quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Pandemia gera desistência em massa de alunos em cursos populares preparatórios para o Enem no Ceará



No Ceará, 325.706 pessoas se inscreveram em 2020 para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que, em decorrência da pandemia, no ano passado, teve as provas adiadas para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021 (versão impressa) e 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021 (versão digital). Mas, nos cursinhos populares de preparação para a prova no Ceará, cujo público são alunos de baixa renda, o número de desistências constatado ao longo do ano é alto. Com isso, estima-se que pode ocorrer uma redução no número de candidatos a prestarem o exame nos próximos dias.

Em Fortaleza, no bairro Benfica, as atividades Projeto Novo Vestibular (PNV), iniciativa da extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC) vinculado ao Departamento de História, tiveram que ser remodeladas. As aulas presenciais deram lugar às remotas. No cursinho popular, segundo a coordenadora articuladora e graduanda em História, Janaiane Maciel Soares, o público são alunos e egressos de escolas públicas. De acordo com ela, pessoas de baixa renda e de todas as idades. “Temos alunos idosos, pessoas que confiam no trabalho”, acrescenta.

De cada aluno é cobrado o material didático, cujo primeiro módulo custava R$140,00 em 2020. O valor deveria diminuir, no decorrer dos cinco módulos, até chegar a R$ 90,00. "Com a pandemia, nós ficamos mais vulneráveis porque não pudemos mais vender material. Passamos a trabalhar sem bolsa no segundo mês da pandemia. No PNV, a gente continuou com as turmas matriculadas no início do ano passado. Nos reorganizamos no modo intensivo e ficamos oferecendo material online sem custo”, conta Janaiane.

Mas ficou difícil manter os alunos. Dos 250 matriculados, hoje apenas 30 continuam acompanhando as atividades. Além disso, garantir a motivação dos professores foi outro dilema. Das 25 bolsas ofertadas antes para custear a remuneração dos professores, 24 eram pagas pelas atividades do PNV, e outra pela UFC. Na pandemia, o trabalho tem sido voluntário.

“É uma situação muito triste que, infelizmente, depois de vários e vários planejamentos, ainda não vemos um futuro muito certo pela frente. Na pandemia, fizemos uma campanha para poder tentar driblar os problemas financeiros. Essa ano, nós vamos precisar fazer mais campanhas”, Janaiane.

Apesar de discordarem da realização do Enem na data marcada, devido à alta do número de contaminações por Covid-19 no país, Janaiane garante que os integrantes do PNV seguem preparando os alunos para a prova.

“Mesmo que o ano já tenha acabado, o trabalho voluntário continua. O cursinho está com uma turma. Vamos fazer, apesar de não concordarmos com a realização, uma preparação que nossos alunos se sintam mais seguros. Tudo isso pesou muito tanto no psicológico, como na performance dos nossos professores e alunos”.



Por Thatyane Nascimento, G1 CE


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