quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Ceará registra a 4ª maior taxa de excesso de mortes naturais do País, em meio à pandemia

 No Ceará, o chamado excesso de mortalidade, que é a diferença entre os óbitos esperados e os observados, chegou a ser de 61% maior entre 15 de março e 4 de julho, em comparação com o mesmo período de 2019. Esta é a quarta maior taxa detectada no país. Somente Amazonas (95%), Roraima (76%) e Maranhão (67%) tiveram índices proporcionais maiores que o Ceará. 

Neste intervalo de tempo eram esperadas 15.843 mortes naturais no Estado, mas ocorreram 25.539 óbitos. Nem todas são atribuídas à Covid-19. A taxa foi dimensionada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) que criou uma ferramenta para monitorar o chamado excesso de mortalidade no Brasil. 

Série histórica

O painel com as estimativas lançado, este mês, pelo Conass considera a série histórica de óbitos no Brasil entre 2015 e 2019, com dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Neste cálculo foram excluídas as mortes por causas externas, como os acidentes e as violências. 

Com base nesses dados, foi estabelecida a expectativa do que poderia ser registrado de mortes em 2020. As informações do SIM são comparadas com as dos registros de mortes deste ano que constam no Portal de Transparência do Registro Civil, administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). 

Nessa comparação é aplicado um fator de correção. O ponto de partida do cálculo da ferramenta do Conass é o registro da primeira morte confirmada por Covid-19 no país (na semana epidemiológica 12). A última alteração na plataforma foi feita dia 11 de agosto e ela continuará sendo atualizada, segundo o Conass. 

No Ceará, o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciano Pamplona, explica que “o excesso de óbitos é ruim porque, em alguns casos, as pessoas morreram sem a gente ter um diagnóstico. Qual o grande desafio do SUS? É dizer porque as pessoas morrem. Porque se eu não sei de que morre minha população, eu não posso propor políticas públicas para priorizar isso”. 

Ele acrescenta que “o que a gente percebe é que além dos óbitos confirmados de Covid, se a gente pegar o mesmo período de anos anteriores, ainda teve mais óbitos que deveria ter tido. Isso chamamos de excesso de óbitos”. 

Brasil

A epidemiologista e consultora-sênior da organização global de saúde pública Vital Strategies, Fátima Marinho, diz que “todo ano você tem no Brasil, mais ou menos, 1.300.070 mortes, incluindo todas as causas, como homicídios, acidentes. Então todo ano a mortalidade aumenta um pouco porque as pessoas vão ficando mais velhas, têm uma redução nos grupos mais jovens, mas eu tenho uma mortalidade mais ou menos instável. Aquilo que se espera para o próximo ano. Mas, o que a gente observa agora é o excesso. Eu tenho mais mortes acima do que eu esperava para esse período”.

 

Ações

Conforme Fátima, é fundamental que a gestão pública tenha conhecimento desses dados pois, a partir deles, gestores podem planejar as ações de saúde de modo a “retomar a mortalidade para o nível esperado”. A epidemiologista também destaca que embora haja uma atribuição das mortes à Covid, não se pode perder o foco das outras doenças que matam.

 

Conforme o Conass, o acompanhamento desses indicadores é uma estratégia recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para que, em momentos de grandes epidemias ou pandemias, seja possível avaliar os efeitos diretos e indiretos da crise sanitária.

 

Conforme a epidemiologista, embora se suponha que a infecção por coronavírus seja a causa direta do excesso de mortalidade, há outras possibilidades como: aumento dos óbitos naturais provocados pela sobrecarga nos serviços de saúde, pela interrupção de tratamento de doenças crônicas ou até mesmo pela resistência de pacientes em buscar hospital durante a pandemia.

 

A coordenadora de Vigilância Epidemiológica e Prevenção da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Ricristhi Gonçalves, também reitera que mensurar esses dados é muito útil para a gestão pública. Segundo ela, sobretudo, em regiões nas quais a curva de óbitos não está parecida com a curva da Covid. Não é o caso do Ceará.

 

Além disso, reforça ela, é importante para as políticas de saúde, pois, se óbitos são monitorado, e tem um excesso, garante ela, “é preciso ver tudo o que está acontecendo em relação à atenção à saúde e se está havendo alguma falha nesse sentido”.


Por G1CE

 

 

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