segunda-feira, 30 de maio de 2022

Retorno de fósseis da França ao Brasil deve impulsionar ciência e economia, avalia pesquisadora

 


"Algo a ser comemorado." Assim a pesquisadora e professora cearense Flaviana Jorge descreveu o retorno de fósseis cearenses contrabandeados até a França, anunciado nesta semana. As peças integrarão o acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, mantido pela Universidade Regional do Cariri (Urca) em Santana do Cariri, e têm rico valor para a ciência, a educação e a economia cearense, segundo a estudiosa.

O lote das peças foi apreendido em agosto de 2013, e o pedido para devolução foi realizado em 2019. Em cerimônia na última terça-feira (24), a entrega foi oficializada. Ao todo, 998 peças, consideradas emblemáticas do período por especialistas franceses, voltarão ao Ceará.

Conforme o procurador da República Rafael Rayol, do Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE), a carga ainda passará por processos aduaneiros antes de ser liberada. A previsão é de que os fósseis cheguem ao estado entre 20 e 30 dias após o anúncio de devolução da França, feito em 24 de maio.

No entanto, segundo o diretor do museu, Allysson Pontes, ainda não há data fechada para o recebimento dos itens. Os fósseis passarão por processo de seguro para serem transportados de avião de Paris para Fortaleza, e de caminhão da capital até o interior do estado.

Doutora em Geociências pela UFPE, Flaviana descreveu ao g1 o retorno das peças históricas como "muito importante", dado que os fósseis podem ajudar no crescimento da economia local e na descoberta de aspectos relativos ao futuro do planeta.

A partir dos fósseis, os pesquisadores conseguem entender a biota local — plantas, animais, toda a vida daquele meio, conforme Flaviana Jorge — e a relação dela com as mudanças climáticas. A informação sobre o contexto antigo pode, inclusive, relacionar-se com questões ambientais do presente e do futuro.

Segundo a cientista, que estuda a diversificação de plantas com flores e os incêndios de épocas remotas, uma hipótese que precisa ser muito testada é de que o fogo ajudou na dispersão dos vegetais floridos no Cretáceo, entre 65 a 145 milhões de anos atrás.

"Algumas dessas plantas, que eram rasteiras e pequenininhas, começaram a avançar e se distribuir", teoriza, pontuando que o estudo dos fósseis pode trazer novas informações sobre o que ocorreu na época.

Assim, os fósseis serviriam para descobrir, documentar e avaliar causas e fatores de influência em questões climáticas. "A gente precisa entender o que acontecia no passado. A partir desse momento, a gente consegue ter ideia do que pode vir a acontecer no local, numa região, numa parte do globo, o que pode gerar a ocorrência desse incêndio", explica.


Por Marcelo Monteiro, g1 CE


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