segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Rodovias estaduais do Ceará registram 32,6 mil multas a menos na pandemia

 


O número de multas aplicadas por agentes de trânsito ou aparelhos de fiscalização eletrônica nas rodovias estaduais do Ceará teve queda em relação ao ano passado, principalmente entre os meses de março e setembro, período pandêmico. O isolamento social, segundo especialistas, é o principal fator, mas quantidade de infrações ainda preocupa.

Entre março e setembro de 2020, foram contabilizadas 32.604 infrações a menos nas vias estaduais, em relação a 2019, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE) e da Polícia Rodoviária do Ceará (PRE). Neste ano, foram 411.663 multas, contra 444.267 no ano passado, “uma redução significativa”, segundo define Pablo Ximenes, superintendente adjunto do Detran/CE.

“Isso representa uma redução drástica nos acidentes de trânsito também, o que é uma consequência direta da diminuição da atividade econômica, das medidas de isolamento social. Não é algo que pode ser atribuído a uma medida específica de educação de trânsito, não, em nenhum canto do país, mesmo que, obviamente, tivéssemos equipes de fiscalização pra evitar a desordem”, salienta.

Se considerado o período desde janeiro, foram aplicadas, em 2020, 568.701 multas a condutores nas vias cearenses de gestão dos órgãos estaduais, 13.973 a menos do que nos mesmos nove meses do ano passado, quando 582.674 motoristas foram penalizados.

O comerciante Antônio Soares (nome fictício), 43, foi um dos penalizados: avançou o sinal vermelho quando voltava de uma praia do litoral leste cearense com a família, em julho. “Acho que passei quando estava do amarelo pro vermelho, ainda. Nem entendi por que pegou. Pode ter sido porque acelerei ao invés de reduzir”, reconhece.


‘Novo álcool’

Avançar o sinal vermelho foi, neste ano, a quinta infração mais cometida pelos condutores no Ceará, com 19.584 registros. A imprudência mais comum, em primeira e segunda posições, é o excesso de velocidade: 273.143 motoristas foram punidos por ultrapassarem a quilometragem máxima permitida em até 20%, e outros 46.436, entre 20% e 50%. Em terceiro e quarto lugares, somando 43.034 multas, estão as relacionadas à falta de documentos como transferência e licenciamento.

Para Pablo Ximenes, independentemente da pandemia, os números refletem apenas parte da preocupação dos órgãos de trânsito. “O excesso de velocidade transforma um erro simples de condução em uma situação fatal, o motorista não tem tempo de corrigi-lo quando está rápido demais. Mas a embriaguez também é gravíssima, porque acaba sendo um fator que impede a percepção e as habilidades”, avalia.

Outro fator “relativamente novo”, mas igualmente preocupante, segundo o superintendente, é a combinação entre celular e direção. “Esse é o novo álcool: a condução dispersa por conta do smartphone. Muita gente ainda usa o telefone dirigindo. Nos Estados Unidos, por exemplo, as campanhas contra envio de mensagens enquanto se dirige repercutem tanto quanto aquelas sobre alcoolemia. As pessoas não percebem, mas dirigir e dividir atenção com um aparelho que é feito pra roubar sua atenção é um risco grande de morte”, alerta.


Fluxo reduzido

O professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da Universidade Federal do Ceará (DET/UFC) e diretor na Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (Anpet), Flávio Cunto, reforça a relação entre a redução do número de multas aplicadas e a diminuição do fluxo de veículos nas vias, durante o isolamento social, mas destaca que a queda dos registros não implica numa maior segurança viária.

“Essas multas são decorrentes de ter menos veículos trafegando e menos exposições a situações de infração. Não quer dizer, em primeira análise, que temos um sistema de circulação mais seguro. Para que a gente pudesse entender se houve uma melhoria no comportamento do condutor, teria que cruzar com o número relativo à frota de veículos em circulação. É possível até que tenhamos tido um aumento relativo do número de multas, e não redução”, analisa Cunto.

Quanto ao perfil das infrações, o engenheiro de transportes reforça o excesso de velocidade como comportamento mais danoso à segurança viária e, em consequência, à saúde pública. “A energia do momento da colisão é diretamente proporcional ao quadrado da velocidade. O que hoje se busca no mundo inteiro para melhoria da segurança viária e redução de óbitos e vítimas gravemente feridas, que causam impacto social, pessoal e econômico grande no sistema, é a redução dessa energia. Se não puder evitar a colisão, que ocorra em energia baixa. Isso significa redução da velocidade”, conclui.


Por G1 CE


Nenhum comentário:

Postar um comentário