segunda-feira, 26 de outubro de 2015

GUERRA PELO TRÁFICO DEIXA RASTRO DE MORTES EM FORTALEZA

A disputa por territórios comandados pelo tráfico de drogas tem se mostrado um dos maiores problemas na área da segurança pública em Fortaleza. Diversos bairros têm enfrentado verdadeiras guerras protagonizadas por confrontos entre facções criminosas adversárias, que desafiam o trabalho da Polícia e aterrorizam a população. Em uma das rivalidades mais sangrentas, a Polícia Civil registrou, em três meses de investigação, 25 assassinatos decorrentes de conflitos entre as gangues da ‘Cinquentinha’ e do ‘Tasso’, ambas com áreas de atuação em comunidades localizadas no Jardim das Oliveiras.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) aponta que os bairros que apresentam índices elevados de violência na Capital possuem histórico de envolvimento com o tráfico de entorpecentes.

“Temos notado que a maioria das mortes registradas na Grande Fortaleza envolve pessoas ligadas ao mundo do crime. Sem dúvidas, o tráfico está entre os principais fatores que ocasionam homicídios. Com isso, temos atuado intensamente para identificar os envolvidos, efetuar as prisões e reduzir ainda mais o índice de violência na cidade”, destacou o coronel Lauro Carlos de Araújo Prado, secretário-adjunto da SSPDS.

Os crimes nessas áreas, em sua maioria, são motivados por disputas entre quadrilhas rivais que buscam ampliar o território de atuação para o controle do tráfico de drogas. Durante os enfrentamentos, ocorrem represálias de uma parte à outra e, consequentemente, vinganças que culminam em homicídios.

Zona de conflito

No Jardim das Oliveiras, por exemplo, a guerra entre as duas facções criminosas teve início desta forma. Conforme o delegado George Monteiro, da Divisão de Homicídios de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, a rixa começou após dois homens serem assassinados, em novembro do ano passado, com mais de 20 tiros na cabeça.

As vítimas integravam a Gangue da Cinquentinha e teriam sido executadas por membros da quadrilha rival, denominada Gangue do Tasso. Com isso, segundo o delegado, os ânimos se acirraram e, em um curto intervalo de tempo, foram registrados pela DHPP mais de 20 assassinatos naquela localidade.

“Após investigação, identificamos que uma das vítimas do duplo homicídio era irmão de um dos líderes da Gangue da Cinquentinha. Ele foi executado dentro de um supermercado por integrantes do bando rival. No local, encontramos mais de 20 cápsulas deflagradas de pistola e fuzil, demonstrando o requinte de crueldade dos criminosos. Após as mortes, a quadrilha iniciou um período de vingança e executou um dos membros da Gangue do Tasso. A partir daí ocorreram mais mortes decorrentes desta rixa”,explicou.

No caso mais grave da disputa envolvendo as duas organizações criminosas, cinco pessoas foram assassinadas a tiros de pistolas em uma chacina nas proximidades do ‘Beco da Cinquentinha’, na manhã do último dia 30 de agosto. Um dos suspeitos de participar da chacina, identificado como Roberto Bruno Agostinho da Silva, foi preso dois dias após as execuções, no município de Cascavel. Uma das armas usadas foi apreendida.

Investigações da DHPP apontaram que o homem fazia parte da Gangue do Tasso e recebeu ajuda de outros comparsas da facção para cometer os homicídios. Conforme George Monteiro, o alvo principal era o homem apontado como chefe da Cinquentinha, identificado como Erivaldo Muniz Pereira, o ‘Malabin’, que conseguiu fugir.

“Naquele dia eles foram para matar o Malabin como represália pela morte de outro homem, conhecido como ‘Zé Bocão’, que era da comunidade do Tasso. Mas ele foi avisado antes e conseguiu fugir pelas ruas do bairro”, lembrou o delegado.

Prisões

Após a chacina, a Polícia Civil intensificou as ações no Jardim da Oliveiras e com as investigações chegou ao esconderijo usado por membros da Gangue da Cinquentinha. A DHPP, em conjunto com o 6º DP (Messejana), sob comando do delegado Osmar Berto, deflagrou uma operação naquele bairro. A ofensiva policial resultou nas prisões de Malabin e outros dois criminosos, identificados como Emerson de Sousa Ribas, conhecido por ‘Cara de Peixe’, e David Vieira da Silva, o ‘Neguinho’.

Eles foram autuados na DHPP pelos crimes de homicídio, tráfico de drogas, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo. Durante a ação, os policiais ainda apreenderam cinco armas de fogo, munição, três veículos e uma quantidade de cocaína.

“A quadrilha ficou acuada após a chacina e sabíamos que eles não iriam sair do bairro. Então, intensificamos nossas ações e chegamos até o esconderijo do grupo. Eles ainda tentaram fugir, mas fechamos o cerco e efetuamos as prisões dos líderes da facção criminosa”, destacou Monteiro, acrescentando que, após a prisão do trio, o bairro passou mais de 40 dias sem registrar nenhum homicídio.

Além de Malabin, Cara de Peixe e Neguinho, a Polícia já capturou outras 13 pessoas por envolvimento em crimes relacionados à disputa por territórios do tráfico de drogas no Jardim das Oliveiras. Mais de 15 armas, seis carros e cerca de 60 quilos de drogas também foram apreendidos nas ofensivas policiais.

A última prisão foi a de John Lennon de Sousa, conhecido como ‘Baixinho’, na última quarta-feira (21). Ele foi capturado com uma escopeta calibre 12, um veículo clonado e aproximadamente quatro quilos de entorpecentes. De acordo com o delegado Osmar Berto, o criminoso teria assumido o controle do narcotráfico na comunidade da Cinquentinha logo após a prisão de Malabin pela Polícia Civil.

“A investigação policial aponta que após a prisão de um chefe, geralmente, surge um sucessor para controlar o tráfico de drogas na mesma área. Especificamente na Gangue da Cinquentinha, o Baixinho que teria ficado no lugar do Malabin. Ele tentava assumir o controle naquela localidade e já teria participado do homicídio de um jovem chamado ‘Douglas’, na última semana. Então, após chegarmos ao seu nome, intensificamos as investigações e conseguimos efetuar a prisão”, reiterou Berto.

Foragidos

O trabalho investigativo da DHPP e do 6º DP concentra-se agora em tentar prender os líderes da Gangue do Tasso, que ainda estão foragidos. Dentre os principais criminosos estão Alexandre Alberto da Silva, o ‘Castor’, Robson Agostinho da Silva, Luan Brito da Silva e Hélio Maik Lima, o ‘Maikera’, apontado como chefe da facção.

O grupo é procurado pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e diversos homicídios. Outros integrantes da mesma quadrilha também já foram identificados.

“Já chegamos aos nomes de pelo menos seis envolvidos na denominada Gangue do Tasso. Inclusive, já identificamos o comandante do grupo, que foi chamado pelos próprios comparsas de Maikera. Eles têm envolvimento em diversos homicídios e teriam participado da chacina na Cinquentinha. Já conseguimos apreender armas usadas por eles, que serão periciadas e auxiliará na conclusão dos inquéritos. O objetivo é prender todos eles e acabar de vez com essa guerra que se instalou no Jardim das Oliveiras neste ano”, acrescentou o delegado da DHPP.

Outros bairros

Além do Jardim das Oliveiras, a Polícia tem monitorado outros bairros que também possuem registros de homicídios ligados ao conflito pelo tráfico de drogas. De acordo com o coronel Francisco Souto, do Comando de Policiamento da Capital (CPC), localidades como São Miguel, Jangurussu, Serviluz, Pirambu e Barra do Ceará possuem históricos de crimes motivados por disputas de territórios.

“Homicídios acontecem por vários motivos, mas nestes locais o tráfico está entre os principais. É uma preocupação da Polícia atuar nestas áreas para combater a criminalidade e dar segurança aos cidadãos”, enfatizou.

Para o sociólogo Luiz Fábio Paiva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), “o tráfico de drogas cria redes em torno de um mercado ilegal, em que a violência é um meio de resolução de conflitos”.
O pesquisador considera que esse cenário causa pânico na população. “Essas situações geram medo, sobretudo, porque acontecem sistematicamente na periferia, sem que o Estado consiga, efetivamente, quebrar com ciclos relativamente longos de assassinatos em bairros da cidade de Fortaleza”, considera.


Fonte: Diário do Nordeste

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