quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Pesquisa com 46 macacos do Ceará analisa presença do coronavírus e outros agentes infecciosos

 


Uma pesquisa coordenada pela médica veterinária e doutoranda em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC), Naylê Francelino Holanda Duarte, deve investigar a presença do novo coronavírus em 46 macacos-prego do Ceará.

Originalmente, o estudo deveria apurar outros vírus capazes de transmitir doenças a humanos, como zika e febre amarela, mas o Sars-Cov-2 também foi incluído na lista.

As amostras foram colhidas em janeiro, mas as análises tiveram atraso por causa da pandemia. No mês passado, elas foram encaminhadas ao Instituto Evandro Chagas, no Pará, que atua nas áreas de ciências biológicas e medicina tropical. A previsão da pesquisadora é que os resultados sejam liberados até o fim deste ano.

A coleta foi realizada em parceria com a Secretaria da Saúde do Ceará e secretarias municipais de saúde do interior. De acordo com Naylê, os primatas costumam ser encontrados nas matas e criados em cativeiro, em áreas rurais.

“Aproveitamos para orientar essas pessoas sobre a legislação ambiental de proteção dos animais, principalmente dos silvestres; o risco de transmissão de zoonoses e o bem-estar do animal. As famílias ficam sensibilizadas, querem devolver, mas a gente não tem para onde levar. É um problema muito grave de saúde pública”, afirma.

A Secretaria da Saúde confirmou que, em janeiro, o Sars-Cov-2 já circulava no Ceará sem ser detectado pelas autoridades de saúde. Somente no dia 15 de março, o Estado divulgou oficialmente as primeiras ocorrências da doença. A médica veterinária, contudo, prefere não especular se o vírus será encontrado nas amostras colhidas naquele mês sem antes ter em mãos o resultado das análises.

No entanto, diz que nenhuma hipótese pode ser descartada. “No período de 2014 a 2016, a gente estava estudando o vírus da raiva em primatas não-humanos, no interior do Estado como um todo, quando conseguimos isolar o zika vírus em macacos”, lembra.

Para Naylê, o levantamento deve contribuir para “entender melhor a história natural da doença e saber que caminhos vamos seguir para fazer intervenções e evitar que mais pessoas morram”. A mãe dela faleceu por conta da doença, em maio.

“Quando a gente faz a pesquisa, é pra entender quem são os reservatórios naturais dos vírus, qual é a fonte de transmissão da doença, quem pode adoecer. No caso do Sars-Cov-2, a gente ainda não sabe como intervir, que ações vai desenvolver para proteger a população humana e também os animais”, destaca.


Por Nícolas Paulino, G1


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