quinta-feira, 12 de maio de 2022

Mãe diz que filha sofreu racismo em escola de Fortaleza; 'cabelo de arapuá'

 


Uma mãe denuncia que a filha, uma criança de 8 anos, foi vítima de racismo por conta do cabelo cacheado na escola onde ela estuda no Bairro Papicu, em Fortaleza. A mãe da criança disse ao g1 que a menina não queria mais ir à escola porque a professora tinha dito que ela tinha "cabelo de arapuá". O caso foi denunciado em um boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Criança e do Adolescente

Por meio de nota, a Casa Ronaldo Pereira, escola onde a menina estuda, diz que está apurando as informações. Diz também que "repudia todo e qualquer tipo de preconceito e que trabalha na formação de valores como respeito e paz. A direção da Casa se coloca à disposição e presta toda solidariedade à criança e sua família".

A mãe da criança disse ao g1 que a situação de ter a professora se referindo aos cabelos da filha aconteceu mais de uma vez. "A primeira vez que ela falou, semanas atrás, ela disse: 'mãe, a tia estava falando do meu cabelo, dizendo que o meu cabelo tá todo desarrumado, não tá mais arrumado como era antes, tá indo todo assanhado' [...] na semana seguinte, ela disse: 'seu cabelo está muito assanhado'".

A mãe também conta que a escola preparou uma apresentação para os alunos e que a professora disse que a menina não deveria ir "com o cabelo assanhado". "Ela disse: 'para você vir para a apresentação que vai ter, você peça a sua mãe para arrumar o seu cabelo. Eu não quero o seu cabelo assanhado aqui não'. [...] Ela chamou a minha filha de cabelo de arapuá", diz.

Em nota, a Polícia Civil informou que a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente investiga "uma possível prática de injúria racial contra uma criança por parte de uma educadora".

Após os episódios relatados pela filha, a mãe conversou com o marido e eles resolveram ir à escola para entender sobre o que estava acontecendo. A auxiliar de produção gravou uma conversa que teve com uma das diretoras. No áudio enviado ao g1, a gestora diz que ela mesmo pedia para que as crianças não fossem à escola "com cabelo de arapuca".

"A gente não fala, isso aí é todos nós, é o direcionamento que eu dou para todo mundo. A gente nunca fala específico. Eu vou confessar o meu pecado, uma deformação para a gente. O que aconteceu agora com a [nome da criança] vai ser formação não só para a tia, mas para mim também. Porque eu mesma as vezes quando vou dar um aviso, e eu conversei principalmente com as meninas da dança antes de ontem, explicando algumas palavras. Porque as vezes a gente diz uma coisa e a criança, por maior que seja, cada um tem um entendimento [...] eu falo muito assim: 'gente, não vamos vir para cá com cabelo de arapuca'. Eu falo arapuca porque era a forma como a minha mãe falava. E quando eu falo em arapuca, não é um cabelo enrolado, não é um cabelo preso, de jeito nenhum, é um cabelo assanhado", diz a diretora no áudio.


Menina cortou o próprio cabelo

Depois de ouvir várias vezes as pessoas na escola falarem sobre seu cabelo, a mãe da menina afirma que ela cortou o próprio cabelo. Em um vídeo, a garota aparece chorando, mostrando os fios cortados. Ela chega a dizer em um áudio enviado para uma amiga que "não aguenta mais" e que deseja alisar o cabelo.


Por Isayane Sampaio, g1 CE



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