprodutivos de adolescentes e nos cuidados com a primeira infância.

O relatório indica uma redução de 85% nas taxas de abandono escolar em 50 dos 51 bairros avaliados com as piores taxas. Neste número, somente o bairro Bom Futuro não progrediu.

O abandono também decaiu de 2,76%, em 2016, para 0,50%, em 2019, na avaliação do ensino fundamental da rede pública. Os dados evidenciam que 3.500 estudantes deixaram de abandonar a escola e 15 mil estudantes a menos tinham atraso escolar em 2019, se comparado a 2016.

Mesmo contra a vontade da doméstica Gleuciane Nunes, a filha de 15 anos largou os estudos após descobrir que estava grávida, em 2019. “A gente ainda insistiu para ela continuar, mas disse que não dava mais”.

Nos meses iniciais, a mãe pondera que a adolescente manteve a frequência assídua no colégio municipal onde era matriculada no 6º ano do Ensino Fundamental. “Ela ia, mas chegou um certo período que ela teve muita dificuldade porque sentia sonolência e dores nas costas por causa do peso da barriga”, detalha.

O retorno à escola, no bairro Canindezinho, só foi possível graças aos agentes de Busca Ativa da Secretaria Municipal da Educação (SME) que monitoram os alunos em situação de abandono escolar. “Ela estava meio desanimada, pensando muito nas dificuldades, mas eles incentivaram bastante, conversaram. Ela resolveu voltar e está dando tudo certo”, ressalta a mãe.

A redução no atraso escolar representa uma melhoria de 26% nos dados médios da cidade. Em relação à cobertura da pré-escola para crianças de 4 e 5 anos, houve aumento de 5%.

Até 2024, o Plano Nacional de Educação (PNE) prevê que 100% das crianças em idade pré-escolar, 4 e 5 anos, devem estar matriculadas. Em Fortaleza, a média atual é de 83%, enquanto a nacional está em 93,8%.


Primeira infância

Todo o território fortalezense apresentou reduções de mortes neonatais, que passou de 8,14 mortes por 1.000 nascidos vivos, em 2016, para 7,63 mortes por 1.000 nascidos vivos em 2019. O número significa 20 mortes a menos. Apesar do avanço notório, a capital não chegou a 6,48 mortes por 1.000 nascidos vivos, valor de referência da Plataforma dos Centros Urbanos.

Conforme o coordenador do Unicef no Ceará, Rui Aguiar, a redução nos indicadores de mortalidade neonatal e na proporção de nascidos vivos de mães adolescentes tem a ver com o "trabalho de melhoria dos serviços de puericultura" desenvolvido na capital.

"O acesso ao pré-natal e a integração dos serviços foram super importantes", pondera, complementando que a desigualdade territorial ainda é um dilema. As pessoas mais vulneráveis e que sofrem os impactos dos indicadores moram em comunidades vulneráveis. O desafio é investir nessas áreas onde os indicadores têm pior desempenho”, pontua.

No geral, 58 bairros fortalezenses apresentavam as maiores taxas de mortalidade neonatal, em 2016. Dentre eles, a Barra do Ceará, o Bom Jardim, Pici e Vicente Pinzón com maior volume de mortes durante quatro anos. No entanto, em 2019, conforme o relatório, a Barra do Ceará foi de 10,46 mortes para 7,80; Bom Jardim, de 8,14 para 1,94; Pici, de 23,31 para 9,43; e Vicente Pinzón, de 12,38 para 4,12.

Uma redução de 22% foi percebida no número de infectados pela sífilis congênita. Quando comparado os anos de 2016 e 2019, a cidade teve 167 registros a menos de recém-nascido com sífilis. No mesmo período, a taxa caiu de 20,74 para 16,02 por 1.000 nascidos vivos.


Direitos sexuais e reprodutivos

55 dos 58 bairros de Fortaleza com os maiores índices de gravidez precoce tiveram melhorias. A porcentagem de bebês nascidos com mães adolescentes, entre 10 a 19 anos, reduziu de 16% para 12,70% entre os anos avaliados. O dado traduz que mais de 1.000 meninas deixaram de engravidar prematuramente na cidade.


Homicídios

Segundo bairro com maior número de assassinatos em 2016, a Barra do Ceará reduziu significativamente a taxa de homicídios de adolescentes: passou de 65,97 para 19,59 por 100 mil habitantes. No entanto, o bairro Bom Jardim manteve quase a mesma taxa entre 2016 e 2019: foi de 167,87 mortes para 165,27 mortes por 100 mil habitantes no período, apresentando uma das maiores taxas da cidade no período.

Com relação à redução de homicídios de adolescentes, apontados no relatório, “estes números precisam ser analisados com cautela”, segundo Rui Aguiar.


Por G1 CE


Nenhum comentário:

Postar um comentário