sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Jovem que tirou selfie sob escombros de edifício em Fortaleza ainda mora de favor dois anos após tragédia

 


O estudante de arquitetura Davi Sampaio, que enviou uma selfie aos familiares enquanto estava preso sob os escombros do Edifício Andrea, em Fortaleza, ainda está morando de favor com os pais em uma casa cedida pela tia, dois anos após a tragédia. O dinheiro pago pela Prefeitura de Fortaleza como indenização pela desapropriação do prédio está bloqueado pela Justiça cearense.

Nesta sexta-feira (15), o desabamento do Edifício Andrea completa dois anos. Nove pessoas morreram e sete foram resgatadas com vida dos escombros. Até o momento, os engenheiros e o pedreiro, que faziam obras de correção no condomínio e foram apontados em inquérito policial como responsáveis pela queda, não foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).

Em nota, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou que a indenização ainda não foi paga aos afetados pelo desabamento "em razão da necessidade de aferir o valor que pertence a cada proprietário, de forma proporcional". Segundo o órgão, o processo tem uma grande quantidade de requerentes que estão em diversas situações.

Além disso, também falta localizar o domicílio de alguns condôminos, conforme o Tribunal. "O processo está em análise e está sendo dado o devido andamento processual com a maior celeridade possível", garantiu.

A Prefeitura de Fortaleza informou que não há mais nenhuma pendência com relação ao pagamento da indenização relativa à desapropriação do Edifício Andrea. Foram pagos, ainda na gestão do então prefeito Roberto Cláudio (PDT), R$ 1.785.000,00 a título de indenização. O processo foi aberto em agosto de 2020 pelo então procurador do município, Arão Bezerra Andrade.

"Nós continuamos morando de favor num imóvel da irmã da minha mãe, que nos abrigou nesse momento tão difícil da nossa vida. Sou muito grato a ela por toda a ajuda porque, sem isso, não consigo imaginar como estaríamos tentando correr atrás do nosso prejuízo que, felizmente, foi apenas material. Teve outras famílias que perderam entes, além dos bens materiais, porque todo mundo ali perdeu tudo", ressalta o jovem.

Davi confirma a informação da Prefeitura de que o dinheiro está depositado em uma conta, mas que ainda não foi liberado pela 12ª Vara da Fazenda Pública de Fortaleza. Ele apela para que o valor seja desbloqueado o quanto antes e, assim, a família possa adquirir um imóvel.

"Por algum motivo, o juiz não libera esse dinheiro, que é um valor bem abaixo do que o nosso apartamento valia. A gente já está num prejuízo imenso por tudo que aconteceu e por estar recebendo uma quantia abaixo do valor que o imóvel valia", acrescentou.


Caixa cobrou financiamento de imóvel que desabou

Não bastasse a demora na liberação dos recursos da indenização do prédio, Davi conta que a Caixa Econômica Federal ainda cobrou o restante do financiamento do apartamento da família, que veio abaixo no desabamento.

"Meus pais estão com nome no Serasa por ausência de finalização do débito do financiamento, o que deveria ter sido cortado porque a gente não tinha mais o imóvel. É nada mais justo que a gente não faça mais o pagamento de um imóvel que não existe mais", considera.

A Caixa Econômica Federal se limitou a dizer, em nota, que as cobranças do financiamento do apartamento da família e as inclusões em órgãos de proteção ao crédito "serão suspensas até a finalização da ação judicial" do desabamento do Edifício Andrea.

Além disso, o pagamento do seguro que os pais de Davi tinham no banco para garantir os bens materiais que estavam dentro do apartamento da família foi negado pela Caixa Seguradora. Segundo o jovem, o banco argumentou que o prédio estava em condições insalubres. "O que não é uma verdade, eles estão alegando uma mentira", diz.

Em nota, a Caixa Seguradora informou que "o sinistro foi negado por ausência de risco coberto". O órgão elencou uma série de aspectos que o levou a negar o seguro, tais como a falta de conservação do edifício, aliada ao uso e desgaste, bem como a execução de uma "obra de recuperação estrutural sem técnica adequada às boas práticas da engenharia".


Por Cadu Freitas, g1 CE


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