segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Vídeo mostra rompimento de tubulação em barragem no Ceará e fuga de pessoas próximas



Moradores das proximidades da barragem do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) no município de Jati, no Sul do Ceará, não passaram por qualquer tipo de simulação de evacuação em caso de algum dano no empreendimento. A informação foi confirmada pelo supervisor regional da Defesa Civil do Estado, Francisco Brandão, que está acompanhando de perto o desenrolar das ações na cidade.

Uma tubulação da barragem rompeu no início da noite dessa sexta-feira (21) e causou pânico na população da cidade. O fato ocorreu um dia após a abertura da comporta de um canal que recebe água da transposição, evento que contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Regional (MDR), Rogério Marinho.



“A gente não tinha feito ainda o simulado. A população ainda não estava 100% preparada. O simulado é feito em conjunto e com a participação da comunidade, mas não tinha sido feito ainda em função dessa história toda (da pandemia), de alguma coisa que deixou de ser feita”, reconheceu Brandão.

Quando acontece algum tipo de problema na estrutura de uma barragem, é acionado o Plano de Ações Emergenciais (PAE), elaborado pela construtora que, no caso, é um consórcio gerenciado pela Agência Nacional de Águas (ANA). Em paralelo, a Defesa Civil do Estado deve fazer um plano de contingência acessório para caso algum problema possa ameaçar a vida da população. Contudo, esse documento ainda não foi finalizado.

“É um plano muito parecido com o PAE, que estava sendo elaborado e que não tinha sido terminado também. As coisas estavam caminhando juntas, estavam por ser terminadas ainda quando o desastre aconteceu. Na realidade, a gente evitou um desastre porque se essa barragem arromba, a coisa tinha sido muito pior”, avalia o supervisor da Defesa Civil estadual.

Por essas duas razões, segundo Brandão, "a população só estaria 'preparada' quando tivesse participado de algum simulado, seja do PAE ou do plano de contingência”.

Apesar disso, ele ressalta que a ANA elaborou rotas de fuga dentro do município de Jati e nas proximidades da barragem para que moradores pudessem seguir em caso de emergência.
Em nota, a ANA disse que “está em contato com o empreendedor e as autoridades locais e federais” e que "técnicos da Agência irão ao local".

O medo
"A população passou a noite em pânico", conta o cabeleireiro Valdir Alves, que mora na cidade. Conforme o comerciante, tudo estava normal até que uma senhora passou pelo centro do município gritando e dizendo que a barragem havia estourado, na sexta-feira.

"Aí deu aquela loucura, todo mundo correndo. Era uma aglomeração danada de pessoas. Já teve gente arrumando o que tinha de bolsas e saindo pra casa de parentes", narra o cabeleireiro. Cerca de 2 mil pessoas precisaram deixar suas residências após a tubulação romper. Não houve registro de feridos.

Foi “um momento de muita aflição” para a cidade, afirma a prefeita de Jati, Maria de Jesus Diniz.

“A gente sabe do tamanho da grandeza de ter uma barragem dessa, mas precisa dar tranquilidade e passar isso para o nosso povo. A gente quer dar segurança e trabalhar a parte psicológica, porque foi muito abalado”, disse.

Na visão de Francisco Brandão, “houve um processo de pânico porque as pessoas não estavam devidamente preparadas”. “A gente nunca evita o pânico 100%. O que ficou registrado é que a população, depois que recebeu a informação da Defesa Civil do Município e do Estado, que teria que ser feita a evacuação, foi feita. As defesas civis atuaram, o consórcio atuou muito e a população, inclusive, já voltou pras suas casas durante o dia”, informa.

O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), porém, afirmou que o retorno integral das duas mil famílias só deve ocorrer após a normalização da barragem. A previsão é que até terça-feira (25) a tubulação seja reparada.

Mesmo filme
Outro risco de rompimento de uma estrutura do Projeto São Francisco já havia sido detectado em 16 de agosto de 2018, na barragem de Negreiros, em Salgueiro (PE). Engenheiros detectaram um vazamento no local e logo pediram a retirada de 35 famílias que moravam nas proximidades.

De acordo com a líder da comunidade da Vila Produtiva Rural (VPR) Negreiros, Maria Auxiliadora Vasconcelos, aconteceu o mesmo que em Jati. “Para a gente aqui foi uma surpresa, porque ninguém estava preparado”, conta.

Apesar de reconhecer a assistência dada pelo Ministério, como hospedagem e alimentação aos moradores, ela diz que nunca houve um treinamento antes daquele susto. “Só aconteceu depois”, relembra.

Depois do episódio, uma sirene foi instalada no prédio da vila que, a qualquer risco, pode ser acionada. Além disso, técnicos deixaram uma área sinalizada para que os moradores corram e fiquem em segurança. “Tudo isso só foi após o alerta. Aquilo que vi em Jati nos vídeos foi como aconteceu aqui. Deu tempo só tirar os documentos”, afirma a líder.



Por Cadu Freitas e Antonio Rodrigues, G1 CE


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