quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Ceará tem queda de 48% na realização de transplantes no 1º semestre de 2020



Os efeitos da pandemia do novo coronavírus afetaram o número de transplantes realizados no Ceará, com queda de 48,4% de janeiro a junho, como divulgado pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), nesta quarta-feira (12). Foram registrados 737 procedimentos no primeiro semestre do último ano e 380 transplantes em igual período de 2020.

Os transplantes renais tiveram a maior baixa durante a pandemia com o registro de 65 procedimentos no período. No primeiro semestre de 2019, foram 132 cirurgias do tipo - correspondente à 50,76% de redução. Além disso, os transplantes de córnea caíram 51%, coração 50%, medula óssea 46% e fígado 34,3%. Não foram feitos transplantes de pâncreas e de pulmão neste primeiro semestre.

Por meio do Relatório Brasileiro de Transplantes, a ABTO ressalta a queda acentuada dos procedimentos renais. “Com exceção dos estados da região Norte, que praticamente suspenderam os transplantes, os estados mais afetados foram Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Analisando por região, apenas a Centro-Oeste apresentou pequeno aumento (2,2%) e houve queda importante na Norte (74,4%) e Nordeste (46,1%) e menor na Sul (3,1%) e Sudeste (17,2%)”, detalha.

Os registros da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) mostram que nos primeiros seis meses deste ano foram feitos 396 transplantes no Estado, ante 762 no igual período do ano passado, com leve diferença da contabilização feita pela ABTO. Em nota, a Sesa relacionou a queda às restrições de captação de órgãos durante a pandemia.

“Por se tratar de uma doença infecciosa, as recomendações do Ministério da Saúde, conforme nota técnica, foram a suspensão da busca ativa e da captação para doação de tecidos em doador falecido por parada cardiorrespiratória e a realização de transplantes somente em situações de urgência, após investigação laboratorial confirmatória para SARS-CoV-2.”

Desde o início da pandemia, os casos de transplantes são analisados para dimensionar os riscos, como relata Eliana Barbosa, coordenadora da Central de Transplantes do Ceará. "Em abril e maio, que pra gente foram os meses com maior impacto por causa da Covid, não realizamos transplantes de coração, de pulmão e nem o transplante renal, mas mesmo nesses dois meses mais críticos, a gente realizou transplantes de figado e de córnea", pondera.

Eliana destaca que o Ceará foi o primeiro estado a examinar os doadores para o novo coronavírus como forma de garantir a segurança dos procedimentos.


Retomada

O Relatório de Transplantes também destaca o avanço diferenciado do novo coronavírus nas cidades brasileiras e, dessa forma, períodos críticos distintos impactam na regulação do número de transplantes.

“Embora o pico tenha ocorrido em algumas regiões, não houve, como em outros países, uma queda rápida nas taxas de transmissão e de morte em alguns estados, pressupondo a manutenção desse quadro por alguns meses, possivelmente, até o início da vacinação, talvez no final deste ano ou início do próximo”, acrescenta.

Com isso, os pacientes que necessitam de procedimentos como hemodiálise aumentam em número e, nos casos de comprometimento de órgãos vitais, há maior número de óbitos, como analisa o médico Huygens Garcia, presidente da ABTO.

No Ceará, agora na segunda quinzena de julho e a primeira quinzena de agosto, começou a haver o retorno das doações e, consequentemente, dos transplantes, mas outro fator que preocupa ainda é que nossa taxa de negação familiar é alta”, pondera. O dado mais recente, como ressalta, evidencia que 39% das famílias entrevistadas recusaram a doação de órgãos.


Por Lucas Falconery e Nícolas Paulino, G1 CE


Nenhum comentário:

Postar um comentário