quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Com crise global, contêineres que sumiram do Porto do Mucuripe valem o dobro, diz dono



O dono da empresa que detém a posse dos 12 contêineres que sumiram em área de zona alfandegada do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, afirmou que os objetos desaparecidos valem o dobro do valor anunciado anteriormente pela empresa que alugava os contêineres deles. Desta forma, conforme o empresário Clei Gilbertoni, o prejuízo saltaria de R$ 216 mil para R$ 432 mil.

A escassez de contêineres é provocada por uma crise global em decorrência do retorno das atividades comerciais após meses de paralisação em função da pandemia de Covid-19. A falta ocorre, principalmente, pela alta demanda nos grandes portos exportadores, como Ásia, Estados Unidos e a Europa, que atraem os armadores por serem mais rentáveis.

A Polícia Federal (PF) está investigando o desaparecimento de 12 contêineres com mercadorias em uma zona de alfândega no Porto do Mucuripe, em Fortaleza. Os materiais eram alugados pela empresa Hand Line Transportes Internacionais, de São Paulo, com a Realreefer, que detém a posse dos objetos. Os contêineres funcionavam para guarda de produtos que chegavam à alfândega do local.

A diretora da empresa, Juliana Borean de Medeiros, chegou a avaliar cada um dos objetos em R$ 18 mil, relativos ao contrato de aluguel que tem com a Realreefer. Contudo, Clei Gilbertoni afirmou ao g1 que o valor real de um contêiner similar custaria no mercado, atualmente, R$ 36 mil, em decorrência da crise global de escassez desses produtos.

Desta forma, o prejuízo à empresa pode chegar a R$ 432 mil. "Fiquei muito surpreso [com o desaparecimento]. Os valores do contrato não são aqueles; [cada contêiner] é no mínimo o dobro. É um valor que eu não conseguiria repor os contêineres", explica Gilbertoni.

Em nota, a Companhia Docas do Ceará (CDC), que administra o Porto do Mucuripe, afirmou que "solicitou a investigação do caso junto a Polícia Federal e por orientação as informações devem permanecer em sigilo para não atrapalhar o andamento do trabalho". A CDC disse que está colaborando com as investigações para que os fatos sejam esclarecidos em breve.

A Companhia, que era a fiel depositária dos contêineres, foi questionada se pretende indenizar as empresas pelos itens desaparecidos. Contudo, não respondeu ao questionamento.


'Eu nunca vi isso', diz dono de contêineres

Os proprietários das duas empresas, porém, insistem em querer saber o paradeiro dos contêineres. Clei Gilbertoni, da Realreefer, afirmou que desde que iniciou a trabalhar na área, foi a primeira vez que ouviu falar de algo desta magnitude.

"Eu nunca vi isso. Não tem palavras. Isso aí depõe até contra o nosso País, isso é um absurdo. Não acontece em nenhum porto do Brasil. [...] Fico abismado em saber que saíram 12 contêineres. Um tudo bem, mas 12? Não dá!" Tem que ser bem apurado mesmo, muito bem apurado com seriedade para evitar que isso ocorra com outras empresas", argumenta.

Apesar do sumiço dos contêineres, a Handline continua fazendo os pagamentos do aluguel à Realreefer. São pagos, mensalmente, ainda que os objetos não estejam mais sendo utilizados, cerca de R$ 5 mil.


Entenda o caso

A Polícia Federal (PF) está investigando o desaparecimento dos contêineres desde o dia 22 de setembro deste ano. A instituição disse, em nota, não comentar apurações que estão em andamento.

Os contêineres sumiram dentro de uma zona alfandegada, que é um local destinado às atividades da Receita Federal. Nela, ocorre fiscalização aduaneira, com a checagem de documentos e dados da carga importada. Um material só pode ser despachado e liberado em um porto após esse procedimento. A Receita Federal diz não ter liberado os contêineres e as mercadorias que eles guardavam.

Um ato declaratório da Receita Federal do Brasil, de julho de 2019, afirma que a Companhia é "fiel depositária das mercadorias sob sua guarda [do Porto do Mucuripe]".

A informação obtida pelo g1 é que as mercadorias que estavam dentro deles eram fruto de contrabando e estavam apreendidas no local. Os produtos seriam doados à Prefeitura de Fortaleza, mas, quando eles seriam retirados, nem os contêineres foram localizados.


Por Cadu Freitas, g1 CE


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