terça-feira, 8 de março de 2022

Cacique Pequena, a primeira mulher cacique reconhecida no Brasil



Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida como Cacique Pequena, é considerada a primeira mulher cacique do Brasil. O apelido, contudo, não dá conta do tamanho de suas realizações. Ela também é "guardiã da memória, mestre da cultura, doutora da mata e professora". É assim que se descreve.

De seus quase 77 anos de idade, 27 são dedicados ao comando e à orientação da tribo Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza.

Não há registros oficiais, e a Fundação Nacional do Índio (Funai), procurada pela reportagem, não se manifestou, mas Pequena é tida pela tradição como a pioneira entre as caciques mulheres do país desde a sua atuação na luta pela causa indígena nos anos 1990.

Uma de suas principais conquistas foi a demarcação da terra indígena do seu povo. O processo teve início há mais de 25 anos e está longe do fim - faltam ainda alguns procedimentos, como a desintrusão (retirada de ocupantes ilegais), até a aldeia receber a homologação definitiva, mas representa um grande feito.

"O máximo que eu desejava antes de eu ir embora, antes de o pai Tupã me levar, é ter a graça de ver o território do povo Jenipapo-Kanindé desintrusado, registrado, tudo preparado pros índios que ficarem, e eu ir feliz. É isso que eu desejo muito. Toda noite, eu peço a Deus", conta.

Para Rute Souza, da etnia Anacé e doutoranda em Ciências Sociais na Universidade de Salamanca, na Espanha, ter mulheres caciques é "uma representatividade muito forte no Brasil", uma vez que esse espaço era naturalmente ocupado por homens, reflexo da instituição do patriarcado no país.

"Só homem poderia ocupar esses espaços e, há um tempo atrás, com a cacique Pequena assumindo esse espaço, foi muito importante para nós mulheres mostrarmos que podemos estar onde quisermos. É algo muito simbólico ter a cacique Pequena nesse espaço, que vem contribuindo para outras mulheres ganharem voz", avalia a pesquisadora.

Segundo Braulina Baniwa, da Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), o movimento feminino dentro das etnias tem crescido bastante nos últimos dez anos e em espaços diferentes.

"Hoje, temos mais mulheres caciques coordenando territórios, várias coordenadoras em nível nacional que assumem papel muito importante na discussão do nosso povo. Temos mulheres universitárias, deputadas e temos anciãs que, dentro do território, trabalham nesse acolhimento, servindo como referência para essa nova geração de liderança", afirma.

O IBGE estimou, em 2020, que a população indígena no país era de 1.108.970 pessoas. Não há levantamento de quantas lideranças nas aldeias são mulheres. O censo demográfico de 2010 indicou que havia 422.068 (51,6%) homens indígenas e 395.895 mulheres indígenas.



Por Cadu Freitas, g1 CE


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