segunda-feira, 17 de maio de 2021

58 LGBTs foram assassinados no Ceará em 2020



Se Lindalva Vieira pudesse resumir a lembrança do melhor amigo em uma palavra seria Pavanelly, em alusão à famosa cantora de forró. O apelido escolhido por Francisco Rodrigues da Silva Júnior, de 32 anos, era um segredo compartilhado apenas entre os dois e a mãe do rapaz, Antônia da Silva. O maranhense havia chegado ao Ceará há apenas dez meses, quando sua vida foi brutalmente interrompida.

No dia 13 de janeiro de 2020, ele encontrou João Gabriel dos Santos Baia em uma praça no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza, e o levou para casa. O encontro foi regado a vinho e alguns psicoativos, segundo a polícia. Os dois até chegaram a se divertir durante algumas horas, mas os braços do outro tiraram de Júnior o ar e a vida. Ele o matou com um golpe de jiu-jitsu, chamado mata-leão, o qual havia aprendido em competições nacionais e internacionais. Tudo ocorreu por "desentendimento sexual".

"Eu não consigo entender por que alguém fez isso com ele. Uma pessoa tão boa que nem ele era e que tinha tudo pra vencer… Hoje, eu procuro lembrar de nossos momentos bons e eu peço a Deus que coloque a alma do meu amigo em um bom lugar, porque eu tenho certeza que ele merece”, lembra Lindalva, de quem era amiga há 15 anos.

Júnior é apenas uma das 58 vítimas LGTB que foram assassinadas em 2020 no Ceará. O número foi levantado exclusivamente pelo G1 durante todo o ano passado e confirmado com autoridades policiais, entidades representativas da comunidade, redes sociais, familiares ou processos judiciais. A proposta de fazer o levantamento surgiu a partir da ausência de dados que identifiquem como a violência atinge especificamente lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais no estado.


Por Cadu Freitas, G1 CE


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