sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Pesquisadores brasileiros descobrem nova espécie de lagostim na Antártica



Uma nova espécie de lagostim fóssil encontrada na Antártica foi descoberta por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca), em parceria com o Museu Nacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Contestado e Universidade Federal do Espírito Santo.

A peças foram coletadas na área denominada de Lachman Crags, em janeiro de 2016, na Ilha James Ross, em expedição de pesquisadores brasileiros. Algumas partes do animal estavam deslocadas do corpo, como uma porção da cabeça destacada do abdômen.

Após quase três anos de estudos, os pesquisadores classificaram-a como uma nova espécie: a Hoploparia echinata. A divulgação foi feita nesta quinta-feira (13), em coletiva virtual.


75 milhões de ano


Os fósseis foram levados ao laboratório do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da URCA, em Santana do Cariri, onde foi iniciado um trabalho para sua reconstrução. “Ao contrário dos outros estudos em que o fóssil é preparado, tivemos que usar a emissão de luz UV para destacar as partes do animal”, explicou o paleontólogo e diretor do museu, o professor Allysson Pinheiro, que liderou a pesquisa.

O animal viveu no Período Cretáceo, durante o Campaniano, há cerca de 75 milhões de anos. Sem representantes atuais, no seu grupo há outras 67 espécies já descritas, encontradas em bacias sedimentares de várias parte do mundo. Já no continente Antártico, até o momento, apenas três foram descritas, sendo esta espécie a primeira na Ilha James Ross.

O animal possuiu nos seus três primeiros pares de patas com grandes pinças, “chifres” cumpridos, tubérculos e espinhas nas patas. Os pesquisadores acreditam que esta espécie cavava tocas e era um predador de emboscadas. Com estas pinças, grandes e fortes, era capaz de capturar peixes.



As rochas onde foram encontrados os fósseis sugerem que ele vivia em ambientes marinhos rasos, com fundo arenoso. “Era um animal territorialista. Não deveria viver em grandes associações”, acredita Pinheiro.

Por causa destas características, fóssil foi classificado como Hoploparia echinata, do latim echinatus, que significa espinhoso, e se refere à característica das pernas e terceiros maxilípedes. Essa feição espinhosa é uma das principais características de distinção para as demais espécies de Hoploparia. A atribuição ao gênero se dá especialmente pela ornamentação do cefalotórax (carapaça), que possui um padrão de sulcos, espinhos e carenas bem definidos.

As peças continuam na região do Cariri, no Sul do Ceará, e serão enviadas ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde ficarão depositadas. A Urca e a UFRJ possuem uma colaboração de 20 anos em pesquisas na Bacia Sedimentar do Araripe e, agora, em projetos fora da região, através do projeto Paleoantar. “Se não fosse a participação da URCA, não conseguiríamos este trabalho”, reforça diretor do Museu Nacional/UFRJ, o paleontólogo Alexander Kellner.


Importância da descoberta

De acordo com o paleontólogo da Urca, o professor Álamo Feitosa, a descoberta desta espécie ajuda a remontar ambiente específico em que vivia, há cerca de 75 milhões de anos.
“A paleontologia é um quebra-cabeças e a gente entende a pluralidade de como era o ambiente marinho há cerca de 80 milhões de anos”, exaltou.

“São 70 dias de pesquisa, cerca de 42 dias no campo e, destes, consegue trabalhar apenas 22. A variação de temperatura fica entre -15ºC a 10ºC. Mas a maior dificuldade são os ventos. Não param nunca. É um esforço corporal grande”, ressalta Kellner.

O trabalho pôde ser realizado através do projeto Paleoantar, financiado pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar) e o CNPq, realizados há quatro décadas. Através de edital publicado a cada quatro anos, são selecionados allgumas pesquisas. “Uma concorrência extremamente grande. No último edital foram 100 projeto e apenas 20 selecionados”, conta Juliana Sayão, vice-coordenadora do projeto.


Por Antonio Rodrigues, G1 CE


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