segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Pesquisa Ibope revela que 18% dos cearenses nunca foram ao oftalmologista



Uma pesquisa virtual realizada em junho pelo Ibope Inteligência, um dos braços analíticos do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, constatou que dos 280 cearenses entrevistados, 18% nunca foram ao oftalmologista. O percentual do Ceará é o maior entre as sete unidades federativas que participaram do levantamento.

A quantidade de cearenses que nunca procurou atendimento especializado está à frente dos números do estado do Rio de Janeiro. Entre os 406 cariocas que responderam à pergunta “Com qual frequência você vai ao oftalmologista?”, 13% informaram nunca ter ido ao médico. Pernambuco e Santa Catarina aparecem em seguida, com 12% em cada. Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo fecham o ranking, todos com 9% de negativas para o mesmo questionamento.

As informações estão disponíveis no levantamento “Um olhar para o glaucoma no Brasil” que recolheu, por meio da internet, opinião pública sobre cuidados com a saúde ocular para prevenção do glaucoma. De acordo com o Ibope Inteligência, 2.732 brasileiros participaram da pesquisa.

Considerado Mês Mundial da Visão, outubro se mostra ainda mais importante para debater o assunto diante do dado, segundo o oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), Augusto Paranhos Junior. “Isso mostra um desconhecimento das doenças, além de uma falta de assistência. Um exame oftalmológico não é tão acessível assim, dependendo de cada lugar do País, como nos interiores”, afirma.

O oftalmologista ainda acrescenta que o cuidado com o olho precisa de mais atenção, pois “as doenças oftalmológicas não apresentam necessariamente sintomas. “O olhar está muito atrelado à qualidade de enxergar o olho. Achamos que só devemos procurar o médico quando não estamos enxergando, mas não é tão simples”, diz.


Diferença

No caso da comerciante Manuele Costa a procura imediata por um oftalmologista foi decisiva para o diagnóstico adequado de um trombo. “Em julho fui tomar banho e percebi quando acendi a luz que não enxergava direito do olho esquerdo. Isso foi na madrugada de um domingo. Na segunda, corri para fazer os exames e saber o que era. A médica disse que se eu tivesse demorado mais um pouquinho seria pior porque toda hora conta quando o assunto ‘é da vista’”.

Manuele recorreu a uma clínica particular em Fortaleza para um resultado rápido. “Queria logo que me dissessem o que estava acontecendo comigo”, explica. A experiência antes do atendimento, diz Manuele, foi um alerta para cuidar melhor de si. “Antes disso, era meio desleixada. Mas no dia da consulta o hospital estava lotado. Cheio de gente que esperou demais para ir para o médico e estava em uma situação bem ruim”, relembra.

Embora a procura por atendimento oftalmológico tenha sido “instintiva”, a comerciante confessa que a consulta realizada em julho foi apenas o segundo acompanhamento com especialista em 38 anos de vida. “Minha primeira consulta foi há 14 anos também por conta de um trombo. Eu sou portadora de lúpus e tenho que me cuidar mais. Agora prometi a minha família que vou de seis em seis meses para equilibrar a saúde”.


Glaucoma

Dentre as doença com as características mencionadas pelo especialista está o glaucoma. Conforme os resultados obtidos pelo Ibope, 42% da população cearense não sabe o que é a doença. “Existe uma célula que faz comunicação do olho com o cérebro chamada célula ganglionar da retina. Ela que morre no glaucoma. E para enxergar, tudo precisa estar funcionando bem no olho. Contudo, há mecanismos no nosso corpo que fazem com que a gente não perceba a perda dessa célula e consequentemente, não há sintomas aparentes do glaucoma”, esclarece Paranhos.

Segundo a pesquisa, mais da metade (55%) dos entrevistados do Ceará desconhece que a doença possui a maior probabilidade de um quadro de cegueira irreversível.

“Sem o conhecimento sobre a doença, o paciente deixa de saber também que o glaucoma causa cegueira e que os sintomas dessa doença podem não ser aparentes em casos leves iniciais até razoavelmente avançados. Até quando o paciente acha que é uma catarata pode ser um glaucoma avançado. Aqui é importante ressaltar que a célula não regenera, então no diagnóstico tardio não tem o que fazer a não ser preservar o pouco de visão que sobrou”, pontua.

Paranhos revela que alguns públicos são mais propensos ao glaucoma, como pessoas com casos na família, afrodescendentes e pacientes com pressão intraocular elevada.


Dados

A análise ainda registra que 33% dos entrevistaram acreditam que a visita ao oftalmologista deve ser frequente somente depois que começam a usar óculos e 13% consideram uma visita ao especialista anualmente somente quando têm alguma dor nos olhos. Já 12% não souberam responder quando deve se tornar frequente.

Sobre consultas, conforme Paranhos, toda criança precisa ir ao especialista desde o primeiro ano de vida. “Já na fase pré-escolar, precisa saber se tem alguma miopia. Se tudo estiver normal até a fase da adolescência, é necessário retorno apenas por queixa, dificuldade de enxergar em sala ou algo do tipo”, diz. Contudo, “ninguém pode passar dos 40 anos sem ir ao oftalmologista”.


Por Sabrina Souza e Cindy Damasceno, G1 CE


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