sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Governo do Ceará faz pesquisa com alunos da rede pública sobre volta às aulas presenciais



Embora ainda não haja uma previsão para o retorno das aulas presenciais na rede pública do Ceará, há duas ações em curso que devem interferir significativamente nesta decisão. Uma delas, de acordo com a vice-governadora do estado, Izolda Cela, é a conclusão das vistorias nas estruturas dos prédios escolares da rede, que trará um diagnóstico de quais unidades estão aptas à volta às aulas. Outra é o resultado de uma pesquisa que está sendo feita com os estudantes e seus familiares.

O levantamento indaga sobre o desejo e a condição de retorno dos alunos. A projeção é de que as iniciativas sejam concluídas na próxima semana. Conforme Izolda, a avaliação do governo é que o recomeço das atividades presenciais na rede estadual, além de seguir o escalonamento de níveis e a restrição na quantidade de alunos por turma, como tem sido na rede particular, também não ocorrerá para todas as escolas públicas na mesma data.

Nesse processo, garante ela, será considerada a condição de cada unidade. Portanto, embora integrem a mesma rede de ensino, algumas escolas estaduais podem voltar e outras não, ou podem retornar em períodos distintos. A rede pública estadual inclui 728 escolas.

A necessidade de escalonamento, explica, é por conta da infraestrutura de cada escola, mas também em decorrência do perfil das equipes e dos servidores. Outra dimensão que faz com que o retorno não possa ser simultâneo é a condição de acesso dos alunos.

“Como os alunos chegam àquela unidade, que tipo de transporte eles precisam acessar. Precisamos saber, em casos de escolas que ficam em distritos em áreas rurais, esse transporte está existindo”, pondera. Para saber qual a condição de cada unidade, a Secretaria da Educação (Seduc) tem feito escuta de alunos e das famílias.

Essa captura de informações, de modo geral, tem sido realizada através de um sistema online da Seduc, chamado “Aluno Online”, conforme explica a vice-governadora. Porém, estudantes ouvidos pelo G1 disseram ter participado do levantamento por meio do contato com os professores via WhatsApp, com as mesmas questões indicadas por Izolda.

“Tem também a reunião dos conselhos escolares, que são formados pela representação dos diversos segmentos da comunidade escolar, que os conselhos também possam contribuir com essa reflexão. O que é definitivo é a Seduc poder prestar contas que aquela unidade tem condições de seguir os protocolos e a comunidade, os pais, desejarem a volta”, afirma.


Respostas

De acordo com a gestora, a pesquisa é realizada escola por escola e tanto os alunos, como os pais, respondem se querem o retorno e também se têm possibilidade de garanti-lo. Questionada sobre as respostas obtidas até o momento, Izolda afirma que o resultado ainda é parcial, mas “em várias escolas visitadas, eles (a comissão) se surpreenderam com o percentual alto que deseja voltar. Tem escolas com 70% de manifestação do desejo de retornar”, conta.

O estudante Geovane Rodrigues Xavier cursa o 3° ano do ensino médio na Escola de Ensino Médio e Fundamental (EEMF) Santo Amaro, no Bairro Bom Jardim, em Fortaleza, aguarda a definição sobre a data para a volta. “Minha professora falou comigo perguntando se eu ia poder participar das aulas, se tinha alguma doença crônica”, lembra sobre a consulta feita no dia 25 de setembro através de um aplicativo de mensagens.

Já para outra estudante, que preferiu não se identificar, do último ano na Escola Estadual de Ensino Profissionalizante (EEEP) Joaquim Nogueira, na Parquelândia, na capital, a resposta à consulta foi contrária ao retorno. “Tem pessoas de grupo de risco na minha casa e seria um perigo para elas e para mim”, explica. A jovem mora com idosos e portadores de doenças crônicas. No preparo para o Enem, ela relata a dificuldade para concentração e acesso a materiais de apoio, como cursos na internet, mas opta por permanecer em casa pelo receio de infecção pelo novo coronavírus.


Desfecho em espera

O Sindicato dos Professores e Servidores da Educação e Cultura do Estado e Municípios do Ceará (Apeoc), por sua vez, aguarda o desfecho de uma ação civil pública movida pela entidade, na qual é solicitado que as aulas presenciais permaneçam suspensas até o fim de 2020. A entidade alega também que nas inspeções escolares está sendo constatado que os prédios não têm estrutura adequada.

Conforme a presidente da seccional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) no Ceará, Luiza Aurélia Costa, a entidade e a Seduc elaboraram juntas “de forma plural, com todas as coordenadorias regionais de ensino, um documento, que é o guia de referência, diretrizes para elaboração do plano de retomada das atividades presenciais nas redes municipais de ensino”.

Ela ressalta que, no momento, os municípios já deliberaram junto com seus comitês o retorno ou não baseado, principalmente, nas condições sanitárias, e que, no Ceará, não há sinalização de nenhum município para retomar as aulas em 2020.


Por Thatiany Nascimento, Lucas Falconery e Barbara Câmara, G1 CE


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