quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Tuberculose, meningite e paralisia: vacinação infantil contra doenças graves ainda está abaixo da meta no Ceará

 


A vacinação de crianças, contra formas graves de tuberculose e imunização de doenças como meningite e paralisação infantil, ainda está a cerca de 10 pontos percentuais de alcançar a cobertura vacinal desejável, como mostram os registros da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), com dados até setembro deste ano. A BCG, que deve atingir no mínimo 90% do público, está em 64%, a Pentavalente e da Poliomielite, ambas com cobertura de 95%, estão em 78,75% e 84,13%, respectivamente.

Os números evidenciam a necessidade de adesão e o cumprimento do calendário de vacinação para evitar doenças com potencial de comprometer a saúde de crianças. Até o fim do ano, a meta é alcançar o total de 255.594 crianças no estado.

Os bebês já podem sair da maternidade com vacina BCG, que protege contra formas graves de tuberculose e é aplicada em dose única. No ano passado, essa imunização ficou abaixo da meta de 90%, registrando 85,59%. Foi a primeira vez que o estado não alcançou a cobertura acima de 100% do público alvo nos últimos seis anos.

Carmem Osterno, coordenadora de Imunização da Sesa, explica que esses números podem estar relacionados com a logística de aplicação da vacina. “Hoje muitas maternidades ainda têm vacinação, mas outras não. É um dos problemas não ter mais a vacinação ao nascer. O segundo ponto é que nem todo município tem maternidade. Às vezes a criança nasce em um município vizinho. Se essa criança nascer sábado ou domingo, ela não é vacinada”.

São realizados agendamentos nos postos de saúde para atender esses casos, mas como observa a coordenadora, parte dos responsáveis não comparecem às unidades de saúde. Esse processo também é importante para evitar o desperdício de vacinas - já que quando se abre um frasco da BCG com 20 doses, a imunização só dura seis horas. “O frasco multidose da vacina tem esse tempo muito curto após aberto, faz com que a criança tenha que ser agendada para se vacinar em outro dia”, reforça Osterno.

Em 1988, como pontua a coordenadora, a cobertura vacinal contra as formas graves de tuberculose era de até 30%, porém com a oferta da imunização ainda na maternidade esse índice teve aumento relevante no estado.

Com informações sobre a relevância do procedimento, a fisioterapeuta Gabriela Lima Verde, de 31 anos, segue criteriosamente o calendário de vacinação do filho Davi Gabriel, de seis meses. “Eu desde o primeiro dia de vida dou as vacinas mensais bem direitinho, mas algumas vacinas não tem no posto e eu pago particular”, pondera. Para manter esse controle, ela vai aos postos de saúde em horário de menor movimento e observa os cuidados e atenção dos profissionais nos atendimentos.


Cumprimento do calendário

Vacinas como a Pentavalente, contra tétano, difteria, hepatite B, coqueluche e a bactéria Haemophilus influenza tipo B, que pode causar meningite e outros tipos de infecções, necessitam de várias doses para garantir a imunidade. Neste caso, três doses da vacina, uma aos dois, outra aos quatro meses e a última com seis meses do nascimento.

O índice dessa vacina caiu quase 20 pontos percentuais entre 2014, quando alcançou 98,92% da meta, e 2019, ao contemplar 79,46% das crianças monitoradas. Neste ano, a imunização está em 78,75%, quase o valor do total do ano passado, mas abaixo da meta de 95% de aplicações. Os repasses da imunização pelo Ministério da Saúde não seguiram o planejamento devido a reprovação do teste de qualidade feito no último ano.

A coordenadora de imunização da Sesa destaca que foram cinco meses sem receber doses da vacina Pentavalente no Ceará, mas que o cenário voltou ao adequado desde janeiro deste ano.

“Estamos tentando fazer com que todas essas crianças, que não completaram ainda um ano de idade, se vacinem o mais rápido possível para ficar ainda dentro do cálculo de um ano”.

Como forma de evitar a paralisia infantil, são necessárias três doses da Poliomielite Inativada (VIP), aos dois, quatro e seis meses de nascimento e a vacina Poliomielite Oral (VOP), aplicada aos 15 meses e aos quatro anos de idade. Ano passado, a meta de 95% não foi atingida no estado, também pela primeira vez nos últimos seis anos, quando o total foi de 92,64%. Até o fim de setembro deste ano, 84,13% do público recebeu a imunização.

Na capital, crianças menores de cinco anos também foram alvo da campanha do Dia D contra a poliomielite, além do sarampo, com a mobilização de 114 postos de saúde e 30 pontos de comércios e escolas, no dia 17 de outubro. As vacinas contra a pólio, em Fortaleza, atingiram 87% da meta até setembro deste ano, conforme a Secretaria da Saúde do Município (SMS).


E quando perde a vacina?

A médica pediatra e diretora de uma clínica de vacinação, Vanuza Chagas, explica que mesmo em caso de atraso ou falta de aplicação das doses de reforço, é possível regularizar o calendário. “Vacina dada fica guardada na memória imunológica, e em qualquer momento pode se aplicar a dose que está faltando, o mais rápido possível. Os calendários são feitos com base na idade adequada para a resposta imunológica melhor”.

“A gente vê que esses números [infecções] vêm aumentando, com maior circulação no país, e com essa queda vacinal o risco dessas doenças voltarem com força total, como aconteceu com o sarampo, de levar a óbito”.

Garantir a vacinação evita internações e complicações, como quadros de dificuldade respiratória ou mesmo morte, além da criação da imunidade de rebanho - quando uma criança vacinada não se infecta e nem transmite a doença para outras pessoas, fazendo com que uma localidade fique livre de infecções. “A gente tem que ficar alerta para as fake news, movimentos antivacinas, que ainda se propagam muito. A gente tem de dar segurança, no momento da vacinação, e divulgar fontes seguranças para prevenção de doenças”, conclui a especialista.


Por Lucas Falconery, G1 CE


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