segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Pedidos de auxílio ao INSS relacionados a doenças mentais aumentam 27,8% no Ceará em 2020



Enquanto seus efeitos predominam de forma interna, as doenças mentais já são suficientes para gerar estigmas. Quando os efeitos transpõem para o exterior, afetando rotinas de trabalho, a realidade se agrava. A busca por apoio é visível em registros do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que mostram que, no Ceará, a demanda por concessão de auxílios-doença, auxílio-acidente e aposentadoria por invalidez relacionadas a doenças mentais aumentou notavelmente em 2020.

O cnário até então indicava uma mudança discreta, mas positiva. Nos anos anteriores, a tendência era de ascensão na quantidade de pedidos de auxílio dessa natureza em 2018, o Ceará teve um total de 6.685 demandas. Já em 2019, o número baixou para 6.481. A alteração mais brusca, porém, se deu no ano seguinte, quando o INSS contabilizou 8.289 pedidos no Estado. Essa disparidade representa um aumento de aproximadamente 27,8%.

O motivo mais frequente entre as demandas feitas ao Instituto em 2020, no Ceará, foi o transtorno misto ansioso e depressivo, como é identificado na Classificação Internacional de Doenças (CID). Por essa causa, foram protocolados 668 pedidos por auxílio ou aposentadoria por invalidez.

No contexto da pandemia, é possível relacionar esse aumento aos efeitos sociais provocados pelo coronavírus, conforme descreve Fábio Gomes, psiquiatra do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).

''Um dos sintomas da depressão é a falta de esperança. A pessoa não acredita que o futuro vai ser melhor que o presente. Quando a pandemia veio, nós tínhamos um futuro totalmente incerto, não se sabia se iríamos continuar vivos. Então houve uma piora na saúde mental de todo mundo, não só no Brasil'', afirma.

O médico, que também é professor do departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça que talvez os efeitos sobre a saúde mental tenham sido menos severos entre a população de países onde o serviço público acolhe pacientes dessa ordem com uma estrutura melhor. ''Aqui, não. Obviamente, as equipes de profissionais dessa área fazem de tudo para que os pacientes tenham uma vida melhor, mas o número de trabalhadores é diminuto em relação à demanda atual da nossa sociedade'', ressalta.


Tratamento

Para pacientes nesse perfil, assim como em quaisquer outros âmbitos do tratamento em saúde mental, a primeira recomendação é buscar ajuda profissional – seja na área da Psiquiatria, Psicologia ou Clínica geral, de acordo com o psicólogo João Ilo Barbosa.

''Tem os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) em Fortaleza, que fazem um trabalho voltado pra esse tipo de problema. Claro, muito superlotados, tem espera, mas existe a possibilidade. O primeiro passo é esse, buscar auxílio profissional. E comunicar isso no trabalho'', reforça.

Para Fábio Gomes, detectar o transtorno e tratá-lo precocemente é um fator crucial para a boa recuperação do paciente. O mais importante é não esperar que a condição se agrave. Ele cita, ainda, as ''regras básicas de saúde mental'', que incluem praticar atividades físicas, ter uma alimentação adequada, evitar estresses desnecessários e procurar dormir bem.

''É preciso entender que ter um transtorno de ansiedade ou depressão não te torna melhor ou pior que as outras pessoas. Você tem uma doença que precisa ser encarada de frente. A pessoa deve saber que pode ter acesso ao sistema de saúde de forma precoce no processo de adoecimento dela. Quanto mais cedo tratar, melhor'', garante o psiquiatra.


Fonte: Diário do Nordeste


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